A entrega do pr�mio a Muratov, de 59 anos, coincide com o 15� anivers�rio do assassinato de sua ic�nica jornalista Anna Politkovskaya, cujo crime prescreveu na quinta-feira (7) sem que seus autores intelectuais tenham sido responsabilizados perante a Justi�a.
O Nobel tamb�m vem no momento em que a onda de repress�o contra a oposi��o russa se intensifica, e a m�dia independente e ONGs cr�ticas ao Kremlin s�o acusadas de extremismo, ou de trabalharem para pa�ses estrangeiros.
"N�o iremos a lugar nenhum, n�o somos agentes pagos por pa�ses estrangeiros, n�o recebemos financiamento externo. Vamos ficar para viver e trabalhar na R�ssia", insistiu Muratov em mar�o passado, em meio ao crescente n�mero de opositores e jornalistas que deixa o pa�s, ap�s a pris�o do principal advers�rio do Kremlin, Alexei Navalny.
Nos �ltimos anos, o Novaya Gazeta publicou artigos sobre corrup��o, informa��es sobre execu��es extrajudiciais e persegui��es contra homossexuais na Chech�nia e tamb�m participou da investiga��o internacional dos "Panama Papers", sobre lavagem de dinheiro em para�sos fiscais.
- O fantasma do fechamento -
Desde sua cria��o em 1993, o Novaya Gazeta pagou um alto pre�o por seu trabalho, e seis de seus funcion�rios foram assassinados. A todos eles, Muratov dedicou o Pr�mio Nobel conquistado nesta sexta-feira.
"N�o posso levar o cr�dito. � do Novaya Gazeta. � dos que morreram defendendo o direito das pessoas � liberdade de express�o", disse, citando seus nomes um a um.
O caso mais not�rio � o de Anna Politkovskaya, conhecida por suas cr�ticas �s pol�ticas do Kremlin na Chech�nia. Ela foi assassinada em 7 de outubro de 2006. Os autores intelectuais do crime ainda n�o foram identificados.
"N�o � segredo para ningu�m que, quando Anna Politkovskaya foi assassinada, eu quis fechar o jornal (...) Este jornal � perigoso para a vida das pessoas", disse � AFP Muratov, que � editor-chefe do jornal praticamente sem interrup��o desde os anos 1990.
Mas os jornalistas convenceram-no a seguir adiante.
O ano de 2009 foi especialmente dif�cil, com tr�s colaboradores do jornal assassinados, incluindo uma pessoa muito pr�xima de Politkovskaya, Natalia Estemirova. Ela foi sequestrada em Grozny e encontrada morta, pouco depois, na vizinha Rep�blica da Inguch�tia.
A hist�ria do Novaya Gazeta come�ou quando jornalistas do Komsomolskaya Pravda decidiram criar um novo meio de comunica��o.
O �ltimo l�der da era sovi�tica, Mikhail Gorbachev, ajudou-os a lan��-lo investindo o dinheiro recebido justamente quando ganhou o Pr�mio Nobel da Paz em 1990, explicou o editor-chefe da �poca, Sergei Kojeurov.
- A investiga��o -
Gorbachev ainda det�m, junto com o empres�rio Alexander Lebedev, muito cr�tico do Kremlin, partes minorit�rias do jornal. O restante pertence � reda��o.
O primeiro n�mero desta publica��o saiu em 1� de abril de 1993.
"Est�vamos divididos em tr�s equipes: um dia, �ramos jornalistas; outro dia, tip�grafos; e outro, designers", diz a reda��o em seu site, ironicamente, sobre os poucos meios de que dispunham na �poca.
O jornal rapidamente come�ou a se destacar pela qualidade de seu trabalho investigativo.
O Novaya Gazeta se aprofundou em temas delicados, inclusive aqueles que, desde que Vladimir Putin chegou ao poder em 2000, eram inacess�veis a outras m�dias - a come�ar pela guerra na Chech�nia.
At� hoje, o jornal, que � publicado tr�s vezes por semana, continua a oferecer artigos de investiga��o longos, aprofundados e contundentes, mesmo sabendo que isso coloca seus profissionais sob os holofotes das autoridades.
Em 2016, o Novaya Gazeta denunciou a exist�ncia de um complexo sistema de empresas offshore vinculadas ao presidente russo, analisando o material descoberto pelos "Panama Papers". Estes documentos foram divulgados pelo Cons�rcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em ingl�s).
Em abril de 2017, o jornal tamb�m publicou a exist�ncia de "campos de deten��o secretos" para homossexuais na Chech�nia. Muito respeitado no exterior, o Novaya Gazeta continua sendo um meio ainda marginal na R�ssia, onde � lido por uma minoria.
MOSCOU