
As pot�ncias ocidentais decidiram excluir v�rios bancos russos do servi�o de compensa��es interbanc�rias Swift, fundamental em transa��es internacionais, como parte de um arsenal de san��es contra a R�ssia pela invas�o da Ucr�nia, anunciou o governo alem�o ontem. Os bancos sancionados ser�o “cortados dos fluxos financeiros internacionais, o que reduzir� substancialmente suas opera��es globais”, destacou o governo da Alemanha. Mais cedo, o ministro das Rela��es Exteriores da Ucr�nia, Dmytro Kuleba, disse que l�deres mundiais teriam “as m�os sujas de sangue” se n�o banissem a R�ssia da rede de pagamentos Swift, fundamental para transa��es eficazes de valores financeiros ao redor do mundo.
Swift � uma plataforma financeira global que permite a transfer�ncia r�pida e tranquila de dinheiro atrav�s de fronteiras. Seu nome significa Sociedade para Telecomunica��o Financeira Mundial entre Bancos, na tradu��o da sigla, do ingl�s. Ele envia mais de 40 milh�es de mensagens por dia, e trilh�es de d�lares passam de m�o em m�o entre empresas e governos. Acredita-se que mais de 1% dessas mensagens envolvam pagamentos russos.
O Swift foi criado por bancos americanos e europeus, que n�o queriam que uma �nica institui��o desenvolvesse seu pr�prio sistema e tivesse um monop�lio sobre essas transa��es. Hoje, a rede � de propriedade conjunta de mais de 2 mil bancos e institui��es financeiras. � gerenciada pelo Banco Nacional da B�lgica, em parceria com grandes bancos centrais de v�rias partes do mundo – incluindo o americano Federal Reserve e o Banco da Inglaterra, do Reino Unido.
A Comiss�o Europeia anunciou ainda que vai propor “paralisar os ativos do banco central russo na Uni�o Europeia (UE), para que Moscou n�o possa us�-los para financiar a invas�o da Ucr�nia, disse a presidente da comiss�o, Ursula von der Leyen. Com essa medida, “as transa��es financeiras ser�o congeladas e a liquida��o dos ativos russos ser� imposs�vel”, explicou Ursula em v�deo ap�s se reunir com representantes de Estados Unidos, Fran�a, Alemanha e It�lia.
As san��es ocidentais para excluir os bancos russos do sistema global e criar barreiras ao banco central daquele pa�s tornam a R�ssia um “p�ria” financeiro, com um rublo “em queda livre”, disse um funcion�rio do alto escal�o americano ontem. “A R�ssia se tornou um p�ria financeiro e econ�mico global”, afirmou a fonte. Seu banco central “n�o pode apoiar o rublo. Apenas Putin pode decidir que custo adicional est� disposto a assumir”, declarou o funcion�rio, acrescentando que um grupo de trabalho “perseguir� os iates, jatos, carros de luxo e mans�es” dos oligarcas russos. As pot�ncias ocidentais definiram ontem uma nova rodada de san��es financeiras contra a R�ssia pela invas�o � Ucr�nia.
Impacto
Com a suspens�o da R�ssia do Swift, empresas russas perdem acesso �s tranquilas e eficazes transa��es instant�neas oferecidas pelo sistema de compensa��es. Pagamentos por seus produtos de energia e para a agricultura seriam seriamente abalados. Bancos provavelmente terao de lidar diretamente um com o outro, o que provocar� atrasos e custos adicionais, e consequentemente reduzir� a entrada de recursos para o governo russo. A R�ssia j� sofreu amea�a de ser retirada do Swift antes – em 2014, quando anexou a Crimeia, territ�rio ucraniano. A R�ssia disse na �poca que a medida seria o equivalente a uma declara��o de guerra.
Aliados ocidentais n�o seguiram em frente com a medida, mas a amea�a levou a R�ssia a desenvolver seu pr�prio sistema de transfer�ncia entre pa�ses, por�m ainda incipiente. Moscou criou governo o Sistema Nacional de Pagamentos de Cart�o, conhecido como Mir, para processar pagamentos com cart�es. No entanto, poucos pa�ses o utilizam atualmente.
A R�ssia � o maior fornecedor de petr�leo e g�s da Uni�o Europeia, e encontrar fornecedores alternativos n�o ser� f�cil. Com pre�os de energia j� disparando ao redor do mundo, uma interrup��o adicional � algo que muitos governos gostariam de evitar. Al�m disso, empresas credoras dos russos ter�o de encontrar outras formas de serem pagas. O risco de um caos no sistema banc�rio internacional � muito grande, dizem v�rios observadores.
Alexei Kudrin, ex-ministro das Finan�as da R�ssia, sugeriu que uma expuls�o do Swift poderia provocar uma redu��o de 5% no PIB (Produto Interno Bruto) da R�ssia. H�, por�m, d�vidas sobre o impacto na economia russa no longo prazo. Bancos russos poderiam redirecionar pagamentos atrav�s de pa�ses que n�o lhe impuseram san��es, como a China, que tem seu pr�prio sistema de pagamentos.
Manifesta��es de solidariedade
Com passeatas � luz de tochas, ou simples caminhadas nas ruas, as manifesta��es de solidariedade com a Ucr�nia e contra a invas�o russa se multiplicam em todo mundo, da Argentina � Ge�rgia, passando por Canad� e It�lia. Milhares de manifestantes sa�ram �s ruas ontem, em Nova York, para protestar contra a invas�o da R�ssia na Ucr�nia, numa manifesta��o que contou com milhares de ucranianos e descentes que vivem na cidade dos EUA. Na sexta-feira � noite, quase 30.000 pessoas se reuniram na Ge�rgia, antigo pa�s sovi�tico. A guerra, que segundo Kiev j� custou a vida de pelo menos 198 civis, provocou um sentimento de “d�j� vu” na Ge�rgia, tamb�m v�tima de uma devastadora invas�o russa em 2008.
Os manifestantes marcharam pela principal rua da capital, Tbilisi, agitando bandeiras ucranianas e georgianas e cantando os hinos nacionais de ambos os pa�ses.Temos compaix�o pelos ucranianos, talvez mais do que outros pa�ses, porque conhecemos a agress�o b�rbara da R�ssia no nosso solo, disse � AFP Niko Tvauri, um motorista de t�xi de 32 anos. Ucranianos, georgianos, o mundo inteiro deve resistir a Putin, que quer restaurar a Uni�o Sovi�tica, declarou Meri Tordia, professora de franc�s de 55 anos. “A Ucr�nia est� sangrando, e o mundo est� assistindo e falando sobre san��es que n�o conseguem parar Putin”, acrescentou ela, chorando.
Em Roma, uma marcha � luz de tochas com milhares de participantes desfilou na noite de ontem, at� o Coliseu, com cartazes que diziam “Putin, assassino!”, “Sim � paz, n�o � guerra”, ou ainda “Banir a R�ssia do Swift”. Outros cartazes mostravam o presidente russo com a m�o manchada de sangue sobre o rosto, ou comparavam-no a Hitler com a men��o: "Voc� sabe reconhecer a hist�ria quando ela se repete?”.
“Sempre fomos pr�ximos do povo ucraniano (...) Daqui, nosso sentimento de impot�ncia � enorme. N�o podemos fazer mais nada no momento", disse � AFP Maria Sergi, de 40 anos, uma italiana nascida na R�ssia. Vladimir Putin “causou muitos danos, at� mesmo ao seu pr�prio povo. Temos muitos amigos que sofreram muito por causa de sua pol�tica”, acrescentou. Em Atenas, na noite de sexta-feira, em frente � embaixada russa, mais de 2.000 pessoas se reuniram a pedido do Partido Comunista e do partido de esquerda radical Syriza. Tradicionalmente pr�-russos, esses partidos denunciam a “invas�o russa da Ucr�nia” e uma “guerra imperialista contra um povo”.
T�quio, Taipei, Curitiba, Nova York e Washington tamb�m foram palco de manifesta��es. Na Argentina, cerca de 2.000 pessoas, incluindo imigrantes ucranianos e argentinos de ascend�ncia ucraniana, manifestaram-se em Buenos Aires, pedindo � embaixada russa "a retirada incondicional" das tropas “assassinas” de Putin. Embrulhados na bandeira ucraniana, vestidos com trajes tradicionais, com faixas em espanhol, ucraniano, ou ingl�s, dizendo “Pare a guerra”, ou “Putin tire suas m�os da Ucr�nia”, os manifestantes gritavam palavras de ordem em ucraniano, como “Gl�ria � Ucr�nia, Gl�ria aos seus her�is” e cantavam os hinos ucraniano e argentino.
“Russos e ucranianos t�m muito em comum. Ent�o, meu principal sentimento � a raiva. A �ltima coisa que imaginei era que os russos entrariam para matar meu povo", disse Tetiana Abramchenko, de 40 anos, quase �s l�grimas. Ela chegou com a filha � Argentina em 2014, ap�s a anexa��o russa da Crimeia. Em Montreal, no Canad�, dezenas de pessoas n�o hesitaram em enfrentar uma tempestade de neve para protestar sob as janelas do Consulado Geral russo. “Putin, tire suas m�os da Ucr�nia”, cantaram em coro. “Sou contra esta guerra”, afirmou Elena Leli�vre, engenheira russa de 37 anos, em entrevista � AFP. Alguns manifestantes seguravam um retrato de Vladimir Putin coberto com uma m�o ensanguentada, e outros carregavam bandeiras ucranianas ao vento. Outras manifesta��es tamb�m foram organizadas em Halifax, Winnipeg, Vancouver e Toronto nos �ltimos dias.
Cr�ticos � guerra se organizam
A diretora da rede internacional de TV RT est� furiosa. Como cidad�os russos podem ser contra a guerra de Vladimir Putin na Ucr�nia? Para ela, � simples: eles n�o s�o mais russos. Margarita Simonian, que costuma fazer coment�rios fervorosos no Twitter em defesa do presidente russo, a quem chama de l�der, n�o faz rodeios: “Se agora t�m vergonha de ser russos, n�o se preocupem, n�o s�o russos”. Milhares de pessoas se manifestaram contra a invas�o russa � Ucr�nia e a rea��o da pol�cia foi a mesma que com opositores do Kremlin: realizando centenas de pris�es. Tanto � que o movimento se transferiu para a internet e come�ou a se fazer ouvir e a receber apoio de alguns famosos.
As bandeiras ucranianas s�o onipresentes nas fotos de perfil, assim como os emojis de choro. A hashtag #HeTBohe? (n�o � guerra) era popular no Twitter ontem. Desde a �ltima quinta-feira, data do in�cio da invas�o, celebridades russas de maior ou menor calibre expressaram seu horror, sua impot�ncia, e pediram o fim imediato da guerra, que atinge o cora��o da Europa. Funcion�ria do jornal “Kommersant”, a jornalista Elena Tchernenko, disse que foi exclu�da do pool de colegas que acompanhavam o ministro russo das Rela��es Exteriores, Sergei Lavrov, por ter iniciado uma peti��o contra a guerra.
Uma carta aberta das profiss�es art�sticas e culturais foi apoiada ontem por mais de 2.000 pessoas do sindicato. M�dicos e enfermeiros assinaram sua pr�pria carta on-line.