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Estado de Minas INTERNACIONAL

Zappos: o tr�gico fim do criador da 'empresa mais feliz do mundo'

Tony Hsieh, falecido em 2020, fundou a bem-sucedida Zappos nos Estados Unidos, pela qual � lembrado como um vision�rio e um raro empres�rio


01/09/2021 22:09 - atualizado 01/09/2021 22:09

Tony Hsieh não queria apenas ser rico, mas também ser feliz
Tony Hsieh n�o queria apenas ser rico, mas tamb�m ser feliz (foto: Getty Images)
Um jovem empres�rio construiu a "empresa mais feliz do mundo" — uma loja online de varejo de cal�ados t�o lucrativa que a Amazon a comprou em 2009 por mais de US$ 1 bilh�o.

 

Anos depois, o fundador da empresa fez uma pergunta: e se os lucros e a felicidade do neg�cio fossem criados por uma reinven��o radical do local de trabalho? Sem chefes, sem t�tulos, apenas criatividade, igualdade e pura alegria.

 

Foi tudo s� uma utopia? Talvez. Mas essa era a ideia de Tony Hsieh, um vision�rio que morreu tragicamente em 2020, mas que anos antes havia eliminado as hierarquias em sua empresa de cal�ados com sede em Las Vegas e tentou reinventar a ideia de "empresa feliz".

Matthew Syed, escritor e apresentador da BBC, contou a hist�ria desse empres�rio para o programa Business Daily do Servi�o Mundial da BBC.

Quem foi Tony Hsieh

O sonho de inf�ncia de Hsieh era simples: ser rico.

Ele nasceu em Illinois, nos EUA, em 1973, de uma fam�lia de imigrantes taiwaneses.


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(foto: Getty Images)

Seus pais incutiram nele valores como o de trabalhar duro, algo comum entre as crian�as asi�ticas dos anos 70.

 

Como resultado, ele trabalhava duro, tirava as melhores notas, tocava v�rios instrumentos musicais e assistia apenas a uma hora de televis�o por semana.

 

O plano de sua fam�lia era que ele seguisse uma carreira respeit�vel em um escrit�rio, mas o regime r�gido de sua juventude o deixou com vontade de viver com mais liberdade. Ent�o ele decidiu que dinheiro seria a maneira de conquistar essa liberdade.

 

Depois de se formar em Harvard em 1995, Hsieh foi cofundador de uma empresa de software chamada LinkExchange.

 

Em menos de dois anos, ele vendeu sua empresa para a Microsoft por US$ 265 milh�es. Aos 24 anos, Hsieh havia realizado seu sonho de inf�ncia.

Mas ele n�o vendeu a empresa apenas pelo dinheiro.

 

"O que muitas pessoas n�o sabem � o verdadeiro motivo pelo qual vendemos a empresa. O verdadeiro motivo foi simplesmente que n�o era mais um lugar divertido para se trabalhar", disse Hsieh anos depois.


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(foto: Getty Images)

 

Quando a LinkExchange nasceu, a companhia era administrada por Hsieh e seus amigos com 20 e poucos anos, que haviam dedicado suas vidas � empresa.

 

"Trabalh�vamos o dia todo, dorm�amos embaixo da mesa, n�o sab�amos que horas eram, tent�vamos nos lembrar de tomar banho de vez em quando", disse Hsieh.

 

Conforme a empresa crescia, Hsieh enfrentou um problema: ele n�o tinha mais amigos para contratar. Ent�o, ele veiculou an�ncios e contratou pessoas com as habilidades e a experi�ncia certas.

Desencantamento

Mas algum tempo depois, Hsieh percebeu que essa decis�o havia sido um erro grave.

 

Ao trazer novas pessoas para sua empresa, voc� precisa introduzir hierarquias. Os l�deres precisam impor suas ideias para garantir que todos estejam alinhados.

 

Mas Hsieh n�o gostava de dizer �s pessoas o que fazer. Ele gostava da ideia de pessoas agindo de acordo com suas pr�prias cren�as, reunindo-se em torno de uma vis�o comum.

 

"Quando chegamos a 100 pessoas, eu mesmo n�o queria sair da cama de manh� para ir para o escrit�rio e foi uma sensa��o estranha, porque era uma empresa que eu tinha cofundado, e se eu me sentia dessa forma, eu me perguntava como os outros trabalhadores se sentiam", disse Hsieh.

 

Quando o empres�rio ficou desencantado com sua pr�pria empresa, ele aprendeu uma li��o fundamental.

 

Ele n�o precisava apenas de dinheiro para viver. Eu tamb�m queria ser feliz.

A empresa mais feliz do mundo

Com essa ideia aparentemente simples, Hsieh usou o dinheiro da venda da LinkExchange para financiar seu pr�ximo projeto: Zappos, uma loja online de varejo de cal�ados.

 

Hsieh planejava fazer com os sapatos o que a Amazon fazia com os livros. A Zappos era uma oportunidade de trazer felicidade a todos na empresa.


A Zappos foi um sucesso de vendas
A Zappos foi um sucesso de vendas (foto: Getty Images)

 

"Quando vim para a Zappos, me perguntava como algu�m conseguia terminar suas tarefas naquele ambiente", lembra Alexis Gonzales-Black, que trabalhou na empresa por tr�s anos.

 

"Eu me perguntava o que estava acontecendo. Era uma explos�o de purpurina, unic�rnios, havia desfiles constantes, pessoas jogando doces em voc�" ele descreve.

 

Quando liderava a LinkExchange, Hsieh odiava acordar todos os dias, mas agora ela havia finalmente constru�do a empresa mais feliz do mundo.

Vagas concorridas

"Sabia-se que era mais dif�cil entrar na Zappos do que em Harvard. A empresa recebia dezenas de milhares de curr�culos por ano. O processo era rigoroso, era altamente seletivo", diz Gonzales-Black.

 

Hsieh queria esp�ritos generosos. Hsieh descobria, por exemplo, quais candidatos n�o tratavam bem o taxista a caminho da entrevista de emprego.

 

O candidato ideal tinha que ser um pouco "estranho". Nas entrevistas, eles respondiam a perguntas como: "Em uma escala de 1 a 10, voc� � estranho?"

"Eu respondi, 'Sou estranho ao m�ximo: 11'", lembra Gonzales-Black.

 

Outras perguntas comuns eram "qual � o seu palavr�o favorito?" ou "se voc� tivesse uma m�sica tema para quando entra em um lugar, qual seria?"

 

No final do processo de contrata��o, Hsieh oferecia aos candidatos selecionados US$ 2 mil para que n�o aceitassem o emprego. Ele queria pessoas totalmente comprometidas com sua cultura.

 

Mas Hsieh vendeu a Zappos, que havia se transformado em uma "fauna" com pessoas de esp�ritos livres, criativos e exc�ntricos, em um local de trabalho feliz.


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(foto: Getty Images)

Al�m da felicidade em si, havia uma estrat�gia brilhante em a��o: um funcion�rio feliz realmente faz o trabalho.

Estrat�gia brilhante

"Quando as pessoas podem ser elas mesmas, � quando as amizades verdadeiras s�o formadas, n�o apenas relacionamentos entre pares. E � quando as ideias criativas surgem e os funcion�rios s�o mais produtivos", disse Hsieh.

 

A estrat�gia foi tremendamente bem-sucedida. Em oito anos, as vendas da Zappos ultrapassaram US$ 1 bilh�o.

 

"Dentro da empresa, havia um desejo incr�vel de surpreender nossos clientes (...) de faz�-los se sentirem que eram o cliente n�mero um", diz Gonzales-Black.

A Zappos causou tanto rebuli�o que, em 2009, chamou aten��o da Amazon. Com a garantia de que a gigante de tecnologia n�o alteraria a cultura da empresa, Hsieh vendeu a empresa por US$ 1,2 bilh�o.

 

Se aos 24 Hsieh havia ficado rico, agora aos 35, ele tamb�m era feliz.

 

Mas, � medida que a empresa crescia, ela lutava com o problema interno de hierarquia. Como grandes grupos de seres humanos poderiam fazer coisas sem grandes chefes os dirigindo? E uma vez que voc� come�asse a dar poder a esses chefes, o que aconteceria com a felicidade e a criatividade daqueles que s�o for�ados a seguir ordens?

O problema das hierarquias

Como muitos cientistas sociais antes dele, Hsieh viu uma rela��o inversamente proporcional entre hierarquia e felicidade, entre poder desigual e prosperidade.


A Amazon comprou a Zappos em 2009
A Amazon comprou a Zappos em 2009 (foto: Getty Images)

� por isso que Hsieh tentou realizar uma revolu��o, que ele acreditava que desafiaria os fundamentos da filosofia gerencial e talvez a maneira como os humanos trabalham juntos.

 

Hsieh achava que uma maneira de salvar a felicidade era estrangulando hierarquias.

 

"Tony foi a uma confer�ncia e voltou muito animado com a ideia da holocracia", disse Gonzales-Black.

 

Holocracia � um termo cunhado por Arthur Koestler, autor de O Fantasma da M�quina , e se tornou uma filosofia de gest�o radical gra�as ao empres�rio americano Brian Robertson.

Mas em que consiste?

Igualdade radical

Holocracia � uma forma profundamente descentralizada de administrar uma empresa. N�o h� patr�es e nem mesmo cargos.

 

A hierarquia tradicional � completamente abandonada. Em vez disso, existem c�rculos, equipes autogeridas que desenvolvem projetos. Os funcion�rios escolhem em quais c�rculos trabalhar e, muitas vezes, trabalham em v�rios.

 

A holocracia � radical, ut�pica e, at� 2014, n�o havia sido testada em uma empresa do porte da Zappos. Mas, de acordo com Hsieh, esse era o caminho para a utopia organizacional.

 

"� emocionante e muito desestabilizador para muitas pessoas. Se voc� � algu�m que busca estabilidade na vida, que vai trabalhar sabendo exatamente o que fazer, a holocracia pode criar muito barulho ao seu redor", diz Alexis.

A holocracia tamb�m gera confus�es na hora de definir os sal�rios das pessoas.

Al�m disso, em um sistema sem hierarquias, ningu�m sabe realmente quem estava fazendo o qu�.

Em 2015, quando Hsieh ofereceu um b�nus para quem quisesse deixar a empresa, 18% dos trabalhadores aceitaram. E 11% foram embora sem b�nus.

A empresa mais feliz do mundo havia perdido quase um ter�o de sua for�a de trabalho em um �nico ano.


Hsieh acreditava que as hierarquias eram inversamente proporcionais à felicidade
Hsieh acreditava que as hierarquias eram inversamente proporcionais � felicidade (foto: Getty Images)

"Eu achava que a holocracia era a coisa mais est�pida que j� tinha ouvido. Ainda penso assim. E disse isso a ele", diz Paul Bradley Carr, autor e rep�rter de tecnologia, que era amigo pr�ximo de Hsieh.

"De repente, ouvir que n�o haver� chefes e, se voc� n�o gostar, pode ir embora, isso n�o � 'ter escolha'", diz Bradley Carr.

No in�cio, parecia um grande sucesso. Mas o tempo mostrou que as pessoas gostam de hierarquias.

Em empresas como a Zappos, a aus�ncia de regras formais ocultava uma estrutura de poder nociva. N�o havia freios e contrapesos. Os mais poderosos podiam satisfazer seus caprichos com poucos limites.

"Muitas pessoas se sentiram presas e intimidadas por aqueles que entendiam o sistema. O que Tony fez n�o foi criar uma estrutura plana, uma administra��o plana, mas um sistema no qual ele era o chefe e todo o resto ficava abaixo dele. N�o era democr�tico. Ele era essencialmente um rei", acrescenta Bradley Carr.

A ironia � que, ao buscar igualdade perfeita, ele inadvertidamente criou o oposto.

Em 2018, a Zappos come�ou silenciosamente a abandonar a holocracia.

Em 2020, um Hsieh cada vez mais err�tico deixou a empresa. Seu sonho havia morrido.

Imperador nu

Ao deixar a Zappos, Hsieh come�ou a gastar sua fortuna em um sistema pessoal de "holocracia". Ele convidava pessoas de quem gostava — artistas, escritores ou empres�rios — e oferecia o dobro do maior sal�rio que j� haviam recebido para irem morar com ele em seu novo rancho em Park City, no Utah.


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(foto: Getty Images)

Al�m disso, seu uso de drogas estava saindo do controle e nenhuma das pessoas ao seu redor — que sempre diziam "sim" a tudo — estava preparada para alert�-lo.

Ele era o imperador cujos s�ditos n�o podiam dizer que ele estava nu.

"Se voc� � t�o rico, bem-sucedido e influente como Tony, � dif�cil saber quem s�o seus amigos. Ele definitivamente tinha bons amigos, mas n�o sei quantos eram pr�ximos a ele. Suponho que n�o muitos, caso contr�rio, a hist�ria teria sido muito diferente", diz Bradley Carr.

Em novembro de 2020, Hsieh morreu por inala��o de fuma�a ap�s um inc�ndio em um galp�o em sua casa. A porta estava trancada por dentro, embora n�o se saiba se foi intencionalmente ou por acidente.

As demonstra��es nas redes sociais foram extraordin�rias.

"J� escrevi sobre muitos milion�rios da tecnologia e Tony era como nenhum", diz Bradley Carr. "Gostaria que os bilion�rios do Vale do Sil�cio fossem todos como Tony Hsieh, gastando seu dinheiro de maneiras ousadas e rid�culas. Ele era simplesmente um ser humano maravilhoso sendo empolgante e interessante. � um clich� dizer que nunca mais veremos sua luz. Mas nunca mais veremos a luz de Tony Hsieh. "

* Este artigo � uma adapta��o de um epis�dio do programa Business Daily da BBC, que voc� pode ouvir aqui (em ingl�s) .

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