No dia em que Alec Baldwin matou acidentalmente a diretora de fotografia Halyna Hutchins, de 42 anos, durante um ensaio, a produ��o enfrentava problemas devido a uma equipe de c�meras que deixou o set em protesto por melhores condi��es de trabalho.
V�rios produtores que trabalhavam no filme com or�amento de menos de 7 milh�es de d�lares - considerado baixo para um filme de a��o - tamb�m tinham pouca experi�ncia.
Sem o apoio de um est�dio grande, "Rust" era financiado por um pequeno grupo de empresas e a expectativa era vender o filme para uma plataforma de streaming, segundo o jornal Wall Street Journal.
Esta � a nova realidade de Hollywood, onde a demanda insaci�vel por conte�do novo para alimentar as plataformas de streaming em expans�o gerou condi��es de filmagem precipitadas, segundo os especialistas.
"H� muita press�o para concretizar os projetos e depois da covid parece haver inclusive mais press�o porque as pessoas est�o tentando lan�ar seus filmes, t�m prazos a cumprir", diz Joyce Gilliard, uma figurinista que sobreviveu por pouco a uma das mais conhecidas trag�dias de Hollywood.
Gilliard quebrou o bra�o quando um trem atropelou uma equipe de produ��o durante as filmagens de "Midnight Rider" em 2014, matando uma cinegrafista. A trag�dia de "Rust" trouxe de volta o "enorme estresse p�s-traum�tico", disse em entrevista � AFP.
"Se as produ��es e os est�dios n�o pensam em seguran�a, isto se espalha para o resto do pessoal", acrescentou. "Come�a de cima".
Os produtores de "Rust" n�o responderam aos v�rios pedidos da AFP para comentar o tema.
Enquanto avan�a a investiga��o sobre o ocorrido no Rancho Bonanza Creek, no Novo M�xico, onde o filme era rodado, especialistas alertam que � imposs�vel estabelecer uma rea��o direta entre a redu��o de custos e a neglig�ncia.
Mas Gregory Keating, professor de direito da Universidade do Sul da Calif�rnia, afirma que "as armas s�o usadas como cenografia nos sets h� mais de 100 anos" e que se os protocolos estabelecidos fossem seguidos, basicamente seria imposs�vel que algu�m fosse morto por uma bala em um set.
"O erro � sempre n�o tomar as precau��es que deveriam ser tomadas. E o contexto aqui � que a redu��o de custos parece algo relevante neste ponto", disse.
"� mais caro fazer as coisas do jeito certo".
Em coletiva de imprensa na quarta-feira, o xerife de Santa Fe, Adan Mendoza, disse que, na sua opini�o, "houve certa complac�ncia no set".
"Acho que h� coisas que devem ser tratadas pela ind�stria do cinema e possivelmente pelo estado", afirmou.
- "Frenesi" -
As contrata��es em "Rust" est�o em an�lise depois que se revelou que o armeiro Neal W. Zoromski, com d�cadas de experi�ncia em Hollywood, rejeitou uma oferta de trabalho no filme por identificar "enormes sinais de preocupa��o" na negocia��o com os produtores.
Zoromski contou ao jornal Los Angeles Times que os produtores rejeitaram seu pedido para ter uma equipe de duas pessoas: um assistente e um encarregado de armas. Para os produtores, uma �nica pessoa devia ser encarregada dos dois trabalhos.
"Nunca se deve ter um assistente fazendo as fun��es de um encarregado de armas. S�o dois trabalhos demandantes", afirmou em entrevista ao jornal.
Uma equipe de c�meras se retirou do set na manh� da quinta-feira, no mesmo dia em que ocorreu o incidente fatal, e foi substitu�do por contratados de �ltima hora que n�o pertenciam a nenhum sindicato.
Os sindicatos t�m um papel crucial em exigir o cumprimento das normas para proteger seus membros, explicou Keating.
"Se o encarregado de armas � um funcion�rio vinculado a um sindicato e n�o pode ser demitido, esta pessoa est� em melhor posi��o para dizer 'n�o h� forma de nos comportarmos assim, n�o se atreva a fazer isso...'", comentou Keating.
A armeira de "Rust" era Hannah Gutierrez Reed, de 24 anos. Filha de um veterano no setor, Gutierrez Reed s� havia trabalhado em um filme antes deste western. Ela tampouco respondeu aos pedidos da AFP para comentar.
Um encarregado de eletricidade, que pediu para n�o ser identificado, disse � AFP que desde que as produ��es voltaram aos sets depois dos confinamentos da pandemia, tem sido mais dif�cil do que nunca contratar gente.
"Tem esse frenesi, essa demanda por conte�do para compensar o tempo perdido", disse. "Acho que o que impera � a mentalidade de 's� termine, termine, termine'".
LOS ANGELES