O tribunal, que julga os 20 acusados dos piores ataques em Paris desde a Segunda Guerra Mundial, come�ou a ouvir as testemunhas do primeiro atentado daquela noite, nos arredores do Stade de France.
"Um homem-bomba se explodiu na nossa frente. Ainda lembro da explos�o, o barulho, o cheiro (...). Fiquei chocado com esse corpo humano partido em dois, com os peda�os de carne espalhados", disse Pierre ao tribunal.
Este gendarme aposentado, que afirma ainda estar "traumatizado", patrulhava na noite do ataque junto a outros membros da Guarda Republicana em frente ao est�dio, onde se disputava uma partida amistosa de futebol entre Fran�a e Alemanha.
Em "33 anos de carreira", Philippe, um veterano da gendarmaria aposentado, relatou nunca ter sentido esta "como��o". "N�o somos treinados para ver um kamikaze", destacou sobre o ataque que deixou um dos 130 mortos que haveria naquela noite.
Cerca de 350 partes civis, entre sobreviventes e familiares dos falecidos, pediram para falar no tribunal, lembrou o presidente do tribunal Jean-Louis P�ri�s, antes de dar in�cio �s cinco semanas de audi�ncias.
"O desafio duplo � saber o que queremos dizer e n�o dar muita import�ncia ao que os outros consideram importante", estimou antes da audi�ncia Arthur D�nouveaux, presidente da associa��o Life for Paris.
Este sobrevivente do massacre na sala de espet�culos Bataclan explicou que disse �s v�timas: "O que interessa � falarem o que viveram, sem se preocupar com os outros".
- "Apavorada" -
Tentar explicar com palavras o horror que viveram e suas vidas destru�das parece complicado, especialmente quando, al�m dos magistrados, est�o na sala os pr�prios acusados, entre eles Salah Abdeslam, o �nico membro com vida dos comandos que promoveram o ataque.
"Quero fazer isso, faz parte do meu trabalho de reconstru��o", explicou Marko, de 31 anos, dias atr�s. "Quero enfrentar essas pessoas, que vejam quem s�o as v�timas. O que aconteceu conosco e com quem n�o est� mais aqui".
Em 13 de novembro de 2015, estava no bar La Belle �quipe junto a um grupo de amigos. Um deles, Victor, est� entre as pessoas que morreram na noite do ataque a bares e restaurantes da capital.
Edith Seurat, de 43 anos, confessou estar "apavorada" com seu depoimento, mas se convenceu da import�ncia prestar testemunho ao constatar a solenidade do julgamento.
Uma pergunta que surgiu com frequ�ncia dias atr�s foi se os depoentes poderiam se dirigir aos acusados. Todos t�m em mente Abdeslam, que desde o in�cio do julgamento n�o hesita em interromper para tomar a palavra.
Na semana passada, este homem de 32 anos disse ao tribunal que os atentados eram "inevit�veis", mas defendeu o "di�logo" para evitar outros.
Marko estava na sala, fora de si: "Me levantei e comecei a insult�-lo. Uma amiga ferida me acalmou, mas permaneci de p� at� o final, olhando fixamente para ele".
As normas estabelecem, no entanto, que as testemunhas se dirijam ao tribunal. Seu banco se encontra, inclusive, mais � frente do banco dos r�us, portanto precisariam girar para dirigirem-se a eles.
O julgamento dos atentados extremistas de Paris come�ou em 8 de setembro e deve durar at� o final de maio. Os acusados come�ar�o a depor a partir de 2022.
PARIS