Poucos a viam do jeito que ela desejava. Pelo contr�rio, desde os quatro anos de idade, era ridicularizada e envergonhada cada vez que tentava colocar os s�ris ou saltos da m�e, ou fazia qualquer coisa considerada feminina.
"Meus pais me viam como um homem deficiente", explica Gummaraju, hoje m�dica do KMC Manipal, um dos principais hospitais universit�rios do pa�s.
Os meninos mais velhos a provocavam, os professores a humilhavam e um psic�logo aconselhou sua fam�lia a exp�-la a "influ�ncias mais masculinas".
Ningu�m considerou a possibilidade de ela ser transg�nero, nem mesmo ela.
"N�o me permitia questionar minha identidade de g�nero porque neste pa�s existe uma imagem muito negativa das pessoas trans. Elas s�o vistas como sinistras, abusivas, perigosas", reconhece.
Embora a grande maioria dos indianos orem aos deuses hindus, que frequentemente mudam da forma masculina para a feminina, a comunidade transg�nero � marginalizada da sociedade, com muitos de seus membros for�ados a mendigar ou se envolver em trabalho sexual.
Quando Gummaraju era adolescente, se odiava a tal ponto que se automutilava.
A esperan�a veio com sua admiss�o na faculdade de medicina, uma conquista que inspirou respeito entre aqueles que a rejeitaram.
L� encontrou uma comunidade mais compreensiva, incluindo um terapeuta que sugeriu fazer experi�ncias com sua express�o de g�nero.
E foi a� que apareceu o Instagram, "um espa�o online onde eu poderia ser eu mesma".
Hoje ela tem cerca de 220.000 seguidores, mas suas primeiras postagens n�o foram bem recebidas por seus professores e colegas conservadores.
Ela persistiu e acabou se revelando transg�nero para sua fam�lia, que a apoiou, e depois para centenas de pessoas no Facebook.
A transi��o come�ou com seu novo nome Trinetra - em homenagem a uma deusa hindu - uma terapia de reposi��o hormonal em 2018 e uma cirurgia em fevereiro de 2019.
Foi um momento de euforia, lembra, embora depois tenha passado um m�s de cama para se recuperar.
"Ver seu corpo mudar de forma � como uma cortina subindo", explica. "Pude me reconhecer no espelho", acrescenta.
- Danos colaterais -
Alguns efeitos colaterais foram inesperados e problem�ticos.
"Foi dif�cil constatar que uma das coisas que me fez perceber que agora eu era uma mulher foi receber assobios e ser assediada", destaca.
Ela tamb�m enfrentou amea�as de estupro quando postou autorretratos online, algo pelo qual as mulheres cisg�nero, aquelas cuja identidade de g�nero corresponde ao seu sexo de nascimento, podem ter empatia.
"Eu experimentei muitas coisas em comum com as mulheres cisg�nero", afirma.
Mas o crescente debate sobre os direitos dos transg�neros amea�a tornar a exist�ncia de seu coletivo ainda mais prec�ria, com as feministas cisg�nero pedindo que elas sejam removidas dos espa�os exclusivos para mulheres, lamenta Trinetra.
Depois que um seguran�a do hospital a for�ou a deixar o banheiro feminino em 2017, Gummaraju contraiu uma infec��o urin�ria por n�o beber �gua por horas para evitar ir ao banheiro p�blico.
"Algumas mulheres parecem n�o entender que n�o somos homens cisg�neros. N�o somos n�s que representamos uma amea�a para elas", argumenta. "Os discursos alarmistas t�m que acabar", completa.
Apesar dos muitos desafios enfrentados pela comunidade, ela espera que seu perfil em ascens�o ajude os jovens transg�neros a perceber que "a vida simplesmente fica melhor".
"Como m�dicos, sabemos que os humanos s�o resistentes por padr�o. Tenha f� em sua capacidade de se curar", resume.
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