"N�o falam, � claro, se tomarmos como refer�ncia a linguagem humana", adverte o bi�logo evolucionista C�dric Girard Buttoz, principal autor do estudo publicado nesta segunda-feira (18) no Nature Communications Biology.
Mas os chimpanz�s apresentam uma capacidade fora do comum para combinar uma gama reduzida de chamados, "doze vocaliza��es simples" em ao menos 390 sequ�ncias diferentes, segundo o pesquisador.
� uma esp�cie de sintaxe que associa de dois a dez gritos e cujo significado ainda precisa ser especificado.
De fato, o animal pode ter desenvolvido a capacidade de combinar sons de diferentes maneiras para significar coisas distintas.
"Temos algumas ideias sobre o significado de certas sequ�ncias, uma das quais est� relacionada exclusivamente com a nidifica��o, e n�o tem rela��o com o significado dos gritos isolados", disse � AFP Marc Jeannerod, pesquisador do Instituto Franc�s de Ci�ncias Cognitivas.
A equipe, que tem alguns membros afiliados ao instituto alem�o de antropologia evolutiva Max Planck, trabalhou com base em cerca de 5.000 registros feitos de 46 chimpanz�s adultos selvagens na reserva marfinense do Parque Nacional Tai.
Uma estudante de doutorado, Tatiana Bortolato, registrou 800 horas de vocaliza��es durante seis meses, que logo foram identificadas e classificadas com a ajuda de "codificadores" humanos.
Foi um m�todo in�dito que poderia ser utilizado com outros primatas, como o bonobo e o orangotango.
- Bigramas -
Os doze tipos de vocaliza��es do chimpanz� incluem o muito comum "hu", associado ou n�o a um suspiro ou grunhido. � bem conhecido dos especialistas, e seu significado pode variar de acordo com a intensidade.
"O +hu+ ligado a um grito de alarme � mais forte do que o relacionado ao repouso", explica Girard Buttoz, enquanto o "hu" associado a um suspiro � usado para identifica��o entre indiv�duos.
"O repert�rio vocal dos chimpanz�s, que � inato, pode ser considerado limitado", j� que alguns animais t�m um "vocabul�rio" muito mais rico, observa o pesquisador. Mas a esp�cie, que tem uma vida social muito complexa, pode ter encontrado nas sequ�ncias uma forma de "gerar novos sentidos e ampliar assim sua capacidade de comunica��o", acrescenta.
O estudo mostrou que um ter�o das vocaliza��es s�o sequ�ncias que combinam v�rios dos doze chamados, dos quais toda a extens�o � utilizada em algum momento.
Tamb�m estabeleceu uma "no��o de ordem", j� que alguns gritos s�o escutados sempre - ou quase sempre - na mesma posi��o. Trata-se de um "bigrama", ou seja, uma sequ�ncia que associa dois gritos.
"Por exemplo, o +hu+ est� quase sempre na primeira posi��o, o que potencialmente indica uma estrutura de comunica��o recorrente", aponta.
Alguns bigramas s�o reutilizados em sequ�ncias mais longas ao lado de outros cinco ou seis gritos, mais uma evid�ncia de uma estrutura est�vel dessa sintaxe simiesca.
Resta entender a rela��o entre os elementos dessas sequ�ncias, e se algumas s�o ou n�o geradoras de um novo significado.
Os pesquisadores observaram varia��es entre as popula��es de chimpanz�s na ordem dos cantos "de maneira muito consistente", diz Girard Buttoz. Isso implicaria um aprendizado dessas sequ�ncias vocais dentro do grupo e flexibilidade nesse modo de comunica��o.
Os cientistas ter�o que buscar o significado das sequ�ncias com experimentos de reprodu��o. "Um som � gravado e o macaco � obrigado a ouvi-lo na floresta para estudar sua rea��o", explica o pesquisador.
PARIS