Quatro dias depois de assumir o cargo, Boric enviou Izkia Siches, a primeira ministra do Interior da hist�ria do Chile, � regi�o de Araucan�a (sul), �rea em tens�o devido a ataques atribu�dos a grupos ind�genas radicais que reivindicam terras e que denunciam a opera��o de organiza��es paramilitares e da pol�cia.
A caminho da comunidade de Temucuicui, 600 km ao sul de Santiago, onde Siches planejava se encontrar com o pai de um ind�gena morto a tiros pela pol�cia em 2018, a comitiva foi emboscada.
Um carro em chamas bloqueou a passagem e tiros foram ouvidos. O comboio teve que recuar rapidamente, frustrando a entrada da segunda autoridade do pa�s em uma �rea que imp�e suas pr�prias leis.
Grande parte das comunidades mapuches se encontra na regi�o da Araucan�a, reivindicando a restitui��o de terras que consideram suas por direito ancestral e que hoje est�o nas m�os de empresas florestais.
A viagem frustrada, no entanto, ajudou a revelar a magnitude do que est� acontecendo na regi�o, situa��o agravada nos �ltimos anos pelo abandono de algumas �reas pelo Estado.
"Os eufemismos e as hist�rias acabaram. Agora est�o na realidade bruta, e a realidade bruta � que h� lugares no Chile onde a autoridade do Estado n�o pode entrar, porque tem que pedir permiss�o", comentou � AFP a analista e fundadora da Latinobar�metro Marta Lagos.
Em outro contratempo de seus primeiros dias no governo, o presidente Boric entrou em atrito com a coroa espanhola ao acusar o rei Felipe VI de atrasar a cerim�nia de posse - reclama��o negada pela casa real - e expressou seu aborrecimento com a Igreja Cat�lica pela presen�a em uma cerim�nia oficial de dois cardeais acusados de encobrir abusos sexuais de menores.
- Necessidade de crescer -
A situa��o em Araucan�a � um dos principais conflitos que Boric ter� que enfrentar, juntamente com a implementa��o de uma reforma tribut�ria para ampliar os benef�cios sociais e a crise migrat�ria que existe na fronteira norte do pa�s, al�m de apoiar o crescimento da popula��o local.
"Hoje estamos avan�ando com o acordo de Escaz�; amanh� o faremos no reencontro entre os que habitam nossos territ�rios, por pens�es dignas, sa�de de qualidade, pela erradica��o da viol�ncia de g�nero", disse o presidente ao assinar, nesta sexta-feira, a ades�o do Chile ao acordo ambiental de Escaz�, que havia sido rejeitado pelo governo anterior e ainda deve ser aprovado pelo Congresso.
Boric carrega a esperan�a de milhares de chilenos de construir um pa�s mais igualit�rio com base em um sistema social mais robusto, promessa que precisa ser financiada com uma reforma tribut�ria e crescimento econ�mico.
Seu gabinete � formado por mais mulheres do que homens, com grande diversidade na origem de seus membros.
"Um pa�s precisa crescer e at� agora a proposta econ�mica da Frente Ampla (da qual Boric faz parte) tem se concentrado em outros aspectos", alertou o cientista pol�tico Crist�bal Bellolio no dia da posse, em 11 de mar�o.
"Em pa�ses como o Chile, que ainda s�o relativamente pobres, n�o basta redistribuir, � preciso crescer se quiser aumentar o bolo para poder redistribuir", disse � AFP.
O Chile encerrou 2021 com uma expans�o hist�rica de 11,7%, sustentada pelo alto pre�o do cobre, o aumento do consumo impulsionado pela ajuda estatal do conservador Sebasti�n Pi�era para lidar com a pandemia e os tr�s saques antecipados de fundos de pens�o aprovados pelo Congresso em meio a grande press�o social.
O governo de Boric alertou que revisar� para baixo as proje��es de crescimento para 2022 e o percentual de arrecada��o da reforma tribut�ria que passaria de 5 pontos do PIB para 4.
SANTIAGO