As chuvas torrenciais de ter�a-feira, que provocaram inunda��es e deslizamentos de terra que deixaram pelo menos 136 mortos, transformaram a pitoresca cidade montanhosa no que muitas autoridades, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, descrevem como uma "zona de guerra".
Equipes de resgate est�o cobertas de lama at� os joelhos em busca de v�timas, enquanto fam�lias angustiadas choram por seus entes queridos perdidos sob os escombros, e restos de carros destru�dos pelas enchentes continuam espalhados pela cidade.
Muitos moradores, como o advogado Daniel Vasconcellos, responderam � emerg�ncia criando da noite para o dia organiza��es de caridade, semelhantes �s opera��es log�sticas de tempos de guerra.
Ao ver que a ajuda do governo e das ONGs n�o estava atendendo adequadamente �s necessidades de seus vizinhos, Vasconcellos e seu s�cio Bernardo da Silva Oliveira transformaram seu escrit�rio no bairro Ch�cara Flora em um centro de ajuda em massa.
Em frente ao local, uma longa corrente humana transporta pacotes de �gua engarrafada de m�o em m�o, em alta velocidade.
L� dentro, o ch�o est� repleto de roupas, alimentos, produtos de higiene, fraldas e in�meros produtos destinados �queles que perderam tudo.
"Quando aconteceram os deslizamentos de terra, n�s e muitos outros corremos para ajudar as pessoas presas na lama e nos escombros", conta Vasconcellos, de 28 anos.
Por�m, depois que as equipes de resgate e o ex�rcito chegaram, "vimos que elas precisavam de um outro tipo de apoio", diz � AFP.
As doa��es come�aram a chegar de todo o Brasil � medida que as not�cias da trag�dia se espalhavam. Mas ele e Oliveira viram que havia uma lacuna entre o que as pessoas recebiam e o que elas precisavam.
"Os pontos de apoio est�o cheios, mas as vezes n�o chega �quela galera que est� aguardando um parente que est� soterrado, que n�o quer sair de l� de perto", explica Vasconcellos.
Nascidos no bairro, eles sabiam o que era preciso: motocicletas.
Nas comunidades carentes dos morros ao redor de Petr�polis, cen�rios dos mais letais deslizamentos, "tem alguns lugares que carro n�o entra, s� moto", afirma Oliveira, de 29 anos. "O pessoal leva at� l� em cima."
- "O que � que voc� est� precisando?" -
Eles come�aram com duas motos, usando as redes sociais para divulgar os esfor�os e coletar doa��es de familiares e amigos.
Mas a opera��o logo virou uma bola de neve. Conforme crescia, buscavam aprimorar o trabalho, adequando as doa��es �s necessidades das pessoas.
A princ�pio, com os cortes de �gua e eletricidade, a necessidade mais urgente dos habitantes era �gua engarrafada. Agora, precisam de roupas, fraldas para beb�s e escovas de dentes.
"�s vezes voc� leva a doa��o para um determinado lugar e a pessoa acaba jogando fora", diz Vasconcellos. "O pessoal bate na porta e pergunta 'o que � que voc� est� precisando?'. Se n�o temos, vamos ao supermercado para comprar."
As maiores necessidades no momento? Mamadeiras, leite e roupas �ntimas, dizem.
O padre Mois�s Fragoso de Sousa comanda mais uma opera��o log�stica massiva na Igreja de Santo Ant�nio, que fica em frente ao Morro da Oficina, bairro onde ocorreu o deslizamento mais letal.
A pra�a junto � igreja � um formigueiro de gente, com cerca de 100 volunt�rios correndo para separar e entregar doa��es para a comunidade, enquanto 200 deslocados est�o abrigados no interior.
"No in�cio, foi uma estrutura muito improvisada, mas desde logo come�amos a nos organizar mais", afirma o padre de 35 anos. "A quest�o do voluntariado tem sido uma realidade muito forte aqui. Tem sido a maior m�o de obra dessa trag�dia."
PETR�POLIS