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Estado de Minas NARCOTR�FICO

Como Col�mbia produz mais coca�na apesar de redu��o da �rea de cultivo

O n�mero de hectares de folha de coca diminuiu por 3 anos, mas a produ��o de coca�na est� aumentando. � um paradoxo ou uma ilustra��o da nova din�mica do mercado e do pa�s?


11/09/2021 10:09 - atualizado 11/09/2021 12:17


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(foto: Getty Images)

Embora ilegal, a coca�na na Col�mbia parece atualmente um neg�cio estabelecido: muitos trabalhadores recebem um b�nus em dezembro, h� investidores que pagam adiantado e os pre�os n�o oscilam muito.

J� se foi o tempo dos monop�lios de Pablo Escobar ou das For�as Armadas Revolucion�rias da Col�mbia (FARC). Hoje, ao contr�rio, existe uma multiplicidade de atores especializados em cada etapa da cadeia produtiva. O mercado se regula e h� competi��o.

O que n�o mudou � que a ind�stria da coca�na segue sendo um dos principais inimigos do governo colombiano, agora sob o comando do presidente Iv�n Duque. O pol�tico de centro-direita fortaleceu a alian�a com os Estados Unidos, que s� na Col�mbia gastou mais de US$ 11 bilh�es no combate �s drogas.

O governo Duque conseguiu que, de acordo com algumas estimativas, o cultivo da folha de coca fosse reduzido por tr�s anos seguidos.

Mas isso n�o impediu que a produ��o de coca�na aumentasse. Na verdade, nunca na hist�ria da Col�mbia, por d�cadas o maior exportador do mundo, tanta coca�na foi produzida de forma t�o eficiente e com menos viol�ncia.

E para Daniel Rico, economista especialista em narcotr�fico, isso n�o � um paradoxo: "A coca hoje tem m�o de obra qualificada, e quando h� melhorias na produ��o � porque h� estabilidade estrutural na din�mica do mercado, ou seja, do plantio, da produ��o e da distribui��o".

Como isso aconteceu?


Na Colômbia de hoje, há menos espaço com o plantio de coca. Mas o setor é o mesmo ou até maior do que antes
Na Col�mbia de hoje, h� menos espa�o com o plantio de coca. Mas o setor � o mesmo ou at� maior do que antes (foto: Getty Images)

Menos coca, mas mais coca�na

Em junho, foi apresentado o relat�rio anual da Organiza��o das Na��es Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), que se baseia em dados oficiais.

O relat�rio indicou que em 2020 as safras de folha de coca foram reduzidas em 7%; em 2019, ca�ram 9%; e em 2018, 2,1%.

"As redu��es dos �ltimos dois anos foram as maiores em praticamente 6 ou 7 anos", disse Duque na apresenta��o do relat�rio, celebrando uma de suas apostas mais importantes: a erradica��o volunt�ria ou for�ada de lavouras de coca.

Al�m disso, o governo atingiu um n�mero recorde de apreens�es de coca e coca�na.

E neste ano o governo vai adotar uma nova estrat�gia: a pulveriza��o a�rea com glifosato, que havia sido suspensa em 2015 em parte devido aos seus efeitos na sa�de da popula��o local.

O relat�rio da Unodc, por�m, produziu dados que, segundo alguns especialistas, mostram mais fracassos do que sucessos na estrat�gia do Estado para acabar com o narcotr�fico.

Isso porque com menos coca se produz mais coca�na do que antes: para cada tonelada de folha de coca, extraem-se hoje 2,14 quilos de pasta base de coca�na. Em 2016, compara o relat�rio, eram extra�dos 1,87 quilo.

N�o � s� uma quest�o de efici�ncia, mas de quantidade: a Unodc estima que foram produzidas 1.010 toneladas de coca�na pura em 2020, o que ante as 936 toneladas de 2019 d� um aumento de 8%.

Duque reconheceu esse aumento da produ��o: "Os criminosos do narcotr�fico sempre buscaram a profissionaliza��o e v�m adaptando muitas de suas pr�ticas para tentar aumentar a produtividade", disse ele em junho passado.

"Eles concentram seus centros de produ��o em reservas e parques naturais (...), onde sabem que as autoridades ficam mais tempo sem agir."

O presidente garantiu que, embora a Col�mbia mantenha seu esfor�o para chegar aos laborat�rios em �reas remotas, "� importante que os pa�ses consumidores tamb�m fa�am seu trabalho e que nessa corresponsabilidade assumam uma maior capacidade pedag�gica e policial para enfrentar este fen�meno".


O processo de transformar a folha em base para cocaína é cada vez mais aperfeiçoado por produtores em busca de valor agregado
O processo de transformar a folha em base para coca�na � cada vez mais aperfei�oado por produtores em busca de valor agregado (foto: Getty Images)

Fa tores externos

Para explicar o fen�meno de menos coca, mas mais coca�na, os especialistas sugerem uma s�rie de eventos externos � ind�stria.

N�o s� a sa�da das FARC, que se desmobilizaram em 2016, mas os quatro anos de negocia��es entre o governo e a guerrilha geraram mudan�as estruturais no mercado.

A erradica��o de um monop�lio que influenciava todas as etapas da produ��o abriu o mercado para mais inova��o, diversidade e competi��o. Al�m disso, entre 2012 e 2016, centenas de camponeses decidiram replantar coca porque pensavam que o acordo de paz beneficiaria os plantadores de coca.

Soma-se a isso a entrada de narcotraficantes mexicanos no pa�s, que chegaram com grandes investimentos adiantados e sistemas de organiza��o do trabalho quase corporativos que aumentam a efici�ncia.

Um terceiro elemento externo, dizem os especialistas, foi a queda do pre�o internacional do ouro, desvalorizado entre 2013 e 2019. Com isso, milhares de garimpeiros e mineiros foram buscar outras atividades ilegais para seu sustento.


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(foto: Getty Images)

Fa tores internos

Esse contexto externo gerou mudan�as na ind�stria da coca.

"Sem as Farc, abriram-se espa�os para que os camponeses entrassem na rede e tentassem agregar valor � sua produ��o", diz Elizabeth Dickinson, pesquisadora da consultoria Crisis Group, e autora de uma extensa reportagem sobre o assunto recentemente.

Ao contr�rio de outros produtos agr�colas, a coca pode ser convertida em algo mais caro sem muito esfor�o: com t�cnicas de macera��o com gasolina, cimento ou am�nia, o mesmo agricultor que cultiva a folha pode transformar sua produ��o em pasta base de coca�na e vend�-la por mais cinco ou seis vezes.

Durante os �ltimos 30 anos, a produ��o de coca se concentrou em setores remotos da Col�mbia, onde a fumiga��o e a erradica��o de planta��es s�o dif�ceis para o Ex�rcito. Esse processo permitiu que as lavouras se instalassem em locais prop�cios � coca, com alta radia��o solar e altitude m�dia, e que as lavouras se tornassem mais t�cnicas e recebessem melhores sementes e fertilizantes.


A erradicação forçada da coca é uma das apostas do presidente da Colômbia, Iván Duque
A erradica��o for�ada da coca � uma das apostas do presidente da Col�mbia, Iv�n Duque (foto: AFP)

Esses "enclaves produtivos" raramente sofrem a interven��o do Estado, raz�o pela qual a folha atinge seu n�vel �timo para ser colhida e o processo de produ��o � realizado em larga escala e de forma t�cnica.

L�, diz Rico, "opera uma esp�cie de paz mafiosa, onde cada um faz seu trabalho em favor da ind�stria, e o custo da viol�ncia � baixo, porque nunca se produziu tanta coca com t�o poucas mortes".

Tudo isso se soma ao fato de que a Col�mbia, com uma das menores taxas de produ��o agr�cola da regi�o, continua sendo um pa�s onde viver do campo n�o � lucrativo.

No relat�rio do Crisis Group, um cocaleiro diz: "A coca � o �nico produto que pode ser retirado da �rea onde � cultivado [com bom lucro]. Com outros produtos voc� pode ter colheitas confi�veis, mas o transporte para o mercado � t�o caro que o ganho se perde".

A coca, embora ilegal, continua sendo o �nico sustento poss�vel para milhares de fam�lias colombianas.


A cadeia de produção da cocaína tem várias etapas
A cadeia de produ��o da coca�na tem v�rias etapas (foto: Getty Images)

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