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Estado de Minas AFEGANIST�O

A maquiadora afeg� que agora vive escondida

No dia em que o Taleb� assumiu controle da capital do Afeganist�o, vitrines de sal�es de beleza mostrando mulheres em trajes de noiva foram vandalizados; BBC falou com maquiadora que teme por sua seguran�a e se mant�m escondida.


03/09/2021 11:27 - atualizado 03/09/2021 12:46

Rostos de mulheres foram apagados de cartazes em salões de Cabul
Rostos de mulheres foram apagados de cartazes em sal�es de Cabul (foto: Anadolu Agency)

No dia em que o Taleb� assumiu o controle da capital do Afeganist�o, Cabul, cartazes publicit�rios colados do lado de fora dos sal�es de beleza — mostrando mulheres em trajes de noiva — foram pintados. Sal�es em toda a cidade foram fechados.

E, embora algumas empresas tenham prometido retornar o servi�o completo em breve, v�rias mulheres se preocupam com o futuro da ind�stria da beleza no pa�s.

Afsoon (nome fict�cio), uma maquiadora, deu, � BBC, uma ideia do que a ind�stria da beleza representava para as mulheres afeg�s.


� dif�cil traduzir o significado exato da express�o takaan khordum para outras l�nguas.

Grosso modo, ela descreve um evento raro na vida que abala algu�m profundamente, depois do qual voc� ter� se transformado para sempre — como a morte de algu�m que voc� ama, algu�m central em sua vida.


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(foto: Getty Images)

Afsoon vivenciou a sensa��o do takaan pela primeira vez no dia 15 de agosto de 2021.

Naquele domingo, ela acordou �s 10h com o telefonema de uma colega do sal�o de beleza onde ela trabalhava. Afsoon era feliz l�, convivendo com o cheiro de shampoo e esmalte de unha fresco misturado com o zumbido de um secador de cabelo com muita conversa fiada.

"N�o venha hoje", disse a colega de Afsoon ao telefone. "Estamos fechando. Acabou."

Sentada na cama, Afsoon checou o celular. O polegar dela moveu-se para cima e para baixo na tela do telefone enquanto percorria dezenas de mensagens de texto de amigos e familiares e, em seguida, centenas de postagens em redes sociais. Uma torrente de pavor a atingiu com tanta for�a que ela se sentiu congelada e enjoada ao mesmo tempo.

As mensagens eram todas iguais. O Taleb� havia entrado na capital do Afeganist�o, Cabul. Em 16 dias, todas as tropas ocidentais e seus diplomatas teriam deixado o pa�s.

"Acabou", ela repetiu para si mesma. Era hora de se esconder.

Afsoon est� na casa dos 20 anos e se considera uma mulher afeg� moderna.

Ela ama redes sociais, adora filmes, sabe dirigir e tem ambi��es profissionais.

Afsoon n�o consegue se lembrar de como era viver nos anos 1990, a d�cada em que nasceu, quando o Taleb� proibiu os sal�es de beleza no pa�s.


Maquiadora que havia conquistado sucesso no Afeganistão passou a se esconder desde que Talibã assumiu o controle
Maquiadora que havia conquistado sucesso no Afeganist�o passou a se esconder desde que Talib� assumiu o controle (foto: Nilab Adelyar)

Ela cresceu em um Afeganist�o onde os sal�es de beleza faziam parte do cotidiano. Quando era adolescente, ela folheava revistas e redes sociais em busca de looks glamorosos e frequentava sal�es de beleza com mulheres da fam�lia.

Ela amava tudo naquele mundo. Desde a pintura multicolorida das unhas aos maquiadores que se curvavam sobre as mulheres para fazer delineados esfuma�ados e emolduravam c�lios espessos e escovados em um rosto maquiado. Na boca, um gloss brilhante completa o look, al�m dos cabelos longos e esvoa�antes.

Nas duas d�cadas desde a invas�o liderada pelos Estados Unidos que derrubou o Taleb� em 2001, mais de 200 sal�es de beleza foram abertos somente em Cabul, com outras centenas em outras partes do pa�s.

Afsoon acabou realizando seu sonho de trabalhar em um deles e se tornou uma maquiadora de sucesso. Ela n�o queria nada al�m daquilo.

Como todos os sal�es de beleza em Cabul, o sal�o de Afsoon tinha vitrines inteiramente cobertas por p�steres de mulheres elegantes e glamorosas, anunciando uma promessa de beleza que poderia ser realizada l� dentro.

Os p�steres faziam com que um pedestre, que transitava nas quentes ruas dominadas por homens de Cabul, n�o pudesse ver o interior do tranquilo e multigeracional espa�o feminino do sal�o de Afsoon.

A qualquer hora do dia, havia mais de uma d�zia de mulheres l� dentro, fossem as profissionais ou a clientela — que variava de m�dicas a jornalistas, de cantoras e estrelas de TV a noivas se preparando para seu grande dia e adolescentes rindo com suas m�es em um dia especial de uni�o.

Os sal�es sempre foram ambientes saud�veis, fossem em dias de casamentos ou nos mais tranquilos. E extremamente cheios durante festivais como o Eid, quando as mulheres voltaram a se socializar. Nessas datas, poderia demorar dias para conseguir agendar um hor�rio.

"Amo mulheres. Queria trabalhar e construir espa�os onde as mulheres pudessem ser livres e brilhar", diz ela. "Poder�amos relaxar em um lugar longe dos homens."


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(foto: Getty Images)

Mas no domingo, dia 15 de agosto, o dia em que o Taleb� assumiu o controle do pal�cio presidencial de Cabul, acabou tudo.

� quase meia-noite em Cabul e Afsoon fala baixinho ao telefone com a reportagem. Ela est� visivelmente com medo. Saiu de sua resid�ncia naquele domingo e encontrou uma casa segura.

"As mulheres na ind�stria da beleza, especialmente pessoas como eu, que eram vis�veis e p�blicas com nosso trabalho, s�o os alvos", diz ela.

Depois do telefonema da amiga dizendo para ela n�o ir trabalhar, Afsoon ouviu que qualquer p�ster que representasse a beleza feminina estava sendo pintado por moradores assustados de Cabul. Uma amiga de Afsoon pintou pessoalmente alguns p�steres de modelos, em um gesto para apaziguar o Taleb� e n�o atrair a aten��o de suas amigas com neg�cios de beleza.

"Eles n�o aprovariam de nenhuma maneira ver rostos descobertos ou pesco�os de mulheres expostos", diz ela. "Eles sempre foram muito claros em sua cren�a de que uma mulher n�o deve atrair aten��o.

"� o fim da ind�stria da beleza no Afeganist�o."

Afsoon n�o tem um convite ou proposta de trabalho que pudesse garantir a ela um assento em um avi�o para fora de Cabul.

N�o h� sa�da para ela.

Ela se mant�m em contato diariamente com colegas em um bate-papo em grupo. O �ltimo pagamento que receberam foi no dia 24 de agosto. Nada mais ser� pago. O sal�o est� fechado e todas aceitaram que n�o voltar�o ao trabalho.

Afsoon diz que n�o pode falar sobre o futuro dela.

Ela n�o tem certeza do que vir�. Ela n�o pensou em como se vestir� agora, ou mesmo quando se aventurar� nas ruas.

Neste momento, a cor de um futuro que ela imaginou foi pintada com uma camada grossa de tinta preta. E ela est� no meio de um choque que n�o tem limite de tempo para se recuperar.

"Permanecer viva � a �nica coisa em que consigo pensar. N�o tenho medo de morrer — mas n�o quero ficar assim, apavorada e sem esperan�a", diz ela.

"A cada segundo, sinto que o Taleb� vir� atr�s de mim."

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