
Nos �ltimos meses, dificilmente um dia se passa sem que haja o an�ncio de alguma resolu��o governamental que enquadra um ou outro setor da economia chinesa.
As duras medidas regulat�rias e o cumprimento rigoroso de regras j� existentes t�m como alvo muitas das maiores companhias do pa�s.
A frase n�o � nova na China. Ela tem sido usada desde a d�cada de 1950, quando foi empregada pelo l�der chin�s Mao Ts�-Tung.
A escalada nas refer�ncias ao termo em 2021, ano em que o Partido Comunista Chin�s celebra seus 100 anos, tem sido interpretada como um sinal de que a "prosperidade comum" ocupa um lugar central nas pol�ticas de Pequim.
O objetivo � encurtar a imensa dist�ncia entre os cidad�os mais ricos e mais pobres da na��o. Alguns avaliam que essa desigualdade coloca em risco a ascens�o da segunda maior economia do mundo e representa uma amea�a existencial para o Partido Comunista Chin�s.
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As medidas recentes tamb�m s�o enxergadas como uma maneira de colocar limites nos bilion�rios donos das maiores empresas do pa�s e de dar mais voz a consumidores e trabalhadores na forma como essas empresas operam e distribuem seus ganhos.
Mudan�as locais com impacto global
A subida de tom nos �ltimos meses se traduziu em a��es tomadas contra interesses das companhias chinesas.
Tudo vem passando por uma grande reformula��o - desde seguros, educa��o privada, empreiteiras e at� planos de companhias parar abrir capital nos Estados Unidos.

A ind�stria tecnol�gica, em particular, tem observado um grande n�mero de medidas e a��es com vistas � atua��o de empresas de e-commerce, servi�os financeiros online, plataformas de m�dias sociais, companhias de games, apps de transporte e operadores de criptomoedas.
Essas medidas t�m tido um grande impacto tanto na economia quanto na sociedade chinesa - e os efeitos tamb�m s�o sentidos pelo mundo.
A incerteza sobre como s�o regulados os neg�cios na China tem tornado dif�cil para empresas no exterior tomar decis�es a respeito de investimentos no pa�s.
Outras an�lises apontam que essa incerteza � de curto prazo, apenas para o per�odo de implementa��o das novas regras - � essa, ali�s, a forma como o governo chin�s v� o tema.
Bilion�rios enquadrados
Mesmo antes de a nova pol�tica de Xi Jinping para a economia chinesa ser totalmente revelada, Pequim colocou em a��o uma t�tica de "choque e pavor", como demonstra��o de poder.
Menos de um ano atr�s, Jack Ma, o multibilion�rio da Alibaba conhecido por suas apari��es chamativas em eventos corporativos, aguardava a estreia de uma de suas principais empresas na bolsa de valores.
A oferta p�blica inicial (IPO) do Ant Group - bra�o financeiro da Alibaba e dono da maior plataforma de pagamento digital na China - tinha estimativa de alcan�ar US$ 34,4 bilh�es.
A soma teria feito de Ma a pessoa mais rica da �sia, mas ele fez um discurso em que criticava o sistema financeiro chin�s.
Dias depois, a estreia da empresa na Bolsa foi cancelada e Jack Ma n�o foi visto em p�blico novamente por v�rios meses.

Desde ent�o, a Alibaba recebeu uma multa recorde de US$ 2,8 bilh�es ap�s uma investiga��o apontar abuso de poder econ�mico. O Ant Group tamb�m teve de anunciar uma redu��o dr�stica para o seu plano de neg�cios.
N�o estava claro se o epis�dio estava ligado � iniciativa governamental de "prosperidade comum", mas a queda espetacular de Jack Ma e as medidas adotadas contra seus neg�cios foram uma amostra poderosa do que estava para acontecer em cada canto da economia chinesa.
A torre de d�vidas que balan�a
O grupo Evergrande � outro gigante dos neg�cios na China que se viu �s voltas com a pol�tica de "prosperidade comum".
Sua �rea de atua��o principal � o desenvolvimento imobili�rio, mas a companhia tamb�m tem marcado territ�rio em campos como gest�o patrimonial, carros el�tricos e fabrica��o de bebidas. � tamb�m dona de um grande time de futebol, no qual j� atuaram o brasileiro Paulinho e o argentino Dar�o Conca (ex-Fluminense).
Quem comanda a empresa � o multibilion�rio Hui Ka Yan, que, segundo a revista Forbes, se tornou por um breve per�odo em 2017 a pessoa mais rica da �sia.
Neste ano, uma crise de endividamento atingiu em cheio a Evergrande, com grandes repercuss�es em mercados internacionais.
Em meio aos planos para se tornar uma das maiores for�as do setor de constru��o na China, a companhia acumulou d�vidas que ultrapassam US$ 300 bilh�es.
Pequim agora avalia que firmas com grandes endividamentos s�o uma amea�a para a economia. Foi com o caso da Evergrande em mente que o governo chin�s introduziu medidas para cortar empr�stimos no setor imobili�rio.
Agora, sem a possibilidade de contrair novas d�vidas, a empresa tem dificuldades para saldar as j� existentes.
Sob a doutrina da "prosperidade comum", autoridades parecem tender mais a ajudar quem comprou im�veis da Evergrande ou clientes da �rea de gest�o de patrim�nio do que a companhia em si e institui��es credoras.

Essa impress�o foi confirmada em setembro, quando o Banco Central da China, sem mencionar diretamente a Evergrande, disse que clientes do mercado imobili�rio receber�o prote��o contra eventuais solavancos.
Isso tudo se soma a uma grande dor de cabe�a para os investidores internacionais, que viram as a��es da empresa perderam mais de 80% em valor de mercado no intervalo de 6 meses.
Ind�stria dos games na mira
Quando, no come�o de agosto, a m�dia estatal chinesa classificou os jogos on-line de "�pio espiritual", a mensagem foi interpretada como um sinal de alerta.
A not�cia fez desabar a��es de empresas de games como Tencent e NetEase e for�ou a ind�stria do setor se preparar para medidas de Pequim.
Para surpresa de ningu�m, pouco tempo depois autoridades divulgaram planos para disciplinar jovens f�s dos games e impor regula��es mais r�gidas em plataformas.
Menores de idade foram informados que s� poderiam jogar durante uma hora nas sextas-feiras, em fins de semana e feriados e apenas entre 20h e 21h.
As novas medidas significam que � responsabilidade das empresas de games evitar que as crian�as descrumpram as regras. A fiscaliza��o sobre as firmas foi refor�ada.
Pequim tamb�m sinalizou que a vigil�ncia sobre a atua��o das empresas n�o vai parar por aqui. Em agosto foi publicado um plano de 10 pontos com uma programa��o at� o fim de 2025 de mais a��es regulat�rias sobre a economia chinesa.
Ainda n�o est� claro como essa nova abordagem vai influenciar a segunda maior economia do mundo. O resultado ter� efeitos profundos em todos, vivendo ou n�o na China.
Essa � a segunda de uma s�rie em tr�s partes que examina as transforma��es da China e seu papel no mundo
A parte tr�s vai explorar as implica��es globais das modifica��es nos neg�cios e opera��es do pa�s
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