A escola funcionava em uma modesta constru��o com janelas enferrujadas em uma ilhota deste empobrecido assentamento de palafitas no Lago de Maracaibo (Zulia, oeste). Estava fechada havia tr�s anos quando o governo do presidente Nicol�s Maduro suspendeu as aulas presenciais em mar�o de 2020 por causa da pandemia de covid-19.
E agora que o governo prev� reabrir as salas de aula em 25 de outubro, aqui n�o ser� poss�vel.
Esta � uma das tantas calamidades de Olog�, onde vivem umas 40 fam�lias sem �gua encanada, nem eletricidade, praticamente isoladas pela falta cr�nica de gasolina, assim como muitos casarios nesta regi�o que viu nascer a ind�stria petroleira venezuelana.
Paradoxalmente, a �nica professora que viajava para este remoto povoado para dar aulas come�ou a se ausentar devido � falta de combust�vel. Ela dependia de caronas dadas pelos pescadores e barqueiros que levavam turistas para a regi�o (famosa pelo fen�meno conhecido como Rel�mpago do Catatumbo) at� que um dia n�o voltou mais.
Isso sem contar com os sal�rios baixos, que n�o chegam aos 5 d�lares por m�s, uma realidade que se repete em todo o pa�s.
"N�o aprendi a ler (...) e nada de vogais", conta com voz anasalada e palavras entrecortadas Andrea, uma menina de 12 anos, que lembra dos colegas no recreio, quando brincavam em um balan�o confeccionado com t�bua e cordas, pendurado entre os galhos das �rvores frut�feras que outros escalavam.
A taxa de alfabetiza��o na Venezuela � superior a 97%, segundo a Unesco, mas neste casario salpicado por manguezais, o fechamento da escola s� piorou o analfabetismo dominante.
"Dos meus oito filhos (j� adultos), s� uma sabe ler e escrever. Os demais somos todos ignorantes", comenta � AFP �ngel Villasmil, de 58 anos, que se prepara para lan�ar sua velha rede para pescar a alguns metros de uma praia onde passou toda a sua vida.
Enquanto desenrola a rede de pesca, v� seus 20 netos brincando com t�buas e tambores de pl�stico que flutuam em uma margem repleta de dejetos arrastados pela correnteza, a maioria cobertos de petr�leo.
Nenhum deles sabe ler ou escrever.
- "Nossos pulm�es doem!" -
Maria Villasmil, filha de �ngel, lembra de seus anos de col�gio com alegria. "A professora me aprendeu (ensinou) muitas coisas, ler, escrever", diz esta m�e de 21 anos.
"Quero que a minha filha tamb�m aprenda. Aqui tem muitas crian�as que querem estudar e n�o podem faz�-lo porque n�o tem escola", assegura, referindo-se � sua pequena Sheira, de tr�s anos.
Mas em Olog�, a falta de educa��o est� longe de ser o problema principal. �ngel, que n�o estudou, embora a escola funcionasse em sua �poca, entra todos os dias no lago tentando pescar alguma coisa para vender e alimentar sua fam�lia.
Francisco Romero, nascido h� 67 anos neste povoado flutuante, garante que "nestes tempos a vida tem sido dura".
"N�o temos eletricidade, �gua bebemos quando chove, de resto temos que buscar �gua no rio", comenta em sua palafita feita de paredes de latas desmontadas, onde mora com outros nove familiares.
A fuma�a da lenha usada para cozinhar impregna o ar. H� anos n�o t�m acesso ao g�s dom�stico. "Nossos pulm�es doem!", exclama.
O pouco combust�vel que chega � levado pelos compradores de peixe, que costumam pagar por escambo com gasolina ou "um pouco de comida", em especial arroz ou farinha de milho.
Muitos foram "para terra p�r os jovens no col�gio", diz Francisco, mas a crise os obriga a voltar.
"V�o embora e voltam outra vez para c�, a vida em terra n�o � igual � daqui, a gente tira o peixe e come, mas em terra se voc� n�o tem um 'bolivita' (moeda), n�o come", explica.
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OLOG�
'Aqui todos somos ignorantes': a vida sem ler ou escrever em um povoado na Venezuela
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