
Oleg Kukhtinov, de 31 anos, foi acordado em sua casa, em Konstantinovka, pelo som de fortes bombardeios por volta das cinco da manh�.
Crist�o, sua primeira rea��o foi orar. "Pedi prote��o a Deus, respirei fundo e procurei ficar calmo. Em seguida, tentei raciocinar de forma consciente e planejar meu dia", lembra o ucraniano, que fala portugu�s fluentemente e trabalha como tradutor.
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Duas horas depois, Oleg j� estava em um dos supermercados da cidade, que fica a cerca de 50 quil�metros de Donetsk, regi�o de fronteira com a R�ssia.
"Comprei muita �gua, comida, coisas b�sicas. Tinha muita gente tentando conseguir suprimentos, sacar dinheiro, abastecer o carro... Havia muitas filas em todos os lugares", conta.
Eram as primeiras horas da guerra da R�ssia contra a Ucr�nia, que come�ou na madrugada desta quinta-feira (24/2), ap�s a ordem expressa do presidente Vladimir Putin.
A tens�o entre os pa�ses, com a influ�ncia de outras na��es, incluindo Estados Unidos e China, vinha se intensificando nas �ltimas semanas.
Os voos saindo do pa�s foram cancelados, mas muitos usaram as estradas para chegar a cidades mais afastadas das zonas de conflito ou at� para chegar a pa�ses vizinhos de carro.
N�o era uma op��o para Oleg.
Solteiro, ele buscou a m�e, o padrasto, a av� e o cachorro da fam�lia para ficarem todos juntos em sua casa.
"N�o temos outra escolha, n�o possu�mos casa em outro lugar e nem temos como sair daqui. Estamos juntos para nos apoiarmos neste momento. A companhia � muito importante para cada um de n�s. Aqui, oramos, conversamos e acompanhamos as not�cias tentando n�o cair em desespero", diz.
Por residir pr�ximo a um poss�vel local de conflito, o ucraniano vinha dando entrevistas sobre o clima e as mudan�as recentes do pa�s nas �ltimas semanas.
Apesar de saber do risco crescente de um confronto militar, ele conta que n�o esperava que o cen�rio mudasse t�o rapidamente.
"A preocupa��o era constante e eu tive um pressentimento ruim nos �ltimos dias. Mas n�o imaginava que acordaria em uma guerra. Desde a entrevista que dei ontem, h� apenas algumas horas, a situa��o ficou totalmente diferente."

Oleg conta ainda estar tentando absorver o novo momento que a Ucr�nia passou a viver de um dia para o outro. "Dormi pouco, comi pouco. Ainda estou esgotado mentalmente. Hoje � certamente um dia hist�rico e, depois dessa data, o mundo n�o ser� mais o mesmo."
"� triste saber que situa��es como essa ocorrem independentemente da vontade do povo ucraniano, que � pacificador, solid�rio, uma na��o tranquila. O momento era favor�vel para nossa economia e, assim como em qualquer lugar do mundo, temos cidad�os educados, inteligentes e talentosos, que n�o querem e n�o merecem uma guerra."
As expectativas do tradutor para um futuro pr�ximo � n�o ouvir mais sons de tiros ou explos�es.
"Espero que meus amigos, vizinhos e todas as pessoas possam passear com suas crian�as, fazer compras, ir ao parque... At� fazer churrascos, como voc�s fazem a� no Brasil. Essa � nossa esperan�a. Mas eu n�o sei o que vai ser daqui para frente, � dif�cil prever."
Se houver mobiliza��o completa para integrar o ex�rcito, pela sua idade, Oleg seria recrutado. O pa�s j� come�ou a recrutar reservistas de 18 a 60 anos, mas ainda n�o h�, de acordo com Volodmyr Zelensky, presidente da Ucr�nia, previs�o de uma mobiliza��o geral, para todos os homens da na��o.
Por enquanto, Oleg, assim como seus amigos e conhecidos em diferentes regi�es da Ucr�nia, tem acesso normal � eletricidade e internet, mas h� receio de que os servi�os sejam cortados nos pr�ximos dias.
"Ouvimos bastante que isso pode acontecer, mas n�o sei dizer se � uma possibilidade oficial ou apenas um boato."

Se pudesse, o tradutor, apaixonado pelas paisagens e cultura brasileira, diz que preferia estar passando esses dias no Brasil, na companhia dos amigos brasileiros.
"Infelizmente n�o tenho outra escolha. Ainda que fosse poss�vel sair, eu n�o poderia deixar minha m�e e minha av� para tr�s", afirma.
Apesar do momento dif�cil e de incertezas, Oleg diz acreditar que os ucranianos sair�o mais fortes do episodio.
"Consigo imaginar a mim e as pessoas que eu amo com sa�de e mais experi�ncia de vida no futuro. S� quero lembrar do dia em que vivemos hoje como um pesadelo distante. Se sobrevivermos a isso, sobreviveremos em qualquer lugar."
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