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Estado de Minas PARIS

Regimes autorit�rios pagam caro para perseguir opositores no ex�lio


15/07/2022 08:50

Um blogueiro que apaga todos os aplicativos chineses de seu celular, um advers�rio eg�pcio espionado por dois Estados ou um jornalista paquistan�s v�tima de "paranoia" s�o exemplos de dissidentes que, apesar de estarem no ex�lio, continuam sendo pressionados por regimes autorit�rios.

Como s�mbolo da impunidade desta persegui��o est� o pr�ncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman. Apesar de ser considerado por Washington como o autor intelectual do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do reino em Istambul em 2018, em junho passado ele selou sua reconcilia��o com a Turquia durante uma visita ao pa�s.

E o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que havia relegado a Ar�bia Saudita ao status de "p�ria", deve se encontrar com o pr�ncipe herdeiro.

O fen�meno chamado "repress�o transnacional" existe h� muito tempo, mas se multiplicou nos �ltimos anos, devido aos movimentos migrat�rios e ao desenvolvimento das tecnologias digitais, que facilitam a atua��o de ativistas no ex�lio em seu pa�s de origem.

Mudan�as que, "claro, aumentaram a percep��o da amea�a por parte dos regimes repressivos", diz Marcus Michaelsen, especialista em ativismo e repress�o online e pesquisador da Universidade Flamenga de Bruxelas (VUB).

Em relat�rio divulgado em junho, ap�s um estudo global sobre o assunto realizado no ano passado, a organiza��o americana de promo��o da democracia Freedom House relatou 735 atos f�sicos diretos, cometidos entre 2014 e 2021 por 36 pa�ses, principalmente China, Turquia, R�ssia, Ar�bia Saudita, Ir� e Ruanda.

Quatro pa�ses entraram na lista em 2021, incluindo Belarus, que at� desviou um avi�o para prender um opositor.

Essas a��es espetaculares, por�m, como o envenenamento do ex-agente russo Serguei Skripal na Inglaterra em 2018 ou o assassinato, em 2019, de um ativista georgiano checheno em Berlim - ordenado pela R�ssia, segundo a Justi�a alem� -, n�o s�o mais do que a ponta do iceberg de uma pol�tica muito mais perniciosa.

"O painel de t�ticas vai do ass�dio ao assassinato, e pode ser ao mesmo tempo ass�dio, amea�a, press�o..." lista Katia Roux, da Anistia Internacional Fran�a, que tamb�m cita "desaparecimentos for�ados, sequestros ou assassinatos" entre os m�todos usados.

- "Paranoia" -

O jornalista turco Can D�dar, exilado na Alemanha, de onde dirige um portal e uma r�dio para a Turquia e a di�spora, est� na mira do presidente Recep Tayyip Erdogan.

"No primeiro ano, descobrimos uma equipe de TV turca gravando nosso escrit�rio e mostrando todos os detalhes, incluindo endere�o, hor�rio, etc e descrevendo como o 'quartel dos traidores'", lembra.

"Mesmo na di�spora, as pessoas t�m medo", diz, observando que em julho de 2021 tr�s homens agrediram um jornalista turco em Berlim, instando-o a "parar de escrever sobre temas sens�veis".

Al�m dos servi�os de intelig�ncia turcos, "muito ativos, especialmente na Alemanha e na Fran�a", segundo Can D�ndar, "h� muitos apoiadores de Erdogan e ele pode mobiliz�-los facilmente".

Por sua vez, o jornalista paquistan�s Taha Siddiqui encontrou ref�gio na Fran�a ap�s uma tentativa de sequestro - da qual acusa os servi�os de seguran�a de seu pa�s - em 2018. Agora, afirma que "se sente mais seguro", mas n�o completamente.

Em 2020, durante uma visita dos servi�os de intelig�ncia paquistaneses a seus pa�s para exort�-los a ficarem quietos, um dos agentes deixou escapar: "Se Taha pensa que est� seguro em Paris, ele est� errado", conta.

Nesse mesmo ano, um jornalista paquistan�s foi morto na Su�cia e um ativista de direitos humanos, tamb�m do Paquist�o, no Canad�, reavivando os temores de que Siddiqui pudesse ser sequestrado.

Em mar�o de 2022, um homem foi condenado no Reino Unido � pris�o perp�tua, acusado de ter tentado assassinar um blogueiro paquistan�s exilado na Holanda por uma quantia em dinheiro no ano anterior.

"Voltei a cair na paranoia", admite Siddiqui, que abriu um bar em Paris, "The Dissident Club", onde s�o organizados encontros, exposi��es e exibi��es.

"Toda vez que tu�to, me pergunto se vale a pena entrar nessa batalha. Eles me deixaram paranoico, desconfiado e com medo, mesmo no ex�lio".

- Vigil�ncia invis�vel -

Embora a repress�o f�sica transnacional "n�o tenha um custo muito alto politicamente, atrai aten��o, ou mesmo [causa] riscos diplom�ticos", explica Marcus Michaelsen.

"Mas, no campo digital, as consequ�ncias s�o quase nulas", esclarece.

Os regimes autorit�rios "aproveitam um mercado de tecnologias de vigil�ncia", que t�m uma "rela��o muito boa", diz o especialista.

Uma dessas tecnologias � o programa israelense Pegasus, que tem sido usado para espionar os telefones de centenas de personalidades, como o opositor eg�pcio Ayman Nur, amigo de Jamal Khashoggi e exilado na Turquia.

O Citizen Lab, grupo especializado da Universidade de Toronto (Canad�), detectou dois dispositivos de espionagem, Pegasus e Predator, instalados na conta de dois Estados diferentes, algo in�dito at� agora.

"A espionagem de opositores e a viola��o de sua vida privada � uma forma de crime organizado a que recorrem os regimes ditatoriais", declara Ayman Nur.

Ele garante, por�m, que "nada mudou" em seu comportamento: "Sempre considerei meu telefone como um r�dio que todos podiam ouvir".

"Qualquer governo pode se equipar com essa tecnologia para monitorar qualquer pessoa, de forma absolutamente invis�vel e sem deixar rastros", diz Katia Roux.

A Anistia Internacional identificou onze Estados clientes do Pegasus. Al�m disso, "quando um pa�s ataca fisicamente seus advers�rios no exterior, isso � sempre precedido por alguma forma de amea�a digital, as duas coisas sempre andam de m�os dadas", alerta Marcus Michaelsen, citando o exemplo das repres�lias sofridas por parentes de ativistas da minoria uigur na China.

Para evitar esse tipo de press�o, Meiirbek Sailanbek, da comunidade cazaque - outra minoria mu�ulmana na China - excluiu os aplicativos chineses e os n�meros de seu irm�o e irm�, que ainda moram em Xinjiang (noroeste), de seu telefone.

Sailanbek, engenheiro do setor petrol�fero, mudou-se para o Cazaquist�o e obteve a nacionalidade cazaque. Sua vida deu uma guinada quando come�aram a vazar informa��es sobre a repress�o aos uigures na China em 2018, pois, segundo ele, foi ent�o que descobriu que seus colegas, ex-colegas e professores haviam sido internados.

Depois que as autoridades cazaques prenderam o chefe da ONG Atajurt em 2019, � qual ele pertencia (embora suas postagens nas redes sociais fossem sempre feitas sob pseud�nimo), conseguiu se refugiar em Paris.

Cerca de dois meses depois que partiu, e depois que as autoridades cazaques revelaram sua identidade, o governo chin�s amea�ou seu irm�o e irm� de que seriam enviados para um campo ou pris�o se ele continuasse a escrever, conta.

Foi sua m�e, que mora no Cazaquist�o com seu pai, quem lhe passou a mensagem: "Meirbek, sua irm� e seu irm�o est�o em perigo, voc� tem que parar".

Desde ent�o, seu mundo se estreitou: ele n�o pode retornar � China ou ao Cazaquist�o e prefere evitar a Turquia, o Paquist�o, os pa�ses �rabes e a R�ssia, considerados muito sens�veis � press�o do governo chin�s.


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