At� o �ltimo momento, este hondurenho, com sua esposa e tr�s filhos, tentou evitar a op��o do caminh�o pois sabia dos muitos migrantes que morreram nestes ve�culos, em sua maioria lotados e sem ventila��o.
Mas os "coiotes" (traficantes de pessoas), a quem os parentes pagaram 13.000 d�lares para lev�-los ao Texas, n�o ofereceram outra alternativa.
"Quando faz o acordo, o primeiro pedido que voc� faz � n�o ser embarcado em um cont�iner, mas no caminho fazem o que querem", diz Jos� Mario Licona, de 48 anos, em um albergue da Ciudad Ju�rez (estado de Chihuahua, M�xico).
H� duas semanas chegou l� com sua esposa e os filhos de oito, seis e dois anos, ap�s serem expulsos pelas autoridades americanas.
Depois que deixaram a Cidade do M�xico, atravessaram a fronteira de Reynosa (estado de Tamaulipas, nordeste), onde chegaram de caminh�o, meio de transporte que aterroriza Jos� Mario.
Ele tinha mem�rias do acidente de um ve�culo que deixou 56 migrantes mortos em uma estrada em Chiapas (sul do M�xico) no dia 9 de dezembro de 2021. Agora, acrescenta a trag�dia de San Antonio (Texas), onde mais 53 morreram asfixiados na �ltima segunda-feira (27).
"Muitas vezes deixam os caminh�es abandonados com as pessoas trancadas", acrescenta.
- Arrependidos -
Jos� Mario conta que viajavam cem pessoas e o caminho "n�o foi verificado por nenhuma autoridade" em mais de mil quil�metros de percurso.
Na trag�dia de San Atonio, cujo ponto de partida ainda � investigado, o caminh�o passou por dois pontos de revis�o migrat�ria no Texas, segundo o governo mexicano. As placas, licen�as e logotipos foram clonados.
Comerciante, Jos� Mario emigrou de sua cidade natal Col�n no dia 20 de maio. V�tima de um assalto, ele recebeu um disparo no bra�o que ainda lhe causa dores. Para Jos�, a viagem foi t�o "terr�vel" que hoje se arrepende".
"Estava muito frio. Coloquei duas cal�as, tr�s camisas e uma manta para cobrir meus filhos. Dormiram, n�o sentiram o caminho. Gra�as a Deus, estamos aqui", relata.
A baixa temperatura tamb�m intensificou a dor no bra�o, mas sua maior preocupa��o era alcan�ar o Texas, onde a fam�lia acabou se entregando para a pol�cia de fronteira na esperan�a de obter asilo.
Hoje esperam uma "exce��o humanit�ria" para serem admitidos. Sua esposa confessa que n�o voltaria a subir em um cont�iner t�o cedo, "porque � um risco para sua vida e a dos seus filhos".
Dos 53 falecidos em San Antonio, 27 eram do M�xico, 14 de Honduras, sete da Guatemala e dois de El Salvador. A nacionalidade de tr�s ainda � desconhecida.
- "Anjo" salvador -
Migrantes entrevistados pela AFP em outros ref�gios na fronteira contam que as viagens de caminh�o duram at� dois dias e as pessoas s�o amontoadas como "animais", com 400 pessoas em um �nico ve�culo.
Por conta do calor extremo, alguns desmaiam ou tiram a roupa, outros abrem desesperadamente buracos nas cabines, al�m de n�o receberem comida e evitarem tomar �gua para n�o precisar urinar.
Quando os cont�ineres s�o refrigerados, � como estar em um "frigor�fico", descreveu uma jovem ap�s a trag�dia de Chiapas.
Foi por este motivo que Jenny, que emigrou de Honduras com suas filhas de 8 e 14 anos, se recusou a subir em um em Vilahermosa, no M�xico, e continuou sua travessia sem os "coiotes".
"Essa noite que eu iria sair (...) foi como a salva��o de um anjo", contou a mulher de 32 anos. Ela foge das gangues de seu pa�s e teme que suas filhas sejam abusadas por traficantes.
Desde 2014, cerca de 6.430 migrantes faleceram ou desapareceram no trajeto at� os Estados Unidos, segundo a Organiza��o Internacional para as Migra��es (OIM), e 850 apareceram mortos em acidentes ou por viajar em condi��es desumanas.
Apesar de humilhantes e arriscadas, as viagens de caminh�o s�o caras e muitas vezes financiadas por familiares nos EUA. Para Jenny, cobraram 7.500 d�lares por pessoa.
S�o administrados por "redes cada vez mais complexas. N�o viajam com um coiote s�, estamos falando de empresas criminosas", declarou � AFP Dolores Par�s, especialista em migra��o no Col�gio da Fronteira Norte.
Par�s mostrou estar surpresa com "o pouco que se aborda o tema da corrup��o" das autoridades supostamente ligadas aos traficantes.
Tranquila por n�o ter recorrido a esses comerciantes, Jenny tamb�m espera uma "exce��o humanit�ria" no albergue da Ciudad Ju�rez. Em mensagem, pede ao governo dos Estados Unidos: "Toda pessoa tem o direito de uma oportunidade".
CIUDAD JU�REZ