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Estado de Minas COP-26

EUA: a��es concretas do Brasil importam mais que aus�ncia de Bolsonaro

Lideran�as de mais de 100 pa�ses fixar�o novos compromissos para evitar cat�strofe ambiental. Brasil participa sob press�o por causa do avan�o do desmatamento


01/11/2021 14:49 - atualizado 01/11/2021 15:11

Área desmatada na Amazônia
Mais importante � o que vai ser colocado na mesa e como vai ser cumprido, diz governo americano (foto: Getty Images)

A aus�ncia do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na C�pula do Clima em Glasgow (COP26) n�o � motivo de preocupa��o para o governo dos Estados Unidos.




"O mais importante para n�s � o que vai ser colocado na mesa como objetivo s�rio e como � que isso vai ser cumprido", afirmou Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos para a Am�rica Latina, em entrevista � BBC News Brasil.

"No caso de uma situa��o t�o complicada como s�o as mudan�as clim�ticas, se o pa�s n�o vem para a confer�ncia colocando objetivos s�rios na mesa, vai ser obviamente muito ruim para o resto do planeta. � isso que estamos tentando ver como � que vai ser de fato", disse Rosales.

Segundo a diplomata americana, � normal que em encontros multilaterais como a COP26 e o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) haja uma participa��o mesclada de chefes de governo, ministros e outras autoridades.

Al�m disso, os Estados Unidos foram informados que Bolsonaro tinha outros compromissos, mas que o Brasil seria representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e outras autoridades.

Durante visita a Roma para reuni�o do G20, Bolsonaro foi questionado diversas vezes por jornalistas brasileiros sobre os motivos de sua aus�ncia na COP26.

Mas o presidente, que acabou escanteado por outros mandat�rios no G20 e enfrenta forte press�o internacional por causa do desmatamento, permaneceu calado.

A c�pula do clima reunir� lideran�as de mais de cem pa�ses entre os dias 31/10 e 12/11 em torno de debates sobre os novos compromissos para garantir a meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura m�dia da Terra em 1,5°C.

O Brasil � considerado crucial nos esfor�os globais para evitar uma cat�strofe clim�tica no planeta.

Por isso, a decis�o de Bolsonaro n�o ir � COP26 gerou cr�ticas de outros pa�ses e de organiza��es ambientais.

Segundo o vice-presidente da Rep�blica, Hamilton Mour�o, o mandat�rio brasileiro evitar� a reuni�o do clima porque iriam jogar "pedras" nele.

Rosales, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, refutou uma alegada falta de proximidade entre Bolsonaro e o presidente americano, Joe Biden, por nunca terem falado ao telefone ou se reunido em encontros bilaterais, incluindo durante o G20 em Roma.

A diplomata ressaltou que os dois pa�ses s�o parceiros estrat�gicos e que autoridades dos Estados Unidos est�o em contato frequente com seus pares brasileiros em diversas �reas, como economia, pandemia e meio ambiente.


Jair Bolsonaro em frente a bandeiras dos países do G20
Durante reuni�o do G20, Bolsonaro n�o explicou aus�ncia na COP26 (foto: Getty Images)

O cientista pol�tico Oliver Stuenkel, professor da Funda��o Getulio Vargas (FGV), explica � BBC News Brasil que essas conversas a portas fechadas s�o fundamentais para a rela��o entre pa�ses, sejam aliados ou n�o.

H� dois pontos fundamentais em jogo: avan�ar em temas importantes para os envolvidos e criar la�os pessoais entre l�deres para resolver problemas futuros.

"O fato de Bolsonaro n�o ter essas reuni�es bilaterais com outros chefes de governo em Roma � um sintoma do isolamento do pa�s e acaba agravando isso ainda mais. � isso, por exemplo, que est� atrapalhando a rela��o do Brasil com a China, porque Bolsonaro n�o tem intimidade com Xi Jinping para ser atendido por ele pessoalmente. E isso seria o natural a se fazer na diplomacia para destravar o problema da carne brasileira, que n�o consegue entrar no mercado chin�s."

No caso Brasil-Estados Unidos, o pa�s sul-americano j� foi amea�ado de san��es econ�micas e pode ter exporta��es barradas por causa do desmatamento (leia mais abaixo).

Mas para al�m do isolamento internacional de Bolsonaro, o que afinal o Brasil vai propor de concreto na COP26? E como as propostas brasileiras t�m sido recebidas em outros pa�ses?

Press�o e ceticismo

Durante o governo Bolsonaro, as estat�sticas oficiais e os pesquisadores especializados t�m apontado um forte crescimento do desmatamento e da emiss�o de gases do efeito estufa no Brasil.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destrui��o da Amaz�nia somou 10.129 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019, ultrapassando a marca de 10 mil km² pela primeira vez desde 2008. J� no ano seguinte, o desmatamento teve nova alta, de 9,5%, para 11.088 km².

Dados do Observat�rio do Clima, organiza��o que calcula anualmente as emiss�es de gases do efeito estufa no territ�rio brasileiro, apontam que o desmatamento da Amaz�nia durante o governo Bolsonaro subiu em m�dia 60% a mais do que na d�cada passada.

A organiza��o estima que o desmatamento e o uso do solo para pecu�ria correspondem a cerca de 80% das emiss�es do Brasil, colocando o pa�s como o quarto maior emissor do mundo.

E, na contram�o do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emiss�es de gases poluentes em 2020, ante uma redu��o de 7% na m�dia global (por causa da paralisa��o de voos, ind�strias e servi�os na pandemia).


Área de floresta tropical devastada por queimada, entre Ariquemes e Porto Velho, em Rondônia
Pol�tica ambiental do governo Bolsonaro � alvo de muitas cr�ticas (foto: Getty Images)

O avan�o do desmatamento e dos focos de inc�ndio no Brasil e a flexibiliza��o de regras ambientais pelo governo Bolsonaro levaram a uma press�o internacional sem precedentes para o pa�s.

L�deres europeus, por exemplo, travaram o gigante acordo comercial entre Mercosul e Uni�o Europeia e criam obst�culos � entrada brasileira na Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), conhecida como clube dos pa�ses ricos.

Durante a campanha eleitoral americana, o agora presidente Joe Biden chegou a amea�ar o Brasil de san��es econ�micas por causa de quest�es ambientais.

Al�m disso, o Congresso dos Estados Unidos estuda criar uma lei que pode barrar a importa��o de itens como soja, gado e madeira de pa�ses com �ndices altos de desmatamento florestal se o produtor rural e o importador americano n�o comprovarem que as origens desses produtos — e toda sua cadeia produtiva — passaram ao largo de �reas ilegalmente desmatadas.

O Brasil � citado no texto como um exemplo do problema, e a medida, se for aprovada, pode barrar US$ 500 milh�es (R$ 2,8 bilh�es) em exporta��es brasileiras.

Autoridades brasileiras tentam reverter essa situa��o. Em abril de 2021, por exemplo, Bolsonaro anunciou na C�pula do Clima nos Estados Unidos o compromisso de zerar at� 2030 o desmatamento ilegal e de atingir at� 2050 a neutralidade de carbono (ou seja, reduzir as emiss�es de gases de efeito estufa tanto quanto poss�vel e compensar as emiss�es restantes por meio do plantio de florestas, por exemplo).

Mas esses e outros an�ncios de medidas ambientais do governo brasileiro t�m sido recebidos com desconfian�a no exterior por governos, organismos multilaterais, especialistas e ambientalistas.

"Em qualquer um desses locais, seja a COP26, seja o G20, o governo Bolsonaro vai ser cobrado por resultados primeiro. Isso porque ningu�m mais acredita no governo Bolsonaro. � um governo que n�o tem mais credibilidade nem a menor moral na comunidade internacional pelo que faz e pelo que fala. O governo Bolsonaro falha nas principais pautas globais: na economia, na pandemia e no clima", disse Marcio Astrini, secret�rio-executivo do Observat�rio do Clima.


'COP 26: precisamos de ação, não de promessas', diz cartaz de manifestante em Londres
'COP 26: precisamos de a��o, n�o de promessas', diz cartaz de manifestante em Londres (foto: Getty Images)

4 pontos da participa��o do Brasil na COP26

Durante a COP26, ser�o negociados compromissos ambientais em pelo menos quatro �reas: prote��o de florestas, financiamento de pa�ses ricos a na��es em desenvolvimento, transi��o para carro el�trico e elimina��o do uso de combust�veis f�sseis.

Os dois primeiros, por exemplo, est�o ligados aos pilares da participa��o brasileira na COP26. S�o pelo menos cinco, como explica reportagem da BBC News Brasil:

  • recuperar a credibilidade do pa�s com mudan�as na pol�tica ambiental;
  • garantir uma parcela significativa dos US$ 100 bilh�es (R$ 560 bilh�es) anuais que os pa�ses ricos preveem para financiar o impacto clim�tico em na��es pobres;
  • evitar que na��es desenvolvidas criem puni��es a quem n�o seguir regras estabelecidas por elas (como metas de emiss�o para setores espec�ficos da economia, entre eles a agropecu�ria);
  • regular finalmente o mercado de cr�dito de carbono, que permitiria a pa�ses que n�o atingem as metas comprem o "cr�dito" de outras na��es que est�o em dia com seus compromissos.

Al�m disso, o Brasil tamb�m decidiu assinar um importante acordo sobre prote��o de florestas, sinalizando a outros pa�ses mudan�as no discurso internacional do governo brasileiro sobre pol�tica ambiental.

O texto do acordo florestal, conhecido como Forest Deal, ainda n�o foi divulgado em detalhes, mas ele pode incluir, por exemplo, regulamenta��es que limitem com�rcio internacional de produtos ligados ao desmatamento e financiamento direto a povos ind�genas para preserva��o do meio ambiente em seus territ�rios.

Uma reportagem da BBC News Brasil revelou que, segundo um integrante da delega��o brasileira ouvido sob condi��o de anonimato, o pa�s n�o vai emperrar as negocia��es globais, mas tamb�m n�o ir� aderir a metas de redu��o de emiss�es em setores espec�ficos da economia, como corte da emiss�o de metano na pecu�ria, promo��o de um menor consumo de carne, ou prazo para transi��o de carro � gasolina para carro el�trico — compromissos que a Uni�o Europeia e o Reino Unido defendem.

A principal cobran�a do Brasil na COP26 ser� que pa�ses ricos definam regras claras para pagar os US$100 bilh�es por ano prometidos a na��es em desenvolvimento para projetos relacionados � conten��o das mudan�as clim�ticas. Para o Brasil, o governo quer ao menos US$ 10 bilh�es (cerca de R$ 56 bilh�es) em financiamento externo.

Os US$ 100 bilh�es deveriam ser pagos todo ano, de 2020 a 2025. Mas os pa�ses desenvolvidos j� n�o cumpriram a meta de 2020, e faltam mecanismos que definam onde os recursos podem ser depositados e o formato de escolha dos projetos contemplados.

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