
Os eleitores decidir�o entre os candidatos Jos� Antonio Kast, da extrema direita, e Gabriel Boric, da esquerda e tamb�m chamado de "extrema esquerda" por seu opositor.
Ex-deputado por quatro mandatos seguidos, Kast, da Frente Social Crist�, diz que esta � uma elei��o entre a "liberdade" e os "comunistas", em refer�ncia ao Partido Comunista que faz parte da coaliz�o do advers�rio pol�tico.
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E disse, mais de uma vez, que se eleito ser� ele e n�o o Partido Comunista quem governar� o pa�s.
O eleito assumir� a Presid�ncia em mar�o do ano que vem.
Ap�s o primeiro turno, realizado em novembro, os dois candidatos se aliaram a outros ramos ideol�gicos da pol�tica nacional.
Kast aglutinou integrantes do governo do presidente Sebasti�n Pi�era, de direita, a sua equipe, e passou a contar com respaldo at� de uma feminista, ap�s ter sido criticado por excluir as mulheres de suas propostas no primeiro turno.
Alguns setores passaram a chamar Boric de "socialdemocrata", depois que ele buscou o respaldo dos ex-presidentes Ricardo Lagos e Michelle Bachelet, que integraram a hist�rica coaliz�o de centro-esquerda Concertaci�n, que governou o pa�s por quase 20 anos, ap�s a sa�da do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).
O foco na tentativa de amplia��o do eleitorado, com adapta��es nos discursos, na campanha deste segundo turno, foi tamanho que um presidenci�vel chegou a dizer ao outro, nos debates, mais de uma vez: "Voc� est� cada vez mais parecido comigo".
Mas o que est� em jogo nesta elei��o? O principal � se o pa�s continuar� aprofundando as mudan�as sociais reivindicadas durante o tsunami de protestos realizados em 2019 - chamado de 'estallido social' (explos�o social) - ou se caminhar� para uma agenda mais conservadora, por exemplo em rela��o �s liberdades individuais.
Deus e agn�stico
Candidato mais votado no primeiro turno, Kast, de 55 anos, � contra a legaliza��o do aborto, rejeitou a legaliza��o do casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovada h� poucos dias, e cita Deus em seus discursos.
Por�m, foi, principalmente, seu discurso sobre a seguran�a p�blica que atraiu o eleitorado, segundo analistas chilenos.
Boric, de 35 anos, respaldou e levantou as bandeiras das iniciativas reprovadas pelo advers�rio pol�tico - aborto, casamento gay e a realiza��o da Assembleia Constituinte para a reda��o da primeira Carta Magna da democracia.
Boric (pronuncia-se Borich) declara-se agn�stico, mas diz que respeita todas as express�es de f� e que "h� muito para se aprender na B�blia".
Al�m dos perfis comportamentais adversos defendidos pelos presidenci�veis para a sociedade chilena, as urnas definir�o se querem os projetos de Kast ou de Boric para a imigra��o, para a economia e para a seguran�a p�blica.
O eleito ter� ainda o desafio de governar com a possibilidade de a Assembleia Constituinte definir sobre quest�es ligadas ao seu mandato.
Analistas chilenos resumem que, se Kast for eleito, o mercado financeiro dever� comemorar, mas as manifesta��es de rua prometem ganhar for�a.
Se Boric for eleito, especula-se que a tend�ncia ser� a invertida: decep��o no mercado financeiro e poss�vel tr�gua nos protestos.
Os dois afirmam que podem "garantir a governabilidade" do Chile e - por isso e pela busca de mais eleitores - realizaram as alian�as que no primeiro turno pareciam impens�veis.
Dicotomia
O eleito receber� um pa�s com uma s�rie de demandas, como disse � BBC News Brasil o analista de pesquisas Roberto Izikson, gerente de assuntos p�blicos e estudos qualitativos da empresa de opini�o Cadem, de Santiago.
"Chegamos a esta elei��o com uma crise pol�tica profunda, crise de lideran�a, crise institucional, crise social, crise econ�mica e encaramos essa elei��o em um Chile novo. Um Chile de incertezas e de medos, mas tamb�m de sonhos e de expectativas e associadas ao processo constitucional", disse Izikson.
Segundo ele, � a primeira vez na hist�ria do pa�s que dois candidatos "t�o antag�nicos" disputam a cadeira do pal�cio presidencial La Moneda.
Na sua vis�o, esta � uma elei��o entre as mudan�as que garantam os direitos sociais, como habita��o, aposentadorias, al�m de educa��o, sa�de e assuntos relacionados ao meio ambiente e ao feminismo.
E o outro lado dessa s�rie de reivindica��es est� ligado "� ordem, ao retorno da paz social, a governabilidade, a preocupa��o com a seguran�a p�blica, a imigra��o e o conflito na regi�o da Araucan�a (entre mapuches e policiais militares)".
No Chile, observadores que acompanham de perto esta corrida eleitoral e at� aliados de Boric acreditam que existam eleitores de Kast que s�o "envergonhados".
Entrevistado pela BBC News Brasil, o candidato presidencial derrotado no primeiro turno, Marco Enriquez-Ominami, acha que "os ventos sopram a favor de Boric, mas as ondas de mar�o ser�o desafiantes".
Sem maioria no Congresso Nacional, tanto Kast como Boric precisar�o negociar a aprova��o de seus projetos, sejam quem for eleito.
O senador Manuel Jos� Ossand�n, que passou a apoiar Kast e o v� como favorito, defende que o candidato da extrema direita garantiria maior estabilidade econ�mica, crescimento econ�mico e seguran�a p�blica, que s�o os assuntos que "realmente preocupam os chilenos", em sua opini�o.
Privatiza��es
Na pr�tica, Kast defende a maior abertura comercial do pa�s, que j� possui uma lista ampla de rela��es de livre com�rcio com pa�ses e continentes, que incluem os Estados Unidos e a China, por exemplo.
Kast questionou que a empresa s�mbolo do pa�s, a Companhia Nacional de Cobre (Codelco), seja uma estatal e o mesmo em rela��o � emissora de televis�o TVN, uma das principais do Chile.
Boric, por sua vez, foi apontado pelos aliados de Kast "de querer estatizar tudo". Como disse um analista da emissora de televis�o TVN, "o fantasma das ideias do Partido Comunista perseguir�o Boric".
O candidato descartou a possibilidade e disse que seu programa de governo prev� "um Estado de bem-estar", com aten��o voltada para a inclus�o social, a educa��o e a sa�de - no estilo do brit�nico National Health Service (NHS), que inspirou o Sistema �nico de Sa�de (SUS) do Brasil.
Boric foi um dos l�deres dos protestos pela educa��o p�blica no pa�s. Em um dos debates com seu advers�rio, o candidato disse seu projeto � de um governo com "parceria p�blica-privada" na �rea econ�mica.
Infla��o
Pa�s com cerca de 19 milh�es de habitantes, o Chile dever� registrar crescimento econ�mico de 12% em 2021, segundo o Banco Central do pa�s.
Para 2022, a expectativa � de aumento das taxas de juros para conter a infla��o que dever� chegar a 6% neste ano - �ndice acima do previsto e que, pela primeira vez em muito tempo, entrou no radar de preocupa��o dos chilenos.
O cen�rio econ�mico afetaria o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, que teria resultado t�mido no primeiro ano de gest�o do pr�ximo presidente do pa�s.
No Chile, existe uma persistente desigualdade social, uma das heran�as do per�odo em que o ditador Augusto Pinochet governou o pa�s, entre 1973 e 1990, e foi combatida pela coaliz�o de centro-esquerda Concertaci�n, fragmentada e derrotada em elei��es recentes, mas que pode contribuir para a defini��o deste segundo turno - pelas presen�as de Lagos e de Bachelet, seja para engordar ou emagrecer as inten��es de voto em um ou de outro candidato, dependendo da confian�a que podem gerar ou n�o em setores do eleitorado.
O presidente eleito dever� lidar com a insatisfa��o popular ligada � essa desigualdade, ao temor com a seguran�a p�blica e ao cansa�o com os pol�ticos.
O gerente da empresa de opini�o Cadem observou que, a cada elei��o, a participa��o do eleitorado � menor. E lembrou que o ex-candidato Franco Parisi, que fez campanha dos Estados Unidos, recebeu mais votos (12,8%) que candidatos de partidos tradicionais, como Yasna Provoste, da Democracia Crist� (DC). No primeiro turno a participa��o do eleitorado n�o chegou a 50%.
Grades para imigrantes
O Chile tem recebido forte influxo de imigrantes, principalmente venezuelanos.
Kast ratificou sua proposta de construir grades nas fronteiras para controlar a imigra��o.
Esse parece ser um dos assuntos centrais para o eleitorado, principalmente da regi�o de fronteira, onde Boric, com discurso mais humanista, teve a menor vota��o no primeiro turno.
Ap�s idas e vindas, Boric disse que tamb�m vai controlar os que entram no pa�s e exigir� visto, que deve ser emitido no pa�s de origem, para os que queiram ingressar no territ�rio chileno.
Ele ressalvou, por�m, que n�o permitir� que fam�lias sejam separadas, como ocorreu nos Estados Unidos, por exemplo.
Os destinos do Chile, a partir desta elei��o de domingo, incluem como o tr�fico de drogas ser� combatido.
Os dois presidenci�veis afirmaram, durante os debates televisivos, que hoje os policiais sabem onde os l�deres das quadrilhas est�o, mas temem entrar por n�o usarem equipamentos adequados.
Neste ponto, Kast foi mais enf�tico de Boric ao dizer que "os narcotraficantes n�o podem ser permitidos" no pa�s.
Os dois concordaram em "fortalecer as pol�cias".
Apesar de mudan�as nos discursos na reta final da campanha, est� claro que o Chile dar� uma guinada neste domingo - resta ver se ser� � direita ou � esquerda.
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