
Uma recente pesquisa global com 10 mil entrevistados em dez pa�ses descobriu que muitos jovens est�o profundamente preocupados com as mudan�as clim�ticas.
Quase 60% dos participantes, com idades entre 16 e 25 anos, disseram se sentir "muito ou extremamente preocupados".
Para tr�s quartos deles, "o futuro era assustador". Mais da metade (56%) acredita que a humanidade est� "condenada".
Desde 1995, l�deres mundiais t�m se reunido para c�pulas do clima global, chamadas COPS.
Com a proximidade da 26ª c�pula, marcada para acontecer no in�cio de novembro em Glasgow, na Esc�cia, a BBC conversou com jovens mulheres de pa�ses em desenvolvimento que nasceram depois de 1995, como a brasileira Sabrina Oliveira.
E todas compartilham algo em comum: um medo real sobre o futuro.
Confira os depoimentos.

Sabrina Oliveira, 19 anos
Pesqueira, Pernambuco
Passei minha inf�ncia em uma �rea rural perto de Pesqueira, no agreste pernambucano.
Agora moro na cidade de Areia, no Estado da Para�ba, onde estudo Biologia na universidade.
A seca est� deixando a vegeta��o aqui mais seca. As �rvores est�o desaparecendo, os p�ssaros est�o diminuindo e as vacas est�o ficando mais magras.
Outubro � o m�s em que nossos reservat�rios deveriam estar cheios de �gua, mas ultimamente n�o tem chovido o suficiente.
Nossa cidade teve que racionar �gua.
A maioria das pessoas por aqui vive da agricultura e da venda de leite e queijo. Elas normalmente possuem de cinco a 20 vacas. Algumas pessoas est�o soltando as vacas na selva para ver se conseguem encontrar comida l�.
J� vi fazendeiros pagar cerca de R$ 250 para comprar �gua em caminh�es-pipa.
H� muita ansiedade em rela��o ao nosso futuro. Sinto isso e os outros ao meu redor, tamb�m. Nos perguntamos se haver� �gua no futuro.
Tememos por nossa natureza.
Sou volunt�ria em uma organiza��o que ajuda agricultores a implementar solu��es tecnol�gicas para tornar a agricultura sustent�vel.
Alguns deles abra�am as novas tecnologias, mas outros continuam com a pr�tica de corte e queima para abrir �reas de floresta para o cultivo.
Pessoalmente, estou perdendo as esperan�as, porque os dados ambientais n�o s�o um bom press�gio.
� muito alarmante ver o n�mero de inc�ndios florestais aumentar.
Precisamos fazer a nossa parte controlando o uso de �gua, reciclando e reduzindo o consumo de carne.
Mas em termos globais, as grandes empresas s�o as principais culpadas. O governo prioriza os interesses das grandes empresas e precisamos atacar a raiz do problema.

Opeyemi Kazeem-Jimoh, 26 anos
Nig�ria
Nasci em Lagos, na Nig�ria em 1995, quando a primeira c�pula do clima da COP foi realizada em Berlim.
Estou com raiva porque os l�deres mundiais falam demais e fazem de menos.
A Nig�ria e a maior parte da �frica n�o contribu�ram muito para as causas das mudan�as clim�ticas.
No entanto, infelizmente, temos que conviver com a maioria de seus piores efeitos.
� necess�rio um plano de a��o coletivo em n�vel global. Mas todos precisam se adaptar localmente.
Quando era crian�a, uma tia minha perdeu a casa durante as enchentes. O mesmo aconteceu com meus amigos.
Os padr�es clim�ticos mudaram. A esta��o das chuvas n�o chega mais na �poca normal do ano.
E quando chega, � mais intensa, causando muito alagamento.
Esses eventos eram muito mais raros no passado; talvez uma vez em uma d�cada. Mas agora as inunda��es est�o acontecendo com muito mais frequ�ncia.
Ap�s a formatura, comecei a atuar como volunt�ria para algumas ONGs envolvidas em mudan�as clim�ticas, especialmente na atualiza��o de mapas de inunda��es.
Lagos � muito plana, por isso, n�o existem muitas zonas � prova de enchentes.
Imagine comprar uma casa. � uma decis�o de longo prazo, na qual voc� investe muito dinheiro e isso est� se tornando cada vez mais dif�cil.
Mas vale realmente a pena? Voc� n�o sabe se sua casa vai ficar submersa em dez ou 20 anos.
Comparei o mapa atual da cidade com imagens de sat�lite de dez anos atr�s.
Ele mostra como a terra entre as �reas habitadas e o mar est� encolhendo. A �gua do mar est� cada vez mais perto.
N�o sei como vamos viver aqui em uma d�cada.
Fora da cidade, os agricultores n�o conseguem ganhar a mesma quantidade de dinheiro. Estou preocupada pois talvez n�o teremos comida suficiente para comer no futuro.
Precisamos de mais consci�ncia e mais a��o dos governos para impedir a destrui��o.

Ameera Latheef, 23 anos
Mal � , Ilhas Maldivas
Cresci em uma ilha ao norte de Male, a capital das Ilhas Maldivas. Quando saio de casa, posso literalmente ver a praia e o mar.
Sempre que estou feliz, triste, zangada ou com vontade de celebrar algo, vou � praia. O mar � minha terapia. Sempre me acalmou e aumentou meu n�vel de felicidade.
�s sextas-feiras, a maioria das fam�lias vai � praia aqui, como se fosse uma tradi��o. Podemos ver pessoas de todas as idades.
Quando tinha 16 anos, fui diagnosticada com c�ncer e tive que me mudar para a �ndia para tratamento. Depois de passar 32 meses l�, voltei para minha ilha.
Ao chegar � praia, meu lugar de sempre, onde costumava sentar e ouvir as hist�rias da minha av�, ela havia sumido.
O lugar onde brinquei com meus amigos estava debaixo d'�gua. A palmeira perto da costa havia sumido.
Foi devastador. Fiquei com o cora��o t�o partido. Era como se uma parte da minha identidade tivesse sido destru�da.
Al�m disso, o branqueamento de corais (fen�meno que leva � morte dos corais devido ao aumento da temperatura das �guas) est� acontecendo com muita frequ�ncia agora. Por causa do aquecimento global, nossos recifes de coral est�o morrendo.
N�o temos as ferramentas para lidar com o impacto das mudan�as clim�ticas.
�s vezes, vejo pessoas tentando interromper a eros�o colocando pedregulhos e pedras na costa.
Se o aumento do n�vel do mar continuar como est�, 80% das Maldivas ter�o desaparecido at� 2100.
� um cen�rio apocal�ptico para n�s. � doloroso pensar que um dia toda a popula��o do pa�s ter� de partir.
As Maldivas e muitas outras na��es insulares est�o na vanguarda das mudan�as clim�ticas.
Mas o dano n�o vai parar apenas a�. Mais cedo ou mais tarde, os pa�ses desenvolvidos tamb�m ser�o atingidos.
Comecei a estudar para o bacharelado em Gest�o Ambiental — um assunto que me agrada muito.
Acredito que os pa�ses do G-20 t�m uma grande responsabilidade no combate �s mudan�as clim�ticas.
J� falamos demais; � hora de agir agora.

Fithriyyah Iskandar, 24 anos
Born�u Ocidental, Indon�sia
Cresci em Pontianak, uma cidade que fica pr�xima � Linha do Equador.
O aquecimento global est� tornando a vida muito mais dif�cil.
O tempo est� ficando mais quente e imprevis�vel. �s vezes, fica quente e seco, seguido por um dil�vio.
Nessa parte da ilha, temos solo de turfa. Durante a esta��o seca, ele pode facilmente pegar fogo.
O fogo pode se espalhar rapidamente e � dif�cil de extinguir. Ele queima e se espalha at� mesmo sob o solo.
Pete � um dep�sito de carbono. Uma vez em chamas, os gases de carbono s�o liberados na atmosfera.
As atividades humanas, como o desmatamento comercial da floresta para o cultivo de �leo de palma, est�o piorando as coisas.
Em 2015, tivemos os piores inc�ndios florestais da hist�ria. A polui��o atingiu o sul da �sia.
Em 2019, estava em um voo voltando para minha cidade. O avi�o teve que ser desviado porque a visibilidade era muito baixa.
Normalmente, no in�cio de mar�o, come�amos a ter problemas de polui��o atmosf�rica. E isso pode durar at� tr�s meses por ano.
Terminei minha gradua��o em Medicina e agora estou fazendo um est�gio. A maioria dos pacientes que trato sofre de infec��es respirat�rias nas vias superiores.
Medimos a qualidade do ar regularmente. Quando piora, as pessoas ficam com dor de garganta, febre, tosse e outros problemas respirat�rios.
Quando sa�mos de casa, temos que colocar m�scaras.
As pessoas est�o aprendendo a lidar com essas mudan�as.
Moro com minha av�. Estou profundamente preocupada com a sa�de da minha fam�lia.
Como m�dica, sei que, se a qualidade do ar continuar piorando, mais pessoas ficar�o doentes e morrer�o.

Sokoita Sirom Ngoitoi, 20 anos
Arusha, Tanz�nia
Sou da comunidade Maasai — um grupo �tnico ind�gena na �frica. Seguimos um estilo de vida semi-n�made. Criamos gado, cabras e ovelhas.
Acho que os Maasai t�m uma cultura extraordin�ria e valorizamos nossas tradi��es.
Mas nosso povo e gado est�o sendo infectados por novas doen�as.
Quando era crian�a, bebia leite direto da vaca, sem ferver. Era uma coisa comum de se fazer.
Agora, nossos filhos ficam doentes quando bebem leite que n�o foi fervido.
Al�m disso, a produ��o de alimentos diminuiu.
O tempo est� ficando mais quente. A precipita��o � imprevis�vel e espor�dica.
As mulheres Maasai agora precisam caminhar longas dist�ncias para buscar �gua para suas fam�lias e seus rebanhos.
O vento carrega muita poeira para nossos assentamentos. A seca for�ou algumas fam�lias Maasai a se mudarem em busca de melhores pastos e �gua.
O futuro parece sem esperan�a para mim. Temo que as coisas piorem nas pr�ximas d�cadas.
As mudan�as clim�ticas est�o nos for�ando a mudar nosso estilo de vida. Menos chuvas significam mais fome. Nossa identidade e sobreviv�ncia est�o em perigo.
Mudar-se para as cidades ser� desastroso para nossa comunidade. Como outras tribos, as meninas Maasai acabam se prostituindo ou se transformando em empregadas dom�sticas nas cidades. Os jovens v�o se envolver com as drogas.
� muito assustador pensar em um cen�rio t�o sombrio, nossas m�sicas e dan�as morrendo e a pr�xima gera��o n�o sendo capaz de falar a l�ngua Maa.
Por enquanto, a compreens�o das mudan�as clim�ticas � pequena em minha comunidade, apenas um pequeno n�mero de pessoas percebe as consequ�ncias devastadoras.
Algumas ONGs est�o tentando conscientizar e ensinar estrat�gias para enfrentar o aquecimento global.
As pessoas s�o aconselhadas a n�o criar muitos animais porque, quando vier a seca, todos podem morrer. As fam�lias s�o incentivadas a manter um pequeno n�mero de vacas que seja f�cil de manejar.
Elas tamb�m aprendem sobre como evitar o desmatamento.
Minha comunidade est� usando energia solar. E estou plantando �rvores e tentando influenciar outras pessoas a fazer o mesmo.
Mas, em n�vel global, precisamos de novas regras para governar atividades importantes como minera��o, agricultura, desmatamento e gest�o de res�duos.
*Com reportagem adicional de Pablo Uch�a
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube ? Inscreva-se no nosso canal!
