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Estado de Minas INTERNACIONAL

Protestos indicam realinhamento de for�as pol�ticas no Equador, diz analista


28/10/2021 11:15

Um aumento no pre�o dos combust�veis levou ind�genas, camponeses e setores sindicais �s ruas contra o presidente do Equador, Guillermo Lasso, na ter�a-feira, 26, e quarta-feira, 27, aumentando a tens�o no cen�rio pol�tico do pa�s. A movimenta��o acontece em meio a um estado de exce��o, declarado em 18 de outubro, e a uma crise econ�mica desencadeada pela pandemia.

Para o professor e pesquisador da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales Franklin Ramirez, os protestos, que se assemelham �s grandes manifesta��es de 2019, s�o um teste interno e externo para o movimento ind�gena, hoje figura central da oposi��o equatoriana. Tamb�m s�o uma forma encontrada pelos setores populares de combater a agenda de reformas pr�-mercado de Lasso.

Para al�m do aumento no pre�o dos combust�veis, quais s�o as raz�es dessas manifesta��es?

O combust�vel � uma pauta que existe desde os protestos de outubro de 2019, a Conaie (Confedera��o de Nacionalidades Ind�genas) insiste nisso. Na �poca, a demanda era a retirada do decreto (assinado pelo ent�o presidente Len�n Moreno) que acabou com os subs�dios para combust�veis, hoje � a revis�o de pre�os. � uma demanda que j� tem um ciclo prolongado. Mas al�m disso, os protestos t�m muita ades�o de sindicatos que tentam barrar as reformas laborais que o Executivo pretende mandar para a Assembleia. E h� um terceiro aspecto: os Pandora Papers e a necessidade de fiscalizar o presidente. Eu diria que em geral esses protestos s�o uma tentativa dos movimentos sociais e dos setores populares de procurar um redirecionamento geral da agenda p�blica de um presidente que j� se mostrou disposto a levar suas reformas pr�-mercado o mais longe poss�vel, ainda que n�o tenha for�a pol�tica na Assembleia para isso.

De que forma elas se conectam com os protestos de 2019?

Uma primeira conex�o � o protagonismo e a centralidade do movimento ind�gena. Em 2019 a convocat�ria foi feita por muitos setores, mas quem acabou na lideran�a foi a Conaie, por meio de uma alian�a entre o movimento ind�gena e os sindicatos de trabalhadores e professores. A segunda conex�o � a cr�tica �s reformas neoliberais que ressurgiram a partir de 2018, sobretudo em 2019, quando se firmou o acordo com o FMI. Em terceiro lugar, eu diria que elas se conectam porque desde 2019 o protagonismo do movimento ind�gena reacomodou o tabuleiro pol�tico, e isso se refor�a agora, quando a Conaie se torna a figura mais clara de reivindica��o do campo popular frente �s elites neoliberais e frente � indecis�o de (o ex-presidente e opositor) Rafael Correa. Mas h� um aspecto muito importante a ser destacado: nos �ltimos anos, vimos com claridade que o movimento ind�gena � muito heterog�neo. H� setores do movimento que est�o com Lasso, com o governo, h� uma parte da bancada legislativa do (partido ind�gena) Pachakutik que vem votando algumas iniciativas com Lasso. A presidente da Assembleia � do Pachakutik e � uma aliada firme do governo. Ent�o para o movimento ind�gena, essa mobiliza��o � tamb�m uma forma de reassegurar o movimento, de evitar que posi��es mais � direita ou mais pr�-governo ganhem terreno. Esses protestos s�o tamb�m uma forma do movimento ind�gena harmonizar suas posi��es. H� um subtexto a�.

Como est� a popularidade de Lasso neste momento?

A vacina��o deu muita popularidade a Lasso, foi sua medida mais emblem�tica e exitosa, mas a apresenta��o dos projetos de reformas laboral e tribut�ria diminuiu sua popularidade. Depois houve um aumento colossal de inseguran�a, homic�dios, crise carcer�ria... h� uma sensa��o enorme de inseguran�a, com a qual o governo n�o sabe lidar. Depois veio o an�ncio dos Pandoras Papers, isso fez sua popularidade despencar. Lasso tamb�m lan�ou cr�ticas muito fortes aos opositores, acusando-os de golpistas, conspiradores, isso ajuda a explicar a deteriora��o da sua imagem, para al�m da crise social e econ�mica. Na Assembleia ele n�o tem maioria. Ele tamb�m vem perdendo apoio dos seus aliados. A sensa��o � de que ele perdeu muito capital pol�tico em pouco tempo. E suas decis�es de governo e pol�ticas p�blicas n�o est�o resolvendo alguns problemas fundamentais da popula��o.

As elei��es deste ano fortaleceram o movimento ind�gena?

O fortalecimento come�ou antes. Em fevereiro de 2019, nas elei��es locais, o Pachakutik cresceu muito. Houve muita mobiliza��o, se deu a impress�o de que havia uma nova gera��o de jovens ind�genas que irrompiam pela primeira vez em via p�blica. E a� chegam as elei��es desse ano, quando o movimento conquistou uma enorme bancada, a pr�pria vota��o do (candidato a presid�ncia pelo Pachakutik) Yaku P�rez foi bastante significativa. Todas esses fatores deram muita for�a ao movimento social. O movimento ind�gena equatoriano nunca teve duas coisas ao mesmo tempo de modo t�o claro: poder social e poder estatal. Ao mesmo tempo, esse crescimento do movimento ind�gena tamb�m implicou em sua diversifica��o. H� uma direita ind�gena, h� uma s�rie de demandas territoriais muito pontuais de determinados legisladores, e h� uma s�rie de agendas mais pontuais que v�o al�m da luta contra o neoliberalismo, a pol�tica extrativista. O crescimento traz uma diversifica��o que torna muito complexo o movimento. Por isso acredito que essa mobiliza��o tamb�m � uma forma do movimento ind�gena medir suas for�as internas.

Esses protestos podem afetar a estabilidade do pa�s?

Vamos ver se o governo vai dar sinais de di�logo, de abertura. Se n�o der, sim, pode surgir um cen�rio muito mais conflitante. � um governo d�bil em termos de poder institucional, ainda que tenha muito apoio de grupos econ�micos, da m�dia, dos Estados Unidos, mas n�o tem o poder legislativo, a credibilidade entre os cidad�os, e a rela��o com os movimentos sociais � muito fr�gil. Ent�o pode sim haver uma onda maior de mobiliza��o social, ainda que a crise econ�mica e de seguran�a possa desestimular a participa��o civil. Sobretudo o corre�smo est� lidando com muita cautela com a ideia de tomar as ruas, por temor de ser perseguido pelo Estado. H� um setor da popula��o que pensa duas vezes antes de tomar as ruas. Mas h� setores, sobretudo o ind�gena e o sindical, que est�o radicalizados e que sabem que a margem de manobra de Lasso para aprovar suas leis � muito pequena. Mas depende muito. Se n�o tomar for�a, � um ponto a favor do governo, que poder� retomar um pouco o controle das coisas. De qualquer forma, esses protestos parecem ser a chave para um realinhamento de for�as pol�ticas no Equador.


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