Sua silhueta alongada n�o mudou em quase nove anos, desde aquele dia em que o mundo descobriu este jogador em 116� posi��o no ranking mundial de t�nis e celebrou, no gramado londrino, sua fa�anha contra Federer - ent�o o defensor do t�tulo e grande favorito.
Na pra�a Maidan, no centro de uma Kiev em guerra, Sergiy Stakhovsky, hoje com 36 anos, caminha com seu 1,93 metro de altura e seu rosto infantil, observando atento com seus olhos azuis, que contrastam com o uniforme de camuflagem. Em vez de uma raquete, desta vez ele carrega armas.
"N�o me sinto muito confort�vel com um rifle e n�o sei como reagiria se tivesse que matar algu�m", diz ele, em um ingl�s perfeito.
"Gostaria de nunca ter que me preocupar com esse tipo de coisa", lamenta.
H� pouco mais de duas semanas, ele retornou para a Ucr�nia e se alistou nas brigadas territoriais, compostas por volunt�rios encarregados de ajudar o Ex�rcito a deter a invas�o russa deflagrada em 24 de fevereiro.
Os ucranianos est�o "resistindo bem", garante, no momento em que os russos se aproximam cada vez mais do centro de Kiev. "Sabia que tinha que vir", diz ele.
- Longe dos filhos -
Um dia antes da invas�o, Sergiy Stakhovsky, que se aposentou do t�nis em janeiro ap�s o Aberto da Austr�lia, estava de f�rias em Dubai com sua mulher e os tr�s filhos, de 4, 6 e 8 anos.
Um dia depois, vendo pela televis�o seu pa�s se precipitar para uma guerra, ele se viu tomado pela "incerteza" e pela "impot�ncia". Grande parte da sua fam�lia est� na Ucr�nia.
Passou os tr�s dias seguintes reunindo informa��es para poder ajudar as pessoas a se colocarem a salvo. "Cheio de adrenalina", mal conseguia dormir "tr�s ou quatro horas" por noite e perdeu o apetite. Ele ent�o anunciou para sua esposa que estava indo para a Ucr�nia.
"Ela entendeu que eu n�o podia fazer outra coisa que n�o isso", relata, apesar da dif�cil situa��o familiar.
"Deixar meus filhos n�o � algo de que me orgulho", afirma, com a voz embargada.
"Eles n�o sabem que estou aqui, porque quero que fiquem longe de tudo isso. Mas eu disse a eles que voltarei logo, e j� se passaram 15 dias. Apenas Deus sabe quantos dias mais vai levar", completou.
"N�o temos escolha", insiste. "Se n�o resistirmos, n�o teremos mais um pa�s para morar", acrescenta.
Ele agradece a todos que, "da �ndia � Am�rica do Sul", enviaram-lhe "milhares de mensagens de apoio" e se solidarizam com as v�timas do conflito.
Entre eles, est�o "centenas" de jogadores profissionais, que n�o esqueceram que Sergiy Stakhovsky foi um de seus porta-vozes no circuito. Roger Federer � um deles.
"Me disse que queria que a paz voltasse logo" e que, com sua funda��o, estava procurando uma maneira de "ajudar as crian�as ucranianas".
Ele tamb�m se emocionou com a mensagem do s�rvio Novak Djokovic, "porque ele viveu (a guerra) quando crian�a e sabe exatamente o que nossas crian�as vivem", enfatiza Stakhovsky.
KIEV