Um ano depois, por�m, Kamala ainda busca descobrir que papel desempenhar nesta que �, por defini��o, uma posi��o ingrata.
A decis�o de Joe Biden de incluir esta ex-senadora da Calif�rnia, de 57 anos, � sua chapa na corrida pela presid�ncia dos EUA foi uma tentativa de enviar uma mensagem a um eleitorado que exigia mais diversidade e mais representatividade da sociedade no alto escal�o do poder.
Inevitavelmente, a decis�o do atual presidente, companheiro de chapa de Barack Obama por dois mandatos, tamb�m colocou os holofotes sobre Kamala Harris.
Antes mesmo de romper barreiras na vice-presid�ncia, Harris foi a primeira mulher e pessoa negra a se tornar procuradora-geral da Calif�rnia e, depois, a primeira senadora de ascend�ncia sul-asi�tica.
Mas esta filha de imigrantes jamaicanos e indianos ainda n�o quebrou outro padr�o, delimitado pela tradi��o pol�tica e pela Constitui��o dos EUA.
"N�o existe uma vice-presid�ncia bem-sucedida. Os vice-presidentes brilham, ou decaem, dependendo do presidente a quem servem", diz Elaine Kamarck.
Segundo esta pesquisadora da Brookings Institution, um renomado "think tank" com sede em Washington, D.C., que escreveu um livro sobre a posi��o de vice-presidente, este posto se tornou puramente cerimonial.
- Inaugura��o dos cris�ntemos -
Durante muito tempo, "a piada era que o vice-presidente era quem ia aos funerais (dos famosos), e n�o o presidente".
"Ent�o, Al Gore mudou o modelo, assumindo fun��es importantes que eram priorit�rias para o presidente Bill Clinton", afirma a pesquisadora.
Depois, veio Dick Cheney, que teve tanta influ�ncia sobre George W. Bush que chegou a ser tema de um filme.
Barack Obama falou muito sobre seu "bromance" (uma contra��o de "brother", irm�o, e "romance", em ingl�s) com Biden, que, por sua vez, mostra grande respeito por sua agora vice-presidente.
Os dois almo�am juntos uma vez por semana, e sua equipe se esfor�a para sempre se referir, em suas comunica��es, �s decis�es do "governo Biden-Harris".
Biden confiou a Harris uma quest�o politicamente muito delicada no pa�s: abordar as causas da imigra��o em condi��o ilegal, diante do crescente fluxo de pessoas que chegam � fronteira sul dos Estados Unidos.
Em junho, como parte dessa miss�o, Harris visitou Guatemala e M�xico.
Em vez de ganhar reconhecimento, esta primeira miss�o internacional rendeu-lhe uma enxurrada de cr�ticas: da ala mais progressista de seu partido, por enviar uma mensagem muito dura ("N�o venham!", disse Kamala a potenciais imigrantes); e da oposi��o republicana, por ter sido branda demais.
Tamb�m se falou muito em Washington sobre uma entrevista dada a uma emissora de televis�o sobre estes temas, na qual Harris se mostrou nervosa e despreparada.
At� agora, ela tem conseguido superar os solavancos e, desde a queda de Cabul e a precipitada retirada das tropas americanas do Afeganist�o em agosto, os holofotes se deslocaram para seu chefe, Biden. H� meses, ali�s, o presidente parece apenas pular de crise em crise.
- "Mais hostilidade" -
"Por ser mulher e negra (...) ela vai receber mais aten��o e hostilidade. N�o acho que ela tenha cometido erros graves", diz Kamarck.
Por enquanto, assim como muitos vice-presidentes antes dela e apesar de viajar muito, inclusive para o exterior, Kamala parece cair no esquecimento.
Em novembro, a vice-presidente viajar� para Paris para dar continuidade � miss�o de concilia��o lan�ada por Biden, ap�s a recente grave crise diplom�tica entre Fran�a e Estados Unidos. A crise foi deflagrada pelo cancelamento de um bilion�rio contrato de compra, por parte da Austr�lia, de submarinos franceses convencionais.
Kamala faz discursos, preside cerim�nias, recebe personalidades, segue o protocolo e n�o se abre para os jornalistas. A postura n�o surpreende, em uma Casa Branca que controla cuidadosamente todos os tipos de comunica��o.
Os partid�rios do ex-presidente Donald Trump - que chamou Harris de "monstro" e questionou, sem qualquer prova, sua cidadania americana - zombam do que consideram uma atitude congelada, ou artificial.
Para os republicanos, al�m de vice-presidente, Harris �, acima de tudo, aquela que poder� liderar os democratas, se Biden, hoje com 78 anos, n�o se candidatar � presid�ncia em 2024.
WASHINGTON