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Estado de Minas NAIR�BI

O estigma leva quenianas ao aborto clandestino


02/10/2021 13:26 - atualizado 02/10/2021 13:31

Victoria Atieno esperava seu �nibus quando sentiu que come�ava a sangrar de maneira cont�nua, revelando seu segredo mais �ntimo no meio da rua: um auto-aborto, praticado por milhares de quenianas apesar de suas consequ�ncias muitas vezes fatais.

A Constitui��o do pa�s africano permite o aborto em alguns casos, mas a exclus�o de quem recorreu � interrup��o da gravidez, leva muitas mulheres a usar m�todos mais tradicionais como ervas, �gua sanit�ria ou agulhas ou a recorrer a cl�nicas clandestinas.

Victoria Atieno era consultora de sa�de reprodutiva em uma cl�nica de uma ONG de Nair�bi. Quando ela quis interromper a gravidez, ela engoliu secretamente uma mistura de ervas.

Se sabem que voc� fez um aborto, "as pessoas condenam voc�, tratam voc� como um criminoso, tentam expulsar da comunidade", explica � AFP esta m�e de tr�s filhos, de 35 anos.

Horas depois de tomar a mistura de ervas, seu pior pesadelo se tornou realidade e sua gravidez terminou em plena luz do dia, diante de dezenas de olhares de reprova��o.

Os auto-abortos t�m consequ�ncias terr�veis para a sa�de: ruptura do �tero, lacera��es do colo do �tero ou da vagina, infec��es graves, sangramento e algumas vezes a morte.

- Proibi��o legal -

No Qu�nia, um pa�s muito religioso e com governo crist�o, at� as mulheres que abortam em instala��es m�dicas sentem que est�o cometendo um crime.

Quase um ano depois de interromper sua gravidez ap�s um estupro coletivo, Susan, m�e de tr�s filhos, carrega uma grande culpa.

"As pessoas veem voc� como um assassino (...) N�o tenho a sensa��o de ter feito uma coisa t�o ruim", explica a mulher de 36 anos.

A Constitui��o do Qu�nia, de 2010 afirma que o aborto � ilegal, exceto se, "de acordo com o crit�rio de um profissional de sa�de qualificado, exija tratamento urgente, a vida ou a sa�de da m�e esteja em perigo ou seja permitido por outra lei".

Desta maneira, quando o Minist�rio da Sa�de parou de oferecer treinamento em t�cnicas de interrup��o da gravidez, o acesso ao aborto nos hospitais foi imediatamente reduzido e as mulheres pagaram o pre�o.

O minist�rio da Sa�de n�o respondeu aos pedidos de entrevista e um de seus especialistas em sa�de reprodutiva disse � AFP: "N�o estamos autorizados a falar em aborto. � a regra".

- Sentimento de remorso -

A sobrinha de Ken Ojili Mele faleceu aos 26 anos depois de fazer um aborto em uma cl�nica clandestina. Contr�rio ao aborto por muito tempo, agora o carpinteiro de 48 anos � dominado pelo sentimento de remorso.

"Ela pode n�o ter falado sobre isso porque sabia que isso me deixaria com raiva", disse. "Se ela tivesse compartilhado isso comigo, talvez eu pudesse ter ajudado a encontrar um hospital mais seguro", lamenta.

Mesmo na frente dos m�dicos � dif�cil falar sobre o tema. Especialista em sa�de reprodutiva, o doutor Samson Otiago recebe dezenas de mulheres em sua cl�nica em Nair�bi todos os meses.

Leva muito tempo e esfor�o para que ousem expressar sua vontade de abortar.

Algumas come�am a chorar antes de pronunciar a palavra, explica o dr. Otiago, que costuma oferecer servi�os gratuitos ou a cr�dito para as pacientes.

"Uma vez que uma mulher decide que vai fazer um aborto, ela o far� de qualquer maneira", explica o m�dico. "Preferimos fazer n�s mesmos do que exp�-las a charlat�es ou v�-las mais tarde com complica��es", completa.


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