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Estado de Minas WASHINGTON

Vinte anos ap�s 11/9, EUA se mostram vulner�veis e afetam ordem mundial


25/08/2021 12:56

Um trov�o em um c�u que parecia apenas azul. No dia 11 de setembro de 2001, ataques antes impens�veis atingiram os Estados Unidos, pa�s que se acreditava intoc�vel depois de vencer a Guerra Fria, e destru�ram a ilus�o de futuro pac�fico.

Quando os atentados da rede terrorista Al-Qaeda mataram quase 3.000 pessoas, os Estados Unidos, e o mundo, entraram em uma "guerra contra o terrorismo" que dominaria as rela��es internacionais por duas d�cadas, alterando de forma duradoura o equil�brio no Oriente M�dio e mascarando o ressurgimento da R�ssia como rival estrat�gico e o surgimento da China como o novo advers�rio n�mero um.

"Hoje chegamos ao final de um ciclo estrat�gico e encerramos um intervalo, no qual o jihadismo internacional era o �nico inimigo identificado", declarou � AFP Elie Tenenbaum, coautor do livro "A guerra de 20 anos".

De acordo com este pesquisador do Instituto Franc�s de Rela��es Internacionais (IFRI), "a concorr�ncia estrat�gica entre grandes pot�ncias volta a ser o paradigma internacional, com o surgimento de outras quest�es que relativizam a amea�a terrorista", come�ando por um confronto com ares de nova guerra fria entre Washington e Pequim.

- C�rculo completo? -

E, para mostrar que finalmente o c�rculo se completou, Joe Biden queria que o 20� anivers�rio coincidisse com a retirada total das tropas americanas do Afeganist�o. O pa�s foi invadido pela coaliz�o liderada pelos EUA ap�s os ataques �s Torres G�meas e ao Pent�gono para iniciar a ca�ada � Al-Qaeda, que executou os atentados, e expulsar os talib�s, grupo que havia oferecido um santu�rio � rede extremista.

Agora, o s�mbolo se voltou contra o presidente dos Estados Unidos: �s v�speras do 11 de setembro de 2021, os talib�s voltaram a controlar Cabul, depois de uma vit�ria rel�mpago sobre o Ex�rcito afeg�o que Washington se gabava de ter formado, financiado e equipado.

"Se o c�rculo parece estar bem e verdadeiramente fechado �, lamentavelmente, porque esta parte do mundo corre o risco de abrigar mais uma vez extremistas muito violentos", critica Mark Green, congressista republicano na �poca dos ataques e atualmente presidente do "think tank" Wilson Center, de Washington.

Este ex-diretor da Ag�ncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em ingl�s) est� entre os que pensam que teria sido razo�vel deixar no Afeganist�o os 2.500 soldados americanos que ainda estavam no pa�s no in�cio do ano. Com isso, acreditam, seria poss�vel preservar tanto as conquistas como os direitos das mulheres, que foram brutalmente castigadas pelos talib�s em seu governo anterior.

- "Ap�lice de seguro" -

Por outros motivos, estritamente vinculados � luta contra o terrorismo, John Bolton, ex-embaixador americano na ONU, est� irritado com os sucessivos presidentes de seu pa�s.

Os democratas Biden e Barack Obama, mas tamb�m o republicano Donald Trump, de quem foi conselheiro de Seguran�a Nacional por pouco tempo, estavam muito ansiosos, na sua vis�o, para atender o desejo de uma opini�o p�blica cansada das "guerras sem fim dos Estados Unidos".

"Vinte anos � uma gota no oceano", afirma, com o estilo provocador que o caracteriza, este soberanista que h� anos defende o intervencionismo norte-americano.

"N�o explicaram por que � melhor se defender do risco de terrorismo no Afeganist�o do que nas ruas e no c�u dos Estados Unidos", disse � AFP.

Para Bolton, a presen�a no Afeganist�o era uma "ap�lice de seguro contra um novo 11 de Setembro, e funcionou".

Agora, o retorno dos talib�s amea�a oferecer novos santu�rios ao jihadismo, adverte.

De maneira contr�ria, Trump, que foi o primeiro a falar em retirada, e depois Biden, mas tamb�m grande parte dos l�deres pol�ticos americanos, apostaram que o renascimento de um regime islamita em Cabul n�o � uma amea�a vital para os Estados Unidos, e que permanecer teria um custo pol�tico mais elevado do que partir do pa�s.

- Sensa��o de poder -

A brusca sa�da do Afeganist�o reaviva o debate sobre o controverso legado dos conflitos iniciados pelos americanos a milhares de quil�metros de casa em nome da sagrada "seguran�a nacional".

"Guerra contra o terrorismo" foi a express�o anunciada pelo ent�o presidente George W. Bush durante a noite de 11 de setembro de 2001.

Era tempo de unanimidade. Com quase 3.000 mortos em casa, os Estados Unidos estavam impactados como nunca desde o ataque a Pearl Harbor em 1941, e o pa�s precisava contra-atacar.

Naquele ano de 2001, o mundo entrou no novo mil�nio. Tanto mais abruptamente quanto uma d�cada terminava, a de 1990, durante a qual os Estados Unidos adquiriram o status um tanto enganoso de superpot�ncia.

A queda da Uni�o Sovi�tica e a Guerra do Golfo, seguida da ades�o da China � Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC), estabeleceram a ideia de uma supremacia ideol�gica e militar dos Estados Unidos.

O intelectual americano Francis Fukuyama chegou a mencionar o "fim da hist�ria", o que representaria a vit�ria da democracia liberal.

Para Andrew Bacevich, presidente do Quincy Institute for Responsible Statecraft, grupo que defende a modera��o na pol�tica externa, esta "arrog�ncia ideol�gica e a cren�a em que as for�as americanas eram invenc�veis" tiveram consequ�ncia.

Levaram W. Bush e os que o cercaram "a considerarem o n�o apenas como um tapa imperdo�vel, mas tamb�m como uma oportunidade para demonstrar, sem sombra de d�vidas", o suposto superpoder americano, disse.

- "Conosco ou com os terroristas" -

Cercado de neoconservadores intervencionistas decididos a promover o modelo democr�tico em todo planeta, o presidente republicano apresentava uma defini��o muito ampla de sua "guerra contra o terrorismo".

"Ou est� conosco ou est� com os terroristas", resumia "W", que anunciou uma "longa campanha sem precedentes contra todos os regimes que apoiam o terrorismo".

Em janeiro de 2002, quando os talib�s haviam sido derrubados, e a Al-Qaeda j� havia havia sofrido derrotas consider�veis, W. Bush anunciou um "eixo do mal", muito distante do objetivo inicial, integrado por Ir�, Iraque e Coreia do Norte.

Acreditando que ainda desfrutava da simpatia global que se manifestou ap�s os ataques de seu governo embarcou em uma perigosa marcha para a guerra no Iraque, ao acusar Saddam Hussein, sem provas, de esconder armas de destrui��o em massa.

Mas ele se enganou: "A unanimidade se desgastou muito rapidamente, e a imagem dos Estados Unidos n�o para de cair", destacou Tenenbaum.

A invas�o do Iraque, em 2003, esbarra na rejei��o de boa parte da opini�o p�blica internacional e "vai ressuscitar ideologicamente o jihadismo internacional que, de fato, estava bastante enfraquecido depois de 2001", relata.

Uma nova gera��o de jihadistas emergiu, formada por jovens da regi�o, mas tamb�m por ocidentais, que pretendiam enfrentar as "for�as de ocupa��o" ap�s a queda de Saddam.

Dez anos depois, a sa�da dos americanos deixou um vazio que favoreceu o surgimento do grupo extremista Estado Isl�mico (EI) e seu "califado" entre o Iraque e a S�ria. E Washington se viu obrigado a retornar, em 2014, liderando uma coaliz�o militar internacional.

- Imagem arranhada -

O balan�o da guerra contra o terrorismo � misto, para dizer o m�nimo.

Mais de 800.000 pessoas morreram, com um pre�o elevado pago por civis iraquianos e afeg�os, a um custo superior a US$ 6,4 trilh�es para os Estados Unidos, segundo um estudo publicado no fim de 2019 pela Universidade de Brown.

N�o aconteceu um novo 11 de setembro, mas os ataques do EI deixaram a Europa de luto, e a amea�a terrorista persiste, embora mais difusa e descentralizada. Atualmente, h� duas ou tr�s vezes mais jihadistas em todo mundo do que em 2001, segundo uma estimativa citada por Tenenbaum.

A imagem dos Estados Unidos est� arranhada. O uso da tortura, a abertura da pris�o de Guant�namo, em Cuba, para privar os acusados das prote��es constitucionais americanas, ou a banaliza��o das "elimina��es seletivas" por drones no exterior deixaram a principal pot�ncia mundial � margem do Estado de direito.

A observa��o de Marsin Alshamary, especialista em Oriente M�dio radicada em Bagd�, � amarga: "A popula��o da regi�o � jovem e conhece apenas estes Estados Unidos". N�o se recordam do 11 de setembro de 2001.

A professora visitante da Harvard Kennedy School acrescenta, por�m, que "o provocou duas guerras que mudar�o para sempre o equil�brio de poder na regi�o".

O enfraquecimento do Iraque fortaleceu, paradoxalmente, o "poder regional do Ir�", o grande inimigo dos Estados Unidos, "empurrando a Ar�bia Saudita a reagir em uma concorr�ncia com efeitos desastrosos", afirma, em refer�ncia ao conflito indireto entre os dois pa�ses no I�men.

- China, "desafio" do s�culo -

Um certo consenso existe hoje: a guerra contra o terrorismo se desviou da meta inicial.

Embora no in�cio tenha permitido a redu��o da amea�a, o Ocidente n�o conseguiu "administrar a fase de estabiliza��o dos pa�ses, provocando um cansa�o pol�tico ante as guerras", opina Tenenbaum.

At� mesmo Bolton, que n�o compartilha o plano de exportar a democracia � for�a, critica o desejo de "construir na��es" a qualquer custo, em vez de se buscar os objetivos mais simples da lucha contra o terrorismo.

Para justificar a retirada do Afeganist�o, Biden argumenta que os Estados Unidos devem reservar for�as e recursos para enfrentar seus "rivais estrat�gicos reais: China e R�ssia".

Pequim, e n�o mais o terrorismo, � o que o governo Biden considera o "maior desafio geopol�tico do s�culo XXI", assim como a maioria dos pol�ticos, diplomatas e intelectuais americanos.

Para Bacevich, tudo caminha para "uma nova Guerra Fria com a China".

"� realmente uma mudan�a para um novo cen�rio, em que se retomar� o esfor�o para preservar, ou restaurar, a primazia americana e onde o problema ser� definido mais uma vez em termos militares", conclui.


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