"Descendant" e "Riotsville, USA" s�o dois dos v�rios document�rios e filmes sobre justi�a racial exibidos neste festival de cinema independente, que ser� realizado em formato online pelo segundo ano consecutivo devido � pandemia.
Em "Descendant", que estreia neste s�bado, Margaret Brown retorna � sua cidade natal no Alabama, onde o navio "Clotilda" desembarcou com 110 escravos em 1860, d�cadas ap�s a proibi��o do com�rcio transatl�ntico.
Muitos descendentes desses escravos ainda vivem na mesma comunidade e as hist�rias sobre seus ancestrais foram passadas de gera��o em gera��o. Enquanto isso, a fam�lia dos propriet�rios do navio continua a possuir muitas terras na �rea.
Mas os restos do navio - deliberadamente afundado por seu dono para fugir da justi�a - s� foram encontrados em 2018. E localizar destro�os de navios negreiros � extremamente incomum.
"Eu sabia que se o barco fosse encontrado seria uma prova. � uma forma das pessoas seguirem os rastros de seus ancestrais de uma forma que nunca aconteceu nesse pa�s", disse � AFP Brown, que come�ou as filmagens h� seis anos.
Os descendentes, cujos ancestrais escaparam da escravid�o cinco anos depois com o fim da Guerra Civil, ainda vivem em �reas marginalizadas, cercadas por zonas industriais que emitem poluentes ligados ao c�ncer.
Segundo a produ��o, algumas dessas f�bricas chegaram a ser constru�das em terrenos da fam�lia Meaher, � qual tamb�m pertencia "Clotilda".
Apesar de cooperar com Brown em um document�rio anterior, ningu�m da fam�lia Meaher quis falar com ele para "Descendant".
"As pessoas estavam com medo", disse Brown.
"Esta hist�ria � uma maneira de focar a conversa na compensa��o", acrescentou.
"Compensa��o pode ser vista como uma palavra de armadilha. Mas n�o h� nada de armadilha na justi�a. Espero que o filme possa abrir conversas sobre justi�a."
- "Sombrio" -
Um dia antes, "Riotsville, USA" estreou em Sundance, no qual Sierra Pettengill desenterra imagens de cidades-modelo falsas usadas pela pol�cia e militares na d�cada de 1960 para reprimir protestos pelos direitos civis.
Imagens de arquivo perturbadoras mostram -entre outras coisas- arquibancadas cheias de l�deres militares rindo e aplaudindo enquanto um homem negro � conduzido a um novo ve�culo de controle de dist�rbios -de �ltima tecnologia para a �poca- diante de fachadas falsas com o nome "Riotsville", a cidade das revoltas.
"A CIA est� ali, agentes do servi�o secreto est�o ali, chefes de pol�cia, membros dos mais altos escal�es das for�as armadas, pol�ticos, senadores", disse Pettengill � AFP.
"E ver aquele grupo de pessoas rindo de algo t�o sombrio quanto isso - e apenas o fato de ter sido recriado - acho que � muito revelador sobre as atitudes da �poca", assegurou.
As ruas de "Riotsville", mostradas em arquivos de treinamento militar e grava��es da m�dia, foram criadas em resposta aos protestos e tumultos ocorridos em dezenas de grandes cidades americanas no final da d�cada de 1960.
Sem visar explicitamente as minorias raciais, os exerc�cios distinguiam entre "manifestantes brancos e o que eles chamaram de 'agitadores profissionais extremos', que obviamente eram todos negros", disse Pettengill.
A organizadora do Sundance, Tabitha Jackson, afirmou � AFP que a injusti�a racial � um dos v�rios temas de "responsabiliza��o" que foram abordados pelos cineastas na edi��o deste ano.
"Estas s�o as quest�es do momento, especialmente neste pa�s", disse Brown, destacando a batalha em curso pelos direitos de voto nos Estados Unidos, onde os democratas denunciam um ataque de estados conservadores para dificultar o voto das minorias raciais.
Ver as origens de sistemas como a militariza��o da pol�cia "� empoderador para perceber que podemos desmantel�-los", acrescentou.
"N�s n�o vivemos na inevitabilidade. Mas no geral, isso diz muito sobre a forma como vivemos agora e n�o h� um n�mero para ligar para resolver o problema. Depende de n�s", concluiu.
LOS ANGELES