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Estado de Minas ATALAIA DO NORTE

�guas turvas da pesca ilegal salpicam duplo assassinato na Amaz�nia


22/06/2022 09:20

O pirarucu � um peixe amaz�nico saboroso e que impressiona, com suas escamas vermelhas e pretas do tamanho de grandes colheres. Mas como � poss�vel que ele esteja relacionado com o assassinato do jornalista brit�nico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira?

A pol�cia diz que Phillips, 57, e Pereira, 41, foram mortos a tiros no �ltimo dia 5, quando retornavam de uma expedi��o no Vale do Javari, uma �rea remota da Floresta Amaz�nica. Essa regi�o, na fronteira com Peru e Col�mbia, parece, � primeira vista, um dos �ltimos grandes trechos virgens da floresta, lar de uma reserva ind�gena com a maior concentra��o de tribos isoladas do planeta.

O duplo assassinato, no entanto, revelou crescente anarquia e viol�ncia na regi�o, onde reinam a pesca, a extra��o de madeira e a minera��o ilegais, bem como o tr�fico de drogas, segundo especialistas em seguran�a.

Pereira havia recebido amea�as de morte por seu trabalho contra a ca�a e a pesca clandestina na reserva, onde essas atividades s�o proibidas, exceto para nativos. "Ele combateu muito essa quest�o da pesca. Ent�o todos esses caras j� conheciam o Bruno", explica Orlando Possuelo, que trabalhou com Pereira coordenando patrulhas de volunt�rios ind�genas e tamb�m recebeu amea�as de morte.

De acordo com os investigadores, Pereira e Phillips viajavam em uma lancha pelo rio Itaqua� quando um grupo os alcan�ou, atirou e enterrou seus corpos. A pol�cia identificou oito suspeitos e prendeu tr�s.

Moradores de Atalaia do Norte, povoado ribeirinho pr�ximo ao limite noroeste da reserva, dizem que os tr�s s�o pescadores ilegais de pirarucu, maior peixe de �gua doce da Am�rica do Sul, que pode chegar a 4,5 metros e pesar at� 200 quilos. Um relat�rio da Uni�o Internacional para a Conserva��o da Natureza indica que 83% da pesca ilegal apreendida no Brasil entre 2012 e 2019 foi de pirarucu.

- 'Todos sabem' -

Especialistas e pescadores de Atalaia dizem que a ca�a clandestina de pirarucu � um neg�cio lucrativo vinculado aos traficantes de drogas que atuam no Peru e na Col�mbia, que, supostamente, usam o mercado ilegal da pesca para lavar dinheiro das drogas, como parte das "complexas redes criminosas nacionais e transnacionais que operam em diferentes economias" na Amaz�nia, segundo o F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica.

"O que aconteceu com Bruno e Dom � resultado de um aumento do crime organizado, explicado, por sua vez, pela aus�ncia do Estado", diz Antenor Vaz, ex-chefe de opera��es da Funai no Vale do Javari, o que levantou a d�vida sobre se os suspeitos agiram sozinhos.

A Pol�cia Federal estima que n�o houve um "mandante nem organiza��o criminosa por tr�s do delito", o que refuta a Uni�o dos Povos Ind�genas do Vale do Javari (Univaja), onde Pereira trabalhava, que acusa a pol�cia de ignorar os ind�cios de que "uma poderosa organiza��o criminosa" estaria por tr�s dos assassinatos.

"N�s, que somos daqui, sabemos que existe uma fac��o", afirmou � AFP o coordenador geral da Univaja, Paulo Marubo.

- Tabu do pirarucu -

No mercado de peixes de Atalaia, n�o h� pirarucu desde o desaparecimento de Phillips e Pereira, mesmo os capturados na pesca legal, permitida de forma restrita em seis lagos fora da reserva ind�gena.

Com as for�as de seguran�a e jornalistas na cidade para investigar o caso, ningu�m se arrisca por estes dias, mesmo que apenas um peixe possa valer centenas de d�lares.

"Mesmo os pescadores legais t�m medo de sair neste momento, com o Ex�rcito a� e todo mundo culpando a gente por aquela atrocidade", conta o presidente da Col�nia de Pescadores de Atalaia do Norte, Roberto Pereira da Costa. "O pescador ilegal tem lancha grande, motor de 60, rede nova. Eles n�o est�o l� para pescar 15 quilos de peixe para as fam�lias deles, tentam sacar tudo o que puderem", ressalta.

- Um 'problema maior' -

Em dezembro passado, a jornalista Monica Yanakiew, da rede de TV Al-Jazeera em ingl�s, fez uma expedi��o com Pereira semelhante a que ele realizou com Phillips. Ela gravou Pereira advertindo um pescador para n�o atuar em terras ind�genas.

O pescador era Amarildo da Costa de Oliveira, preso como principal suspeito do caso. Os pescadores ficaram furiosos quando as patrulhas de Pereira confiscaram sua pesca, lembra Monica.

Mas o problema "� maior", afirma Monica, refor�ando as cr�ticas que acusam o governo Bolsonaro de ter reduzido a fiscaliza��o ambiental e a prote��o dos ind�genas.


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