"O que quero � ver minha m�e", diz o t�mido Julio, que acaba de cruzar para o Chile com o pai em Colchane, na fronteira com a Bol�via, em pleno altiplano.
� frente eles t�m o deserto do Atacama. Mais de 100 mil quil�metros quadrados de solo �rido, uma terra est�ril de 1.600 km de comprimento e at� 180 km de largura.
A hist�ria de Julio � a de centenas de crian�as que dormem em terminais de �nibus ou no meio do caminho entre Antofagasta, Colchane, Iquique e Arica, constataram jornalistas da AFP em um grande giro pela regi�o.
"N�o vejo minha m�e desde os cinco anos, s� por videochamadas", conta Julio, com frio e sede, ap�s uma viagem de 12 dias "cheia de sustos". Pai e filho deixaram Caracas com mais recursos do que outros migrantes, o que lhes permitiu viajar de �nibus para a Bol�via a um custo de US $ 1.400.
Mas ainda faltam quase 2.000 km para chegar at� Karina Alvarado, a m�e da crian�a que acompanha nervosamente seus passos desde Santiago.
Crian�as e adultos caminham por povoados e estradas com sacolas nos ombros, a maioria com beb�s nos bra�os e outros com animais de estima��o.
"Levo a crian�a para a m�e em Santiago e (vamos) com nosso companheiro Beethoven", diz Jes�s Ruiz, que viaja com Benjamin (10) e um cachorro grande, seu "grande companheiro de vida".
O Chile � o terceiro destino da regi�o para as 5,5 milh�es de pessoas que deixaram a Venezuela, atolada na pior crise pol�tica e econ�mica de sua hist�ria moderna, o segundo �xodo atual mais importante do mundo depois do s�rio. O pa�s recebeu 460 mil venezuelanos, n�mero superado apenas pela Col�mbia e pelo Peru, com 1,8 e 1,1 milh�o respectivamente, segundo o ACNUR.
- Estigmas -
Em 25 de setembro, um grupo de chilenos em Iquique protestou contra os migrantes venezuelanos instalados em espa�os p�blicos e queimou suas roupas, brinquedos, cobertores e tendas doados por organiza��es locais e vizinhos.
"Fatos dessa natureza n�o surgem por gera��o espont�nea, mas se alimentam do discurso que assimila a migra��o ao crime, criminalizando os migrantes aos olhos da popula��o local", alerta o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, Felipe Gonz�lez Morales.
"Mas, por conta de alguns poucos, n�o vamos julgar um pa�s inteiro", afirma Jenny Pantoja, de 34 anos, que espera a ajuda prometida por um grupo de vizinhos em Iquique para viajar a Santiago com seus cinco filhos, um neto, o pai dos filhos e um genro.
"Agradecemos aos Carabineros da fronteira porque nos emprestaram uma barraca para dormir e na verdade est�o fazendo um trabalho muito bom com os venezuelanos, que Deus os aben�oe", declara sobre a pol�cia chilena.
- Barricadas -
Uma barricada de pedras bloqueia parte da rota de Colchane a Iquique. "D�-me �gua, por favor", diz um dos rapazes. S�o 12, todos pedem socorro, sobem � for�a em caminh�es.
Perto da passagem de fronteira no altiplano, Gregory, um vendedor de 26 anos e outros nove venezuelanos, mais jovens que ele e que se conheceram na estrada desde que deixaram a Venezuela, passaram a noite ao redor de uma fogueira para enfrentar o frio de - 3�C a 4.000 metros de altitude.
Em outro trecho do deserto, uma fam�lia de Maracaibo com dois filhos de 7 e 5 anos e um beb� de dois meses caminha � beira de uma estrada na zona industrial de La Negra de Antofagasta.
Faz muito calor e h� pequenos tornados de areia. Um caminh�o para e concorda em lev�-los at� Coquimbo, 862 km ao sul.
"A �nica coisa que sei � que eles s�o pessoas como voc� e eu. Eu os vejo com seus beb�s e penso nos meus", comenta � AFP o caminhoneiro.
Gonz�lez Morales explica que as fam�lias venezuelanas "fogem de uma grave crise humanit�ria" e garante que � "fundamental dar-lhes prote��o internacional".
- Entrar no Chile -
No marco da fronteira com a Bol�via, o cabo S�nchez parece estoico em sua guarda, mas desmorona ao descrever "os dias dif�ceis, em que mulheres chegam com muito pouco e com rec�m-nascidos com frio".
Quase um quil�metro depois, um oficial dos Carabineros cumprimenta um grupo de migrantes com entusiasmo: "Como voc� est�? Est� mais feliz hoje?"
Ele dita os procedimentos para cadastr�-los, dar-lhes bebidas quentes, alimentos e aloj�-los em abrigos.
Alguns v�m direto da Venezuela, mas muitos viviam na Col�mbia, Equador ou Peru. Todos querem trabalhar no Chile, onde dizem que h� mais trabalho e uma vida melhor.
Em Arica, na fronteira com o Peru, o major dos Carabineros Patricio Aguayo explica em uma patrulha de fronteira que busca interceptar traficantes de pessoas e que sua miss�o � proteger os migrantes e apoi�-los.
A noite cai e a patrulha detecta um grupo de sete venezuelanos. Sob os far�is do ve�culo ficam paralisados, se abra�am, mostram p�nico, enquanto Aliegnis, de 10 anos, se agarra � m�e, desata a chorar e implora para poder entrar no Chile.
IQUIQUE