Bras�lia – Aconteceu de novo, desta vez na segunda sexta-feira do Ramad� — o m�s sagrado para o isl� em que os mu�ulmanos observam o jejum absoluto do nascer do sol ao crep�sculo. Policiais israelenses invadiram a Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusal�m, por volta das 6h30 (0h30 em Bras�lia). O local abriga a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para os mu�ulmanos. De acordo com a pol�cia de Israel, uma hora e meia antes, “dezenas de jovens desordeiros encapuzados”, alguns com a bandeira do movimento isl�mco Hamas, "come�aram uma prociss�o" pelo complexo e teriam atirado pedras em dire��o ao Muro das Lamenta��es — local de peregrina��o dos judeus e muralha remanescente do templo do rei Salom�o.

Os confrontos entre as for�as de seguran�a do Estado judeu e os palestinos deixaram 158 feridos, seis deles em estado grave. Os militares israelenses tamb�m detiveram 450 manifestantes. Em 20 de maio de 2011, um incidente semelhante, na Esplanada das Mesquitas, deixou 331 feridos. Sob condi��o de n�o ter a identidade revelada, Mahmud (nome fict�cio) contou ao Correio Braziliense/Estado de Minas que chegou � Esplanada das Mesquitas minutos ap�s a entrada das for�as israelenses.

“Depois das ora��es do amanhecer, centenas de fi�is se reuniram na pra�a da mesquita e come�aram a gritar que o local � dos mu�ulmanos. Foi ent�o que um grande n�mero de policiais invadiu o local, usando granadas de efeito moral e balas de borracha. Os israelenses come�aram a perseguir as pessoas e a golpe�-las com cassetetes para for��-las a abandonar o complexo”, relatou. “Alguns jovens lan�aram pedras e entraram na Mesquita de Al-Aqsa. A pol�cia trancou o local com correntes de ferro e lan�ou as granadas de efeito moral pelo telhado, depois de quebrar os vidros das janelas. Os confrontos continuaram por tr�s horas.”

Os policiais levaram 450 palestinos presos. Ap�s as deten��es e a sa�da dos israelenses da �rea, os fi�is limparam a Mesquita de Al-Aqsa. Pelo menos 60 mil palestinos foram ao templo para as ora��es da sexta-feira, considerada dia sagrado para o isl�. A pol�cia israelense informou que tr�s membros de sua tropa ficaram feridos. Diretor da Mesquita de Al-Aqsa, Omar Al-Kiswani confirmou � ag�ncia France-Presse um segundo incidente pela manh� envolvendo uma interven��o da pol�cia israelense no pr�prio local de culto. "A ocupa��o (o nome dado a Israel pelos palestinos) sabe que a Mesquita de Al-Aqsa � uma linha vermelha que n�o deve ser ultrapassada", declarou.

A reportagem tamb�m falou com o jornalista freelance palestino Hassan Asleh, que orava na mesquita quando houve a confus�o. Segundo ele, cerca de 30 mil fi�is estavam no templo, atendendo a um chamado do Hamas para proteger o local contra uma suposta profana��o planejada pelos colonos judeus, que tamb�m celebravam, ontem, a Pessach (P�scoa judaica). "Um grande n�mero de jovens tomou a iniciativa de montar barricadas e preparar para repelir qualquer incurs�o da pol�cia ou dos colonos", comentou Asleh.

“Os jovens se armaram com roj�es para responder �s bombas de g�s lacrimog�neo e �s balas de borracha, disparadas pelas for�as israelenses, que estavam de prontid�o nas portas da Mesquita de Al-Aqsa”, explicou Asleh. Enquanto os dist�rbios ocorriam, o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, se reunia com o gabinete de seguran�a de emerg�ncia para avaliar a situa��o em Jerusal�m. O jornal “Haaretz” informou que Kobi Shabtai, chefe da pol�cia, disse na  reuni�o que seus homens evitaram fazer de tudo para invadir a Esplanada das Mesquitas. “Pedimos aos guardas locais que cuidassem dos baderneiros e os removessem do Monte do Templo, mas de nada adiantou”, comentou.

O governo dos EUA afirmou estar "profundamente preocupado" com os incidentes de ontem na Esplanada das Mesquitas. “Pedimos a todas as partes que exer�am modera��o, para evitar provoca��es e ret�rica”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, por meio de um comunicado. “Pedimos �s autoridades palestinas e israelenses que cooperem para diminuir as tens�es e garantir a seguran�a de todos”, acrescentou.

Em entrevista ao Correio Braziliense, Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, afirmou que “a continua��o da escalada israelense atingiu um n�vel que amea�a a seguran�a regional e a paz social no mundo”. “Ela transforma o conflito em uma guerra religiosa, da qual ningu�m ser� poupado das consequ�ncias devastadoras, tanto no Oriente quanto no Ocidente”, advertiu. Ele instou uma “a��o imadiata, urgente e decisiva” da comunidade internacional para “deter essa deteriora��o e eliminar suas causas”. “Chega de padr�es duplos. Na Palestina, a causa principal � a ocupa��o – fonte de terror e  de viol�ncia. O conflito dura 74 anos. O mundo v� e ouve, mas vira o rosto para longe da verdade”, acrescentou.

Para Alzeben, os recentes incidentes perigosos registrados no Oriente M�dio “foram causados pela ocupa��o da terra da Palestina, pelas pr�ticas agressivas brutais das autoridades de ocupa��o israelense, pelos assassinatos e pris�es contra o povo palestino e pelas incurs�es massivas e destrutivas nas cidades palestinas, aldeias e acampamentos". “O governo israelense � respons�vel por todas as v�timas resultantes desta s�rie sangrante que amea�a a vida de palestinos e israelenses”, concluiu.

Os confrontos na Esplanada s�o os primeiros a serem registrados este ano durante o m�s do Ramad�, quando milhares de palestinos e �rabes de pa�ses pr�ximos visitam Jerusal�m para rezar na Mesquita de Al-Aqsa. A Esplanada das Mesquitas est� localizada em Jerusal�m Oriental, parte ocupada por Israel desde 1967 e que os palestinos reivindicam como capital de um futuro Estado.

Bras�lia – Os dist�rbios na Esplanada das Mesquitas, em Jerusal�m, se inserem em uma escalada de viol�ncia registrada nas �ltimas semanas no Oriente M�dio, com uma s�rie de atentados a tiros e facas em Tel Aviv e com confrontos sangrentos entre as for�as israeleneses e manifestantes palestinos, na Cisjord�nia. Na quinta-feira, tr�s palestinos morreram durante uma opera��o das For�as de Defesa de Israel para cercar os suspeitos ligados a quatro atentados em Tel Aviv, que deixaram 14 mortos desde 22 de mar�o.

Na quinta-feira pela manh�, "dois jovens morreram de ferimentos causados em um ataque israelense no distrito de Jenin", no norte da Cisjord�nia, disse o Minist�rio da Sa�de palestino em comunicado. Horas depois, o mesmo minist�rio anunciou uma terceira morte — um homem de 45 anos, pai de seis filhos, que tinha sido gravemente ferido por balas israelenses, na v�spera, em Beita, ao sul de Nablus.