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Estado de Minas CABUL

Mulheres desafiam o regime Talib� no Afeganist�o


15/02/2022 09:23

Com passos r�pidos e a cabe�a baixa para n�o chamar a aten��o, algumas mulheres entram com prud�ncia, uma depois da outra, em um pequeno apartamento em Cabul. Mesmo com suas vidas em risco, elas iniciam uma resist�ncia incipiente ao Talib�.

O grupo prepara a pr�xima a��o contra o movimento fundamentalista isl�mico que provocou o fim de seus sonhos e conquistas ao retornar ao poder no Afeganist�o, em 15 de agosto de 2021, ap�s duas d�cadas de insurrei��o.

No in�cio eram apenas 15 mulheres que participavam do movimento de resist�ncia civil, a maioria jovens na casa dos 20 anos que j� eram amigas.

Mas ap�s sua primeira a��o em setembro, a rede aumentou para dezenas de mulheres, ex-estudantes, professoras, trabalhadoras de ag�ncias humanit�rias ou donas de casa que agora atuam em sigilo para defender seus direitos.

"Me perguntei: por que n�o me unir a elas em vez de ficar em casa, deprimida, remoendo tudo que perdemos?", relatou uma delas, de 20 anos, � AFP.

Elas t�m perfeita consci�ncia do perigo: v�rias companheiras desapareceram nos �ltimos meses.

Mas est�o decididas a prosseguir o combate contra os Talib�, que durante seu primeiro regime esmagou as liberdades fundamentais das mulheres. E apesar das promessas de mudan�a em seu retorno ao poder, os fundamentalistas n�o demoraram a atacar os mesmos direitos outra vez.

Jornalistas da AFP foram autorizados a acompanhar duas reuni�es das ativistas em janeiro.

Assumindo o risco de serem detidas, marginalizadas ou observarem suas fam�lias amea�adas, mais de 40 mulheres, incluindo algumas m�es com suas filhas, participaram no primeiro encontro. Muitas falaram sob anonimato por motivos de seguran�a.

Na segunda reuni�o, algumas militantes prepararam de maneira ativa a pr�xima manifesta��o. Com um telefone celular em uma m�o e uma caneta na outra, uma ativista analisa uma faixa que pede igualdade de tratamento para as mulheres.

"Estas s�o as nossas armas", afirma.

- Lutar contra o medo -

Entre 1996 e 2001, os talib�s proibiram as mulheres de trabalhar, estudar, praticar esportes ou sair �s ruas.

Agora, eles alegam que mudaram, mas adotaram um rigorosa segrega��o de g�nero na maioria dos locais de trabalho, exclu�ram as mulheres de muitos empregos p�blicos, fecharam a maioria das escolas do Ensino M�dio para as adolescentes e modificaram os programas universit�rios para impor sua interpreta��o estrita da sharia, a lei isl�mica.

Ainda marcadas pelas recorda��es do regime Talib� anterior, muitas afeg�s s�o ref�ns do medo de sair para protestar ou sucumbem � press�o de suas fam�lias para que permane�am em casa.

Uma jovem de 24 anos explica como enfrentou sua fam�lia conservadora, incluindo um tio que escondeu seus livros para que n�o prossiga com os estudos. "N�o quero deixar que o medo me controle e me impe�a de falar", disse.

Nos �ltimos 20 anos, as afeg�s, especialmente nas grandes cidades, estudaram em universidades, assumiram a dire��o de empresas e ocuparam cargos ministeriais.

O maior medo de Shala � que as meninas e as mulheres voltem a ser confinadas em casa. A ex-funcion�rio do governo de 40 anos perdeu o emprego com a volta do Talib� ao poder.

Algumas noites, esta m�e de quatro filhos vai para as ruas para escrever frases como "Viva a igualdade" nos muros.

"Quero apenas ser um exemplo para as jovens, mostrar que n�o abandonei o combate", afirma, com voz calma.

Ela tem o apoio do marido e dos filhos, que correm pela casa aos gritos de "Educa��o! Educa��o!".

- Precau��es -

Para concretizar suas a��es, as ativistas tomam todas as precau��es.

Antes de aceitar novos membros, Hoda Kmosh, uma poeta de 26 anos e ex-funcion�ria de uma ONG que ajudava a refor�ar a autonomia das mulheres, tenta assegurar que esta � uma pessoa de confian�a e comprometida.

Um dos testes consiste em pedir que preparem rapidamente bandeiras ou slogans. As mais r�pidas costumam ser as mais determinadas, opina Hoda.

Uma vez elas convocaram uma postulante para uma manifesta��o falsa. Os talib�s chegaram ao local e elas cortaram a rela��o com a mulher suspeita de ter passado a informa��o aos novos governantes.

O n�cleo duro das ativistas utiliza um n�mero de telefone reservado apenas para a coordena��o antes de cada a��o. Este n�mero � abandonado em seguida para n�o ser rastreado. Hoda, cujo marido foi amea�ado, teve que mudar de n�mero diversas vezes.

No dia do protesto elas enviam uma mensagem poucas horas antes do encontro. As mulheres chegam em grupos de duas ou tr�s e ficam pr�ximas �s lojas, como clientes.

No hor�rio marcado, elas se re�nem rapidamente, exibem seus cartazes e gritam as palavras de ordem: "Igualdade!, Igualdade! Chega de restri��es".

Elas sempre s�o cercadas por combatentes talib�s que dispersam os protestos, gritam e apontam suas armas. Uma lembra que deu um tapa em um talib�. Outra que continuou gritando mesmo com uma arma contra suas costas.

"Quando a manifesta��o acaba, colocamos um v�u e roupas que costumamos carregar para n�o sermos reconhecidas", explica Hoda.

- Opera��es noturnas -

Mas isto � cada vez mais perigoso.

O Talib� "n�o tolera protestos. Eles agridem manifestantes e jornalistas que cobrem os protestos. Eles procuram manifestantes e pessoas que organizam protestos", disse Heather Barr, pesquisadora especializada em direitos das mulheres da Human Rights Watch.

Em meados de janeiro, os talib�s usaram g�s lacrimog�neo pela primeira vez contra contra militantes que pintaram burcas brancas com manchas cor vermelho-sangue para protestar contra o uso do v�u integral, que tem apenas uma tela na altura dos olhos.

Duas manifestantes, Tamana Zaryabi Paryani e Parwana Ibrahimkhel, foram detidas em uma s�rie de opera��es durante a noite de 19 de janeiro.

Em um v�deo dram�tico v�deo divulgado nas redes sociais pouco antes de sua deten��o, Paryani pede ajuda: "Por favor, me ajudem! Os talib�s vieram aqui em casa (...) Minhas irm�s est�o aqui", afirmou desesperada.

Ela tamb�m foi vista perto da porta implorando ao homem que aguardava. "Se voc� quiser conversar, vamos conversar amanh�. N�o posso falar com voc�s no meio da noite com as meninas em casa. N�o quero, n�o quero... Por favor! Ajuda!".

As duas permanecem desaparecidas. A ONU e a HRW pediram ao governo que investigue o paradeiro das ativistas.

O porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, negou qualquer envolvimento do Talib�, mas afirmou que as autoridades t�m o "direito de deter e prender os opositores ou aqueles que violam a lei".

Muitas mulheres entrevistadas pela AFP antes dos desaparecimentos decidiram se esconder, alegando "amea�as ininterruptas".

A ONU solicitou na semana passada publicamente que o regime Talib� apresente informa��es sobre outras duas militantes desaparecidas.

- "Meu cora��o e corpo tremem" -

"Estas mulheres (...) precisaram criar algo do nada", destaca Heather Barr, da HWR. "H� muitas militantes experientes que trabalharam durante anos no Afeganist�o (...) mas quase todas partiram depois de 15 de agosto".

Ao longo dos meses, elas aprenderam a adaptar-se: no in�cio, os protestos terminavam quando uma mulher era agredida. Agora, nestes casos, duas militantes cuidam da v�tima e as demais continuam sua a��o, explica Hoda.

Como o Talib� pro�be os jornalistas de cobrir os protestos, elas usam telefones para fazer fotos e v�deos, que publicam rapidamente em suas redes sociais.

As imagens, em que aparecem com os rostos descobertos em um gesto de desafio, s�o exibidas para todo o mundo.

Outro grupo de mulheres, mais modesto, busca formas de protesto que evitem o confronto direto com os islamitas.

"Quando estou na rua, meu cora��o e meu corpo tremem", explica Wahida Amiri, ex-bibliotec�ria de 33 anos que j� estava envolvida na luta contra a corrup��o no governo anterior.

�s vezes ela se vezes se encontra com amigas na privacidade de uma casa onde filmam e postam imagens de vig�lias � luz de velas, com faixas que exigem o direito de estudar e trabalhar.

Elas tamb�m recorrem a artigos, debates no Twitter ou ao aplicativo de conversas de �udio Clubhouse, com a esperan�a de que as redes sociais conscientizem o mundo sobre seu destino.

Em outras partes do pa�s, como Herat (noroeste), Bamiyan (centro) ou Mazar-i-Sharif (norte), foram organizadas manifesta��es mais espor�dicas.

"� poss�vel que fracassemos. Tudo o que queremos � ressoar a voz da igualdade e que, em vez de cinco mulheres, milhares se unam a n�s", explica Wahida.

"Porque se n�o lutarmos por nosso futuro hoje, a hist�ria do Afeganist�o vai se repetir", adverte Hoda.

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