
Os tubar�es-tigre, em particular, s�o frequentadores habituais da enseada de Shark Bay.
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Estes enormes peixes predadores passam seus corpos de 4,5 m pelas ervas marinhas, pegando de vez em quando um imponente peixe-boi que est� no caminho como refei��o.
Embora a presen�a de tubar�es-tigre seja uma amea�a para suas presas, esses predadores s�o cruciais para a sa�de do ecossistema marinho que sustenta ambas as esp�cies.
Na verdade, apesar da conhecida reputa��o dos tubar�es entre os humanos, eles tamb�m podem ser um aliado poderoso para conter as mudan�as clim�ticas.
Tudo come�a com os finos fios de ervas marinhas que balan�am com as ondas na parte rasa de Shark Bay.
Esta erva marinha serve de alimento para os peixes-boi e dugongos — que consomem cerca de 40 kg de ervas marinhas por dia —, assim como para manatis e tartarugas-verdes.
Os dugongos, que podem pesar at� 500 kg, s�o uma rica fonte de alimento para os tubar�es-tigre.
Ao manter a popula��o de peixes-boi sob controle, os tubar�es-tigre em Shark Bay ajudam as pradarias marinhas a prosperar.
Uma pradaria marinha pr�spera armazena duas vezes mais CO² por milha quadrada do que as florestas normalmente armazenam em terra.
Mas, globalmente, o n�mero de tubar�es-tigre est� diminuindo, incluindo algumas popula��es na Austr�lia.
Na costa nordeste de Queensland, estima-se que as popula��es de tubar�es-tigre tenham ca�do em pelo menos 71%, devido principalmente � pesca predat�ria e � captura acidental.
Uma redu��o no n�mero de tubar�es-tigre significa mais ervas marinhas sendo consumidas por herb�voros, o que significa que menos carbono � sequestrado pela vegeta��o marinha.
No Caribe e na Indon�sia, onde as popula��es de tubar�es diminu�ram, a pastagem excessiva por herb�voros, como tartarugas marinhas, j� � uma amea�a profunda aos habitats de ervas marinhas — e levou a uma perda de 90 a 100% das ervas marinhas.
Al�m de significar que menos carbono � absorvido, a perda de ervas marinhas tamb�m torna o habitat menos capaz de se recuperar de eventos clim�ticos extremos causados %u200B%u200Bpor mudan�as clim�ticas, como ondas de calor.
Uma das piores ondas de calor da Austr�lia Ocidental ocorreu em 2011, com a temperatura do oceano subindo at� 5°C durante dois meses.

A onda de calor foi catastr�fica para a esp�cie dominante de ervas marinhas da ba�a, a Amphibolis antarctica , que forma pradarias ricas e densas que ret�m sedimentos e fornecem alimento para os herb�voros.
Mais de 90% da Amphibolis antarctica foi perdida, a maior perda conhecida em toda a ba�a.
Esta perda de ervas marinhas foi, perversamente, um deleite para os peixes-boi, que adoram um tipo de erva marinha tropical menor e mais dif�cil de encontrar, normalmente protegida pela alta e densa Amphibolis antarctica .
Quando as ervas marinhas tropicais est�o mais acess�veis, os peixes-boi em seu entusiasmo s�o conhecidos por procur�-las de forma destrutiva, o chamado "forrageamento de escava��o", desenterrando os rizomas de suas ervas marinhas preferidas e tornando mais dif�cil para o denso leito da Amphibolis antarctica se recompor.
Em Shark Bay, os tubar�es-tigre foram de alguma forma capazes de restaurar o equil�brio, mantendo o n�mero de peixes-boi baixo, e nem todas as ervas marinhas da ba�a foram perdidas.
Mas isso levantava a seguinte quest�o: e se os tubar�es estivessem ausentes da ba�a — o ecossistema dominado pela Amphibolis antarctica sobreviveria?
Para descobrir, pesquisadores liderados por Rob Nowicki, da Universidade Internacional da Fl�rida, nos EUA, passaram um tempo no leste da Austr�lia, onde o n�mero de tubar�es era menor, e os peixes-boi pastavam praticamente sem serem perturbados.
L�, os mergulhadores desceram e arrancaram as ervas marinhas, simulando a pastagem dos peixes-boi quando n�o havia predadores para det�-los— o entusiasmado e destrutivo forrageamento de escava��o.

Sem d�vida, eles observaram uma perda r�pida na cobertura de ervas marinhas, particularmente de Amphibolis antarctica , e o ecossistema come�ou a mudar para um cen�rio mais tropical, dominado por ervas marinhas tropicais.
"Aprendemos que, quando n�o � controlada, a pastagem dos dugongos pode destruir rapidamente grandes �reas de ervas marinhas quando realizam o forrageamento de escava��o", diz Nowicki.
Essas mudan�as podem ser duradouras.
"Quando as ervas marinhas se recuperam, a comunidade de ervas marinhas parece diferente, com esp�cies diferentes dominando."
Estas descobertas enfatizaram o papel que os tubar�es estavam desempenhando em Shark Bay.
"Sem os tubar�es-tigre controlando os dugongos, a ba�a provavelmente se converteria em sua maioria em ervas marinhas tropicais", afirma Nowicki.
Se as popula��es de tubar�es continuarem diminuindo no ritmo que est�o ao redor do mundo, a resili�ncia dos ecossistemas oce�nicos ricos em carbono a eventos clim�ticos extremos, como ondas de calor, provavelmente ficar� comprometida, concluiu a equipe de Nowicki.
Dito isso, Becca Selden, professora assistente de Ci�ncias Biol�gicas no Wellesley College, nos EUA, diz que as consequ�ncias para Shark Bay podem ser mais profundas do que para a maioria, devido ao seu ecossistema �nico.
"O forte efeito pode ter sido refor�ado por sua cadeia alimentar comparativamente simples no ecossistema de ervas marinhas, em que os predadores limitam a pastagem por um megaherb�voro", explica Seldon.
Em outras palavras, outros habitats costeiros podem n�o se sair t�o mal quanto Shark Bay quando colocados sob press�o semelhante.
Al�m de manter o n�mero de peixes-boi baixo e tornar os ecossistemas de ervas marinhas mais resistentes, os tubar�es-tigre tamb�m desempenham outro papel crucial na manuten��o da sa�de do habitat.
Eles agem como fertilizantes potentes quando evacuam e quando morrem nas pradarias.
"Vertebrados longevos podem atuar como sumidouros de carbono quando o carbono consumido na superf�cie do oceano � transferido para o fundo do oceano por fezes e/ou carca�as que caem no fundo do mar", diz Selden.
Esse fen�meno, conhecido como sequestro de carbono, � bem conhecido no caso das baleias, mas h� pesquisas que mostram que os mesmos benef�cios existem quando se trata de tubar�es.
Um estudo conduzido por Jessica Williams, da Universidade Imperial College London, no Reino Unido, descobriu que os tubar�es-cinzentos-dos-recifes, comumente encontrados em ecossistemas de recifes rasos, transferem nutrientes como nitrog�nio para seus habitats por meio de mat�ria fecal.
Eles estimaram que a popula��o de mais de 8 mil tubar�es cinzentos no Atol de Palmyra fornecia cerca de 94,5 kg de nitrog�nio por dia.

Como os tubar�es-tigre em Shark Bay passam muito tempo ca�ando e se movendo pelos leitos de ervas marinhas, � prov�vel que forne�am benef�cios fertilizantes semelhantes a essas plantas.
"Os grandes tubar�es pel�gicos podem ser os colaboradores mais importantes para esse efeito, incluindo o tubar�o-azul, o tubar�o-mako e o tubar�o-martelo", afirma Selden.
Quando se trata de aumentar o n�mero de tubar�es, os conservacionistas enfrentam um advers�rio formid�vel: a ind�stria pesqueira.
De acordo com Nowicki e Selden, tem havido um movimento em dire��o a uma pesca mais sustent�vel, mas uma grande parte da ind�stria n�o modificou seus m�todos, o que � um dos principais motivos pelos quais muitos superpredadores marinhos continuam em decl�nio.
A varia��o no rigor das leis de prote��o animal entre os diferentes pa�ses tamb�m desempenha um papel nisso.
"Como muitos peixes predadores tamb�m s�o abrangentes, eles podem abranger as jurisdi��es de muitas na��es, algumas das quais podem n�o proteg�-los ou adotar pr�ticas pesqueiras sustent�veis", diz Nowicki.
Reduzir a pesca ilegal e n�o sustent�vel tem sido uma batalha dif�cil, embora os consumidores estejam se tornando mais conscientes do ponto de vista ambiental e escolhendo pescados sustent�veis, %u200B%u200Bem vez de n�o sustent�veis.
"A gest�o sustent�vel, coordenada e baseada no ecossistema da pesca � uma ferramenta importante para conservar esses predadores e seu papel ecol�gico. Os cidad�os comuns podem fazer isso se informando, lendo sobre ci�ncia, exigindo que a pesca se torne ou permane�a sustent�vel e comprando frutos do mar sustent�veis", sugere Nowicki.
Se voc� n�o tiver certeza de quais frutos do mar s�o realmente sustent�veis, o Marine Stewardship Council (MSC) avalia a pesca internacionalmente — portanto, se um distribuidor for certificado como sustent�vel, haver� um selo azul do MSC na embalagem.
E al�m de apoiar a pesca sustent�vel, Nowicki diz que a �nica maneira de proteger verdadeiramente a vida marinha � reduzindo nossas emiss�es globais de gases de efeito estufa.
"Em �ltima an�lise, se vamos conservar nossos ecossistemas nos s�culos que vir�o, precisaremos resolver as mudan�as clim�ticas e, ao mesmo tempo, cuidar da conserva��o das esp�cies."
Mesmo se as popula��es de tubar�es forem restauradas para n�meros mais abundantes, sua contribui��o para a mitiga��o e sequestro do carbono ser� apenas uma pequena parte no esfor�o para conter as mudan�as clim�ticas.
Mas a abund�ncia de tubar�es tem um efeito em cascata ineg�vel sobre os
diversos ecossistemas marinhos que dependem de ervas marinhas abundantes e saud�veis %u200B%u200Bde uma forma ou de outra.
Ao nivelar o campo de jogo ecol�gico, os tubar�es est�o fortalecendo esses ecossistemas contra a amea�a da mudan�a clim�tica, para que possam viver para sequestrar carbono mais um dia.
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future .
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