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Estado de Minas ATAQUE NOS EUA

� aterrorizante levar minha filha � escola, diz sobrevivente de Columbine ap�s massacre no Texas

Levantamento do jornal The Washington Post indica que, desde Columbine, mais de 311 mil estudantes enfrentaram epis�dios de viol�ncia com armas de fogo em 331 escolas do pa�s, nos quais pelo menos 185 crian�as e adultos morreram.


27/05/2022 07:37 - atualizado 27/05/2022 08:26


Missy Mendo com sua filha, Ellie
Missy Mendo sobreviveu ao massacre de Columbine em 1999. Hoje ela diz que mandar a filha Ellie para a escola � um de seus maiores medos (foto: Arquivo pessoal)

Quando ouviu as primeiras informa��es sobre o massacre em uma escola prim�ria no Estado do Texas, na ter�a-feira (24/05), a americana Missy Mendo estava preenchendo documentos para matricular sua filha Ellie, de quatro anos de idade, na pr�-escola.

Mas a not�cia de que um atirador de 18 anos havia matado 19 crian�as e duas professoras na pequena cidade texana de Uvalde, no que � considerado o ataque com o maior n�mero de mortos em uma escola americana desde 2012, fez Missy interromper a tarefa, e trouxe mem�rias de outra ter�a-feira de primavera nos Estados Unidos, h� 23 anos.

Naquela manh� de 20 de abril de 1999, Missy e seus colegas na escola secund�ria de Columbine, no Estado do Colorado, tiveram a rotina brutalmente interrompida por dois estudantes armados, que mataram 12 alunos e um professor antes de se suicidarem, em um dos massacres mais not�rios do pa�s.

Missy conseguiu escapar sem ferimentos f�sicos. Mas o trauma daquele dia persiste, e ela conta que, agora que � m�e, seu maior medo � mandar a filha para a escola.

"Pensar no primeiro dia da minha filha na escola � a coisa mais aterrorizante para mim", diz Missy � BBC News Brasil. "Ela � o maior amor da minha vida."

"E eu estava preenchendo os documentos para matricular a minha filha enquanto tudo estava acontecendo no Texas, enquanto pais no Texas ter�o de enterrar seus filhos", afirma Missy, que mora na cidade de Littleton, no Colorado.

"Como eu posso seguir adiante?", questiona. "Aqui estou, preenchendo os documentos, e um dos meus maiores pesadelos est� se materializando."

Ela diz que n�o consegue parar de pensar nos pais e m�es que perderam seus filhos no Texas.

"Eu sei o que aquela comunidade est� passando nas horas seguintes (ao ataque), nos dias seguintes. Quero que saibam que estou aqui para oferecer apoio", afirma Missy, que � uma das diretoras do Rebels Project, organiza��o sem fins lucrativos criada por sobreviventes de tiroteios para apoiar os que sofrem traumas semelhantes.

'Eles come�aram a atirar em nossa dire��o'

Missy relembra os momentos de terror no dia do ataque em Columbine. Ela tinha 14 anos de idade e estava em seu primeiro ano do ensino m�dio.

"Eu estava na aula de matem�tica quando ouvimos um barulho alto e, depois, um estrondo", conta. "Eu podia ver pela janela v�rios estudantes correndo e atravessando uma rua movimentada."

Inicialmente, alguns na escola acharam que se tratava de um trote. Missy lembra que ouviu outros alunos gritando "eles t�m armas", "eles t�m bombas".

"Corri para um parque do outro lado da rua. Enquanto est�vamos l�, pod�amos ver fuma�a saindo da escola. E, depois, eles (os agressores) come�aram a atirar na nossa dire��o."


Supervisores de segurança Franco Poerri (C) monta guarda enquanto estudantes passam por detectores de metal na William Howard Taft High School em 14 de fevereiro de 2002 em Chicago, IL.
Detectores de metal foram introduzidos em muitas escolas dos EUA ap�s o massacre de Columbine em 1999 (foto: Getty Images)

Um professor, Dave Sanders, conseguiu retirar estudantes da cafeteria, mas retornou para ajudar outros alunos e foi morto. Dezenas se esconderam na biblioteca, onde os atiradores acabaram entrando e fazendo v�rias v�timas fatais. Mais de 20 pessoas ficaram feridas.

O massacre em Columbine n�o foi o primeiro em uma escola nos Estados Unidos, mas inaugurou o que muitos consideram uma "nova era" nesse tipo de trag�dia.

O tiroteio foi um dos primeiros a receber intensa cobertura ao vivo de canais de TV a cabo. Se, at� ent�o, pais e m�es nos Estados Unidos consideravam a escola um lugar seguro para seus filhos, isso mudou com as imagens de estudantes correndo em busca de abrigo para salvar a pr�pria vida.

"Na �poca, a internet estava no come�o, e as pessoas n�o precisavam mais sentar na sala e esperar que as not�cias chegassem, elas podiam buscar as hist�rias na internet", observa Missy.

Com a publicidade em torno do caso, os dois adolescentes respons�veis pelo ataque atingiram notoriedade, e a palavra Columbine virou sin�nimo de massacre em escolas. Nas d�cadas seguintes, autores de v�rias outras atrocidades, alguns dos quais nem eram nascidos na �poca, citaram os atiradores de Columbine como inspira��o.

Esse fen�meno, chamado de "efeito imita��o", no qual autores de ataques buscam superar a "fama" de atiradores anteriores, matando um n�mero maior de pessoas, leva especialistas a pedirem que a imprensa evite repetir desnecessariamente o nome dos respons�veis por esses ataques.

'N�mero desolador'

Nos 23 anos desde Columbine, os Estados Unidos se acostumaram a trag�dias do tipo. Apesar de as escolas estarem hoje mais preparadas, com diversos protocolos de seguran�a e treinamentos sobre como agir em caso de emerg�ncia, tiroteios em massa continuam a fazer v�timas.

Um c�lculo do jornal The Washington Post indica que, desde Columbine, mais de 311 mil estudantes enfrentaram epis�dios de viol�ncia com armas de fogo em 331 escolas do pa�s, nos quais pelo menos 185 crian�as e adultos morreram.


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(foto: BBC)

Para Missy e outros sobreviventes, cada novo ataque traz de volta a mem�ria de Columbine. "O n�mero de tiroteios em massa que ocorreram depois (de Columbine) � desolador", lamenta. "E alguns deles me afetaram de maneira diferente."

Ela cita o massacre na escola prim�ria de Sandy Hook, ocorrido em 2012 na cidade de Newtown, em Connecticut, no qual 20 crian�as e seis adultos foram mortos. "Na �poca eu estava morando em uma cidade pr�xima", lembra Missy.

"(O ataque na escola) Marjory Stoneman Douglas tamb�m foi muito duro para mim", ressalta, referindo-se ao ataque em que um atirador matou 14 estudantes e tr�s funcion�rios da escola na cidade de Parkland, na Fl�rida, em 2018.

Missy cita tamb�m trag�dias ocorridas fora de escolas, como o massacre em um festival de m�sica em Las Vegas em 2017, no qual 60 pessoas morreram e quase 900 ficaram feridas depois que um atirador abriu fogo contra a multid�o.

V�rios outros tiroteios em escolas, supermercados, lojas, igrejas, casas noturnas e outros locais p�blicos chocaram o pa�s nas �ltimas duas d�cadas. Alguns tiveram n�mero de mortos maior do que o de Columbine, entre eles um ataque na universidade Virginia Tech, em 2007, no qual 32 pessoas foram mortas. Outros, apesar da brutalidade, n�o ganharam tanta aten��o.

Alguns sobreviventes, entre eles v�rios dos estudantes de Parkland, acabaram se tornando ativistas para tentar reformar as leis que controlam a posse e porte de armas nos Estados Unidos.

Depois de trag�dias do tipo, o debate sobre o alto n�mero de armas nas m�os da popula��o costuma voltar � tona no pa�s. De um lado, pol�ticos democratas pedem mais controle de armas. Do outro, republicanos rejeitam qualquer restri��o.


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(foto: BBC)

Mas outros sobreviventes preferem evitar o tema, que provoca grande polariza��o e enfrenta muitos obst�culos para avan�ar no Senado, e concentram seu ativismo em outras medidas, como aumentar a seguran�a nas escolas.

Missy diz que prefere n�o opinar sobre o controle de armas, lembrando que o Rebels Project n�o � parte de nenhum partido pol�tico e busca ajudar sobreviventes de ambos os lados do debate.

Apoio a outros sobreviventes

O projeto surgiu em 2012, depois que um atirador matou 12 pessoas em um cinema na cidade de Aurora, no Colorado. Na �poca, alguns dos sobreviventes de Columbine decidiram formar um grupo de apoio para as pessoas afetadas por aquele novo tiroteio.


Uma jovem segura flores do lado de fora do Centro Cívico Willie de Leon, para lamentar o massacre em Uvalde, Texas, em 24 de maio de 2022.
Alguns especialistas se referem � juventude americana de hoje como 'gera��o do tiroteio' (foto: Getty Images)

O objetivo era oferecer ajuda emocional, j� que haviam passado por uma situa��o semelhante e que muitas outras pessoas n�o conseguem compreender. Eles pr�prios n�o haviam tido acesso a esse tipo de apoio na �poca de Columbine e, 13 anos depois, ainda conviviam com o trauma.

Hoje, o Rebels Project ajuda a conectar sobreviventes de trag�dias do tipo em todo o pa�s e no exterior.

"N�s representamos mais de cem comunidades ao redor do mundo, afetadas n�o s� por tiroteios, mas tamb�m ataques a bomba e outros tipos de viol�ncia", diz Missy. "Com exce��o de alguns profissionais de sa�de mental, todos os membros e volunt�rios s�o sobreviventes de diferentes trag�dias em massa."

Missy fala sobre as dificuldades que enfrentou nos meses e anos que se seguiram ao massacre em Columbine. "Foi muito dif�cil encontrar um terapeuta que pudesse lidar com o que est�vamos enfrentando. N�o havia muitos especialistas em trauma causado por tiroteios em escolas na �poca."


Missy e outros sobreviventes de tiroteios em massa participam de um grupo de apoio a pessoas que sofreram traumas semelhantes
Missy e outros sobreviventes de tiroteios em massa participam de um grupo de apoio a pessoas que sofreram traumas semelhantes (foto: Arquivo Pessoal)

Ela diz que tentou lidar com o trauma por conta pr�pria, e nunca relacionou os problemas que enfrentava, como ins�nia, com o epis�dio vivido aos 14 anos de idade. Foi somente na �poca do 20º anivers�rio do massacre, depois do nascimento de Ellie, que decidiu come�ar a fazer terapia.

Hoje, aos 38 anos de idade, ela consegue usar a pr�pria experi�ncia para ajudar outros sobreviventes.

"Nas pr�ximas horas, dias, semanas, meses e anos, lembrem-se de dar um passo de cada vez, um momento de cada vez", diz Missy �s fam�lias de Uvalde. "Cada um tem um ritmo diferente para processar o luto."

"E pe�am ajuda, saibam que n�o h� problema em pedir ajuda", afirma. "Voc�s n�o est�o sozinhos."

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