Mais de 35 anos depois de seu primeiro cargo ministerial, Bouteflika ficou � frente da Arg�lia em 1999, impulsionado por uma imagem de salvador em um pa�s devastado por uma guerra civil. Duas d�cadas depois, foi derrubado pelo ex�rcito, pilar do governo, sob a press�o de um movimento de protestos nas ruas sem precedentes (conhecido como "Hirak").
"Butef", como era chamado pelos seus compatriotas, jogou a toalha em 2 de abril 2019, pressionado pelo Estado Maior, e depois de querer se apresentar para um quinto mandato, apesar de seu estado de sa�de fr�gil.
Mas o an�ncio de sua candidatura foi visto como uma humilha��o para milh�es de argelinos, especialmente entre os mais jovens.
Seis semanas de mobiliza��o em massa - algo nunca visto na Arg�lia - levaram o general Ahmed Gaid Salah, chefe do Estado Maior e um de seus leais colaboradores, a pedir sua demiss�o.
- "Eu sou a Arg�lia inteira" -
Aquele que um dia foi, aos 26 anos, o ministro das Rela��es Exteriores mais jovem do mundo, era recentemente um homem silencioso preso a uma cadeira de rodas desde que sofreu um AVC em 2013, que o deixou hospitalizado durante um longo per�odo em Paris.
Sua limita��o f�sica contrastava com o in�cio de seu primeiro mandato, em 1999, quando se apresentava como um orador eloquente e dirigente hiperativo que percorria o pa�s e o mundo.
"Eu sou a Arg�lia inteira, sou a encarna��o do povo a argelino", disse no dia da posse.
Nascido em 2 de mar�o de 1937, em Uchda (Marrocos), numa fam�lia origin�ria de Tlemcen (oeste da Arg�lia), com apenas 19 anos, Buteflika entrou em 1956 na Frente de Libera��o Nacional (FLN) que lutava pela independ�ncia da ent�o col�nia francesa.
Ap�s a independ�ncia em 1962, com apenas 25 anos assumiu o cargo de ministro dos Esportes e Turismo durante o governo de Ahmed Ben Bella, um ano antes de assumir a pasta das Rela��es Exteriores, onde ficou at� 1979.
Em junho de 1965, apoiou o golpe de Estado de Huari Boum�di�ne, que era ministro da Defesa do deposto Ben Bella. Com Boum�di�ne como chefe de governo, Bouteflika se posicionou como seu principal conselheiro, mas com a morte do presidente em 1978, os militares o impediram de participar da sucess�o e ele acabou se afastando da cena pol�tica.
- Articulador da reconcilia��o -
Ap�s ex�lio em Dubai e Genebra, Bouteflika, imposto pelo ex�rcito, se apresentou como candidato � presid�ncia em abril de 1999, e saiu vitorioso nas urnas ap�s a desist�ncia de seus seis advers�rios por conta de supostas fraudes.
Com a Arg�lia em plena guerra civil contra grupos radicais isl�micos - um conflito que deixou oficialmente cerca de 200 mil mortos em 10 anos - o novo presidente buscou restabelecer a paz.
Duas leis de anistia, em 1999 e 2005, convenceram v�rios isl�micos a abandonarem as armas.
Acusado por seus detratores ser apenas um fantoche do ex�rcito, Bouteflika mostrou desde sua elei��o independ�ncia em rela��o aos militares.
Em 2011, enquanto a "Primavera �rabe" derrubava v�rios dirigentes da regi�o, Bouteflika manteve a paz social gra�as ao dinheiro do petr�leo.
- Sa�de fr�gil -
As d�vidas sobre sua capacidade para governar aumentavam � medida que sua sa�de se deteriorava. Foi hospitalizado de emerg�ncia em Paris no fim de 2005 devido a uma hemorragia g�strica, e depois, em 2013, por conta de um AVC que o deixou com muitas sequelas.
Contra todos progn�sticos, em 2014 emendou um quarto mandato.
Desde ent�o, Bouteflika n�o falava mais em cerim�nias em p�blico.
Apesar das restri��es f�sicas, nessa �poca refor�ou ainda mais seus poderes: no in�cio de 2016 dissolveu todo poderoso Departamento de Intelig�ncia e Seguran�a e ainda demitiu o chefe da institui��o, o intoc�vel general Mohamed M�di�ne.
O quarto mandato foi marcado tamb�m pela queda dos pre�os do petr�leo, o que deixou evidente a forte depend�ncia da economia argelina desta ind�stria.
ARGEL