
Sob press�o das fam�lias dos quase 3 mil mortos na trag�dia, o presidente norte-americano, Joe Biden, ordenou a divulga��o de documentos secretos da investiga��o governamental sobre os atentados. A desclassifica��o dos dossi�s dever� ocorrer em seis meses. "Nunca devemos esquecer a dor duradoura das fam�lias e entes queridos dos 2.977 inocentes que foram mortos durante o pior ataque terrorista de nossa hist�ria", declarou, na �ltima quinta-feira. Para analistas, o 11 de Setembro � um ponto de inflex�o na influ�ncia norte-americana sobre a geopol�tica internacional.
Diretor do Centro para Estudos do Afeganist�o da Universidade de Nebraska (EUA), o afeg�o Sher Jan Ahmadzai afirmou ao Correio que os ataques contra Nova York e Washington representaram um imenso desafio aos esfor�os dos Estados Unidos para manterem a condi��o de pot�ncia global, especialmente no Oriente M�dio. "Com a persegui��o � Al-Qaeda e ao Talib�, aliado de Bin Laden que comandava o Afeganist�o at� 2001, os norte-americanos mostraram-se capazes de reagir a agress�es em qualquer lugar do planeta. Os pa�ses da Otan (Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte) apoiaram a opera��o, e isso mostrou a dimens�o dos EUA na reuni�o de na��es contra um inimigo em comum", avaliou.
A volta do Talib� ao poder, em Cabul, e a retirada do Afeganist�o indicaram um �ngulo diferente. "Isso provou que o poder dos Estados Unidos � limitado, e que a pol�tica global mudou nos �ltimos 20 anos. H� pot�ncias emergentes, como a China e a R�ssia, al�m de outras menores no Oriente M�dio: Ir�, Paquist�o e �ndia", disse o afeg�o.
Desmoraliza��o
Ahmadzai prefere n�o falar em desmoraliza��o. "Os EUA foram machucados pelo que ocorreu em 11 de setembro de 2001. O pa�s mantinha o status de pot�ncia global. Nas �ltimas duas d�cadas, com o envolvimento nas guerras do Afeganist�o, do Iraque, da L�bia e da S�ria, a situa��o se modificou um pouco."
Para Alan Dershowitz, professor em�rito da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, o fato de 19 terroristas - comandados pelo eg�pcio Mohamed Atta e armados com estiletes - terem provocado tantos danos, sem que a maior pot�ncia militar e de intelig�ncia os detivesse, desmoralizou uma na��o inteira. "A realidade de que o Talib� venceu uma guerra de 20 anos enfraqueceu o poder dos EUA", disse � reportagem.
Dave DesRoches, professor do Centro para Oriente M�dio e Sul da �sia da Universidade da Defesa Nacional (em Washington), explicou ao Correio que o 11 de Setembro mostrou aos EUA que problemas em outras na��es podem afet�-los. "Os atentados revelaram que, se um pa�s fracassar (com o Talib� no poder e o abrigo � Al-Qaeda), isso pode ter implica��es para a seguran�a dos EUA. Os americanos tendem a atravessar ciclos de engajamento e de isolacionismo. O 11 de Setembro marcou o come�o de um per�odo de engajamento. Depois dos atentados, houve um ressurgimento do patriotismo."
Em 7 de outubro de 2001, o presidente George W. Bush ordenou o ataque a posi��es da mil�cia fundamentalista Talib� e da Al-Qaeda. Tropas invadiram o Afeganist�o para ca�ar Bin Laden. O regime talib� ruiu, e os EUA mantiveram a ocupa��o por 20 anos. Bin Laden foi morto em 2011, em Abbottabad (Paquist�o).
Na �ltima ter�a-feira, 18 dias ap�s a retomada do poder pelo Talib�, os Estados Unidos abandonaram o Afeganist�o. Mais uma vez, o Tio Sam viu-se acuado. Um atentado suicida reivindicado pelo Estado Isl�mico-Khorasan (ISIS-K) matou 10 fuzileiros navais (marines) e acelerou a retirada. Biden anunciou uma "virada de p�gina na pol�tica externa" e prometeu abandonar a pol�tica de pol�cia do mundo. "Temos que aprender com nossos erros."