Ainda com a ressaca do dia anterior, as escolas de samba arrastaram neste s�bado cerca de 70 mil pessoas para uma viagem hipn�tica no ic�nico Samb�dromo, com exibi��o de fantasias e corpos sambando ao som das baterias sacudindo a saudade.
Os desfiles devolveram ao Rio de Janeiro o status de capital mundial do Carnaval e os cariocas mostraram que a alegria de viver prevalece, apesar da perda de mais de 660 mil pessoas na pandemia e da crise econ�mica que se seguiu.
"O brasileiro � otimista", "acha que no final tudo vai dar certo", resumiu Nivana Chagais, de 56 anos, que na noite de s�bado desfilou por duas das 12 escolas.
Passarela de coreografias prodigiosas, o Samb�dromo tamb�m costuma ser palanque pol�tico que reflete especialmente as preocupa��es sociais e das classes populares, em cujo seio nasceram as escolas do samba.
A destrui��o da Amaz�nia, a vulnerabilidade das terras ind�genas e o racismo, problemas que marcaram especialmente o governo do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, entraram no roteiro.
"� um bom momento (...) para homenagear as lideran�as negras porque estamos vivendo um per�odo complicado, com muitos preconceitos", disse Felipe Cordeiro, cabeleireiro de 32 anos que participou do desfile-homenagem a personalidades como Nelson Mandela e Barack Obama pela Para�so do Tuiuti.
Com faixas mais t�picas de um protesto do que de um desfile, a Unidos da Tijuca repudiou a pol�mica tese do "marco tempor�rio", defendida pelo agroneg�cio com o apoio de Bolsonaro, segundo a qual devem ser consideradas terras ind�genas apenas aquelas ocupadas por esses povos em 1988.
"Demarca��o j�", "Brasil, terra de ind�genas", diziam os lemas de um desfile que tamb�m alertou sobre a destrui��o da Amaz�nia, cujo desmatamento anual disparou mais de 75% desde que o presidente chegou ao poder em 2019 em compara��o com a d�cada anterior.
"Bolsonaro tem que sair (do governo) este ano", nas elei��es de outubro, disse Elisabet de Souza, uma jovem que desfilou pela Imperatriz na sexta-feira. "A partir da�, tudo vai melhorar".
Das arquibancadas, gritos contra Bolsanaro e aplausos a favor de seu principal rival, o ex-presidente de esquerda Luiz In�cio Lula da Silva.
- "Sem dinheiro"
Tradicional atra��o para o turismo estrangeiro e man� para a economia local, este ano o carnaval foi uma festa especialmente para os cariocas, com apenas 14% de estrangeiros, ante 23% em 2020.
Os desfiles aconteceram dois meses depois da data tradicional e sem os blocos de rua, que a cada ano transformam a cidade em uma pista de dan�a ao ar livre com poucas regras e muitos excessos.
Leandra Llopis, de 47 anos, que h� mais de duas d�cadas lida com a log�stica de v�rias escolas de samba, confessou que preparar esse Carnaval at�pico foi "uma corrida de obst�culos".
"Devido � pandemia, faltou recursos. Muitas pessoas est�o agora sem dinheiro e os desfiles t�m um custo enorme", explicou.
As escolas, por exemplo, tiveram que suspender seus ensaios por meses, uma importante fonte de renda gra�as �s doa��es daqueles que as frequentam as quadras.
Embora para realizar o Carnaval, "no final as pessoas sempre conseguem", concluiu Llopis.
RIO DE JANEIRO