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Estado de Minas MERCADO

Jap�o: o ex�rcito de mulheres qualificadas que s� conseguem subempregos

Por que as mulheres ainda lutam por melhores empregos na terceira maior economia do mundo


04/09/2021 14:00 - atualizado 04/09/2021 15:04

Yumiko Suzuki passou sete anos em casa criando seus filhos antes de voltar ao trabalho.
Yumiko Suzuki passou sete anos em casa criando seus filhos antes de voltar ao trabalho. (foto: Yumiko Suzuki)

Existem muitas mulheres inteligentes e formadas no Jap�o que poderiam estar tirando o pa�s da sua atual recess�o econ�mica rumo a uma espetacular recupera��o da pandemia.




Mas o r�gido sistema trabalhista do pa�s - junto � lideran�a predominantemente masculina - permanece sendo um enorme entrave que impede as mulheres de conseguir empregos mais bem remunerados.

Os cr�ticos advertem que o pa�s corre o risco de tornar-se uma na��o de donas de casa frustradas com diplomas universit�rios.

O prazo definido pelo pr�prio Jap�o para aumentar significativamente o n�mero de mulheres em pap�is de lideran�a at� 2020 passou em sil�ncio no final do ano passado, sem que sequer se chegasse perto desse objetivo.

Conhecida como "Womenomics" em ingl�s e anunciada com grande alarde, a pol�tica do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe de criar um "Jap�o onde as mulheres podem brilhar" foi, em grande parte, um fracasso. E n�o s� devido � covid-19.

Atualmente, existe apenas uma mulher para cada dez homens no Parlamento e menos de 15% dos altos cargos no setor privado s�o ocupados por mulheres - a metade do objetivo original para 2020.


Shinzo Abe anunciou a criação de um
Shinzo Abe anunciou a cria��o de um "Jap�o onde as mulheres podem brilhar". (foto: Getty Images)

O ex-primeiro-ministro Shinzo Abe defende que a pol�tica foi um sucesso: existem agora mais mulheres trabalhando do que nunca. Mas que tipo de trabalho essas mulheres com alta forma��o est�o fazendo?

Os cr�ticos acreditam que essa pol�tica teve pouco a ver com a cria��o de mudan�as sociais - que permitiriam que as mulheres progredissem no trabalho - e mais a ver com a necessidade premente de trabalhadores. A popula��o japonesa em idade produtiva vem encolhendo rapidamente desde a d�cada de 1990.

Por d�cadas, cerca de 60% das mulheres abandonaram o trabalho profissional ap�s ter seu primeiro filho. M�es que cuidam dos seus filhos em tempo integral - porque a renda do marido pode sustentar a fam�lia inteira - foram tradicionalmente vistas como privilegiadas.

Mas, quando chegou a pol�tica Womenomics, as m�es j� estavam come�ando a voltar ao trabalho porque a renda familiar diminuiu.

Apenas 42,1% deixaram seus empregos em 2019, elevando os percentuais de participa��o no mercado de trabalho para 70,9% para mulheres com 15-64 anos de idade e at� 77,7% na faixa de 25-44 anos, segundo os n�meros do governo.

Para apoiar essa mudan�a, o governo lan�ou campanhas a fim de eliminar as listas de espera nas creches. E tamb�m pressionou as grandes companhias para que tenham pelo menos uma mulher em cargo executivo. Mas n�o havia incentivos financeiros, nem penalidades para quem n�o obedecesse.


Mulheres executivas japonesas no distrito comercial no centro de Tóquio.
Mulheres executivas japonesas no distrito comercial no centro de T�quio. (foto: Getty Images)

Por isso, muitas mulheres ficaram estacionadas em cargos em meio per�odo ou sem possibilidade de promo��o. A renda m�dia das mulheres japonesas � mais de 40% menor que a dos homens, segundo o F�rum Econ�mico Mundial.

A volta ao trabalho

Mais da metade das mulheres japonesas entra no mercado de trabalho com diploma universit�rio, quase o mesmo n�mero dos homens. Mas, depois de abandonar um trabalho em tempo integral, � quase imposs�vel retornar � sua carreira original ap�s um per�odo de licen�a.

"Se quiser voltar a trabalhar, voc� precisar� procurar um emprego no supermercado - como faria um estudante em busca de trabalho em meio per�odo", afirma Yumiko Suzuki, que trabalha como consultora profissional na ag�ncia Warc.

Quinze anos atr�s, Suzuki tamb�m decidiu abandonar o trabalho remunerado e tornar-se dona de casa - uma decis�o que n�o foi f�cil para ela.

Sua hist�ria � mais ou menos t�pica. Depois da universidade, ela trabalhou tanto quanto seus colegas homens - ou seja, at� depois do hor�rio, muitas vezes perdendo o �ltimo trem para casa, apenas para provar que era capaz.


Yumiko agora ajuda outras mulheres a retomar suas carreiras.
Yumiko agora ajuda outras mulheres a retomar suas carreiras. (foto: Yumiko Suzuki)

Mas, quando ela conheceu seu marido, que trabalhava na mesma companhia, eles perceberam que, para ter uma fam�lia, um deles teria que desistir da sua carreira.

Atualmente, muitas m�es que trabalham t�m a op��o de trabalhar por menos tempo ou em hor�rios flex�veis, o que n�o existia quando ela saiu da empresa, em 2006.

"N�s dois est�vamos trabalhando 24 horas por dia. Sab�amos que n�o poder�amos come�ar uma fam�lia dessa forma", conta ela.

Mas, depois de sete anos como m�e e dona de casa criando os dois filhos, Suzuki tentou voltar ao mercado de trabalho.

Ela ficou surpresa quando percebeu que o tempo que passou em casa era visto como "uma lacuna" no seu curr�culo. Ela n�o conseguia nem mesmo uma entrevista.

Por fim, ela precisou obter tr�s certificados profissionais antes de finalmente receber uma oferta de trabalho em tempo integral em uma start-up. Agora, ela ajuda outras m�es a retomar suas carreiras.


O ponto crucial do problema são as rígidas práticas de contratação do Japão e o sistema de empregos vitalícios criado para reconstruir a economia após 1945.
O ponto crucial do problema s�o as r�gidas pr�ticas de contrata��o do Jap�o e o sistema de empregos vital�cios criado para reconstruir a economia ap�s 1945. (foto: Getty Images)

Como custear as falhas

O problema reside nas r�gidas pr�ticas de contrata��o do Jap�o. O sistema de empregos vital�cios criado para reconstruir a economia ap�s a Segunda Guerra Mundial n�o dita rigorosamente as normas, mas as principais companhias continuam a empregar novos formandos todos os anos, na primavera, e oferecer a eles empregos para toda a vida.

E, se voc� perder essa oportunidade, pode ser muito dif�cil candidatar-se a outra vaga no ano seguinte.

Qualquer falha no seu curr�culo tamb�m � reprovada pelas grandes companhias, que ainda usam um sistema de avalia��o baseado na idade: quanto mais tempo de vida voc� tem, mais a sua carreira progride, independentemente da sua capacidade.

Kathy Matsui, que cunhou o termo Womenomics quando trabalhava no banco de investimentos Goldman Sachs, afirma que "o pa�s tem uma falta t�o grande de talentos que estamos examinando todo o sistema de avalia��o com base no tempo".

Ela espera que finalmente ocorra uma mudan�a radical das pr�ticas de contrata��o. Matsui afirma que essa mudan�a est� sendo causada pelo �xodo de mulheres trabalhadoras brilhantes que n�o est�o mais optando por trabalhar em empresas renomadas que esperam que voc� "fique 30 anos at� se tornar gerente".


Kathy Matsui afirma que as empresas japonesas enfrentam falta de mão de obra e, por isso, precisam ampliar sua busca por talentos.
Kathy Matsui afirma que as empresas japonesas enfrentam falta de m�o de obra e, por isso, precisam ampliar sua busca por talentos. (foto: Getty Images)

O mundo das start-ups, no qual ela entrou depois de sair da Goldman Sachs para lan�ar um fundo de capital de risco denominado MPower Partners Fund, opera de forma muito diferente.

"Essas companhias novas est�o tentando explorar a oferta de talentos, n�o apenas de mulheres, mas tamb�m de trabalhadores com mais idade. N�o h� pessoas suficientes para todo o trabalho que precisa ser feito e, se voc� se recusar a mudar, voc� perder� a guerra por talentos."

Como impulsionar as mudan�as

Cynthia Usui, gerente nacional da rede de hot�is LOF Hotel, concorda. Sua empresa � incomum por contratar ativamente ex-donas de casa, m�es solteiras e outras que costumam batalhar para conseguir empregos nas companhias tradicionais.

"Eu n�o acho que as empresas tenham escolha. Voc� precisa ter um time diverso como o nosso para ter sucesso."

Por 17 anos, ela pr�pria foi uma m�e dona de casa. Usui voltou a trabalhar aos 47 anos - e o seu primeiro emprego foi na cantina da escola da sua filha.

"O governo gasta muito dinheiro requalificando homens japoneses com 50 e 60 anos de idade" com os chamados centros de recursos humanos grisalhos, agrega ela.

"Eu gostaria de dizer ao governo: voc�s deveriam estar gastando o mesmo dinheiro com as mulheres que foram donas de casa e est�o tentando voltar ao trabalho."

Para Kathy Matsui, � frustrante que muitos n�o compreendam que o Womenomics poder� significar melhor desempenho financeiro da ind�stria e maior crescimento econ�mico para o Jap�o.

"As pessoas ainda analisam o problema no campo dos direitos humanos ou da igualdade, o que sem d�vida � o caso, mas isso n�o chama a aten��o de todos", diz ela.

At� agora, as empresas japonesas t�m relutado a comprometer-se publicamente com o aumento do n�mero de mulheres no seu quadro de pessoal.

Mas o direcionamento da mudan�a poder� vir finalmente das multinacionais, que s�o mais ativas - como a Goldman Sachs, antiga empregadora de Kathy Matsui.

Ela tem a paridade de g�nero como objetivo ao contratar formandos e, ao enfrentar dificuldades para encontrar mulheres com qualifica��o adequada para cargos iniciais de engenharia, realizou workshops sobre codifica��o.

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