R�ssia x Ucr�nia: 6 pontos para entender se guerra j� come�ou

Todo mundo est� tentando adivinhar as inten��es do presidente russo Vladimir Putin na Ucr�nia. Os Estados Unidos est�o retirando funcion�rios da embaixada � medida que aumentam os temores de um conflito iminente. Mas ele talvez j� tenha come�ado, escreve o especialista em seguran�a e defesa Jonathan Marcus*.

O risco de uma verdadeira guerra entre a R�ssia e a Ucr�nia domina as manchetes em v�rias partes do mundo.

Todas as perguntas �bvias est�o sendo feitas. A R�ssia vai atacar? O presidente Vladimir Putin est� decidido a iniciar uma guerra? Ou a diplomacia pode garantir a paz?

Mas n�o podemos ler a mente do presidente Putin. Ent�o elaboramos outra pergunta: como saber se as hostilidades come�aram?

Tanques de guerra e m�sseis

A resposta parece �bvia.

Fileiras de tanques russos cruzando as fronteiras da Ucr�nia ou ataques a�reos contra posi��es ucranianas marcariam uma dram�tica escalada na crise e uma mudan�a para uma nova fase do conflito.

Os primeiros alarmes vir�o das pr�prias for�as armadas ucranianas, mas sat�lites ocidentais e aeronaves de coleta de intelig�ncia podem detectar os preparativos para uma ofensiva iminente.

Provavelmente haver� sinais claros de um ataque iminente, diz Michael Kofman, especialista em for�as armadas russas, do Center for Naval Analysis, com sede nos EUA.

Entre esses sinais est�o "a dispers�o de for�as e um influxo de elementos log�sticos e de apoio", diz ele.

Mas essa pergunta tamb�m pode ser respondida de outra maneira e, para isso, � preciso dar um passo atr�s e analisar a campanha da R�ssia contra a Ucr�nia de maneira sist�mica.

Precisamos examinar o kit de ferramentas completo dispon�vel � R�ssia e avaliar como ele est� sendo usado. Sob essa �tica, quando voc� pergunta, "como saberemos se o conflito come�ou", a resposta pode ser: ele j� come�ou.

As hostilidades est�o em curso h� alguns anos.

Press�o militar

Vamos come�ar analisando o momento atual. A R�ssia j� ocupa a Crimeia, que � parte da Ucr�nia, e prov� assist�ncia na regi�o de Donbas a rebeldes contr�rios ao governo de Kiev.

De fato, foi a interven��o de unidades blindadas e mecanizadas russas contra as for�as ucranianas em 2014 que impediu a derrota dos rebeldes pr�-R�ssia. Os combates espor�dicos continuaram desde ent�o. Todos os lados supostamente apoiam um esfor�o de paz internacional, mas pouco progresso foi alcan�ado.

Amea�a de uso da for�a

Al�m dessa press�o, h� tamb�m a amea�a da R�ssia de empregar uma for�a militar esmagadora contra a Ucr�nia.

O ac�mulo de forma��es de combate russas ao redor das fronteiras da Ucr�nia � impressionante. Isso inclui um significativo deslocamento de for�as para a Bielorr�ssia - que tamb�m faz fronteira com a Ucr�nia - o que pode fornecer um ponto de partida mais pr�ximo para um ataque � pr�pria capital ucraniana, Kiev.

Porta-vozes russos argumentam que essa forma��o de ve�culos militares perto da fronteira n�o passa de um exerc�cio militar, sem car�ter de amea�a. Mas a escala dela, a natureza das unidades deslocadas para o local e a gradual chegada de suprimentos sugerem que se trata de algo muito maior que exerc�cios de rotina.

Especialistas t�m acompanhado esses preparativos por meio de fotos de sat�lites civis. V�rios v�deos feitos por telefone circulam pela internet mostrando trens abastecidos com equipamentos a caminho da Ucr�nia ou da Bielorr�ssia. An�lises dessas postagens nas redes sociais, associada �s unidades vistas em movimento pelos sat�lites, fornecem um retrato claro do que est� acontecendo.

Independentemente do que Moscou diga, a Ucr�nia tem todos os motivos para se preocupar.

Tentativa de controle da narrativa

A segunda ferramenta utilizada por Moscou � uma tentativa de influenciar a narrativa.

Por um lado, a R�ssia diz que n�o est� se preparando para a guerra, embora pare�a que est�. Mas, t�o importante quanto isso, � a narrativa que ela tenta emplacar de que a Ucr�nia n�o � a v�tima - a pr�pria R�ssia � que estaria amea�ada.

Esse � o teor dos documentos entregues aos EUA com o objetivo de deter e, de certa forma, reverter a expans�o da Otan (Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte) e criar uma nova esfera de influ�ncia para Moscou.

Mas a narrativa tem outro objetivo tamb�m. � a hist�ria que a R�ssia conta para moldar a forma como a toda a crise na Ucr�nia � debatida, n�o apenas por governos do Ocidente ou os cidad�os russos, mas por voc� que est� lendo esta reportagem.

O fato � que boa parte dos especialistas independentes avaliam que a R�ssia est� se preparando para a guerra contra a Ucr�nia, independentemente do que os porta-vozes russos digam.

Subvers�o

Existem outras possibilidades na caixa de ferramentas russa tamb�m. Ataque cibern�tico e subvers�o, por exemplo. H� pouco mais de uma semana, v�rios sites do governo ucraniano foram atingidos, embora n�o esteja claro de onde veio o ataque.

Mais recentemente, o governo do Reino Unido disse ter evid�ncias de que Moscou selecionou indiv�duos para formar um novo governo em Kiev. Mas n�o foram apresentadas publicamente provas conclusivas disso.

Michael Kofman diz que um elemento cibern�tico pode ser parte importante de um ataque russo, porque teria potencial para prejudicar a infraestrutura cr�tica e atrapalhar a capacidade da Ucr�nia de coordenar um esfor�o militar.

Linha t�nue entre guerra e paz

Quando a R�ssia tomou a Crimeia, ouvimos muito falar sobre "guerra h�brida" e "guerra de zona cinzenta". Na �poca, a R�ssia negou a opera��o e os participantes, embora uniformizados, n�o usavam ins�gnias militares.

Mas n�o havia d�vida de que se tratava de tropas ligadas � R�ssia. E a Crimeia foi tomada por for�a militar. O que est� em andamento no momento � a ess�ncia da "guerra de zona cinzenta", ou seja, o esmaecimento da fronteira entre paz e guerra.

N�o � assim que tendemos a ver as coisas no Ocidente.

Mas os militares russos articularam uma doutrina sofisticada que v� a guerra e a paz como um continuum onde diferentes ferramentas s�o aplicadas em diferentes est�gios, �s vezes em sequ�ncia, �s vezes juntos, embora com o mesmo objetivo estrat�gico.

E, em �ltima an�lise, � por isso que o conflito j� come�ou. A �nica quest�o � qu�o longe na "zona cinzenta" o presidente Putin est� disposto a ir.

*Jonathan Marcus, autor desse artigo, � ex-correspondente de Defesa e Diplomacia da BBC, e professor honor�rio do Instituto de Estrat�gia e Seguran�a da Universidade de Exeter, no Reino Unido.

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