Beer, que tinha apenas 29 anos quando morreu, era um dos milh�es de americanos dependentes do OxyContin, um analg�sico opioide que os m�dicos prescreveram pela primeira vez depois que ele machucou o joelho em uma queda de um cavalo.
"Continuaram prescrevendo at� que em algum momento ele n�o podia viver sem", diz seu pai, Don Beer. "Isso nos levou aonde estamos agora, honrando a mem�ria do meu filho que se foi".
Num s�bado de ver�o na pequena cidade de Bosler, Wymoning, no oeste dos Estados Unidos, amigos, familiares e colegas recordaram o caub�i fazendo o que ele mais amava.
No rodeio, o p�blico vibrou com os chutes de um potro contra uma cerca branca. A barreira se abriu, o animal entrou na arena.
Em sua sela, o cavaleiro se segurou com uma m�o. Seu �nico objetivo: n�o ser derrubado por pelo menos oito segundos.
Dezenas de bravos tentaram repetir a fa�anha; as quedas foram numerosas.
"Nossa, essa bateu forte. Pode ser que precise de ajuda", gritou o locutor, enquanto alguns homens corriam para domar o cavalo e pegar o caub�i ca�do.
A fam�lia de Jonn assistiu � cena.
"Algumas pessoas s�o atra�das pelos cavalos porque os ajudam a superar as dificuldades do dia a dia", explica o pai. "Jonn era um deles: quanto mais estava cercado por cavalos, melhor se sentia".
Mas, eventualmente, n�o foi suficiente e, a cada queda, a necessidade de al�vio da dor por medicamentos ficava mais intensa.
Em 31 de outubro do ano passado, Jonn morreu de overdose de fentanil, um opioide sint�tico at� 50 vezes mais poderoso que a hero�na. Deixou tr�s filhas.
- Trag�dia -
Wyoming � o estado menos populoso dos Estados Unidos e o d�cimo (de 50) maior. Seus quase meio milh�o de habitantes est�o espalhados por cerca de 250.000 km2 de terras agr�colas, pastagens e cadeias de montanhas, onde as altas temperaturas do ver�o d�o lugar �s nevascas do inverno.
A paisagem formou uma popula��o cuja palavra de ordem � autossufici�ncia.
"Sup�em-se que os caub�is devem ser dur�es, nos ensinam a n�o depender de ningu�m", diz Rand Selle, de 30 anos, organizador do rodeio em homenagem ao seu colega.
"N�o temos necessariamente essa facilidade de nos comunicar, de falar sobre nossas emo��es".
Muitas vezes isso acaba em trag�dia.
"Muitas vezes temos que lidar com amigos ou parentes que faleceram, seja por suic�dio ou por depend�ncia de �lcool ou drogas", diz o caub�i de olhos azuis penetrantes e bandana vermelha no pesco�o.
A morte de Jonn foi um alerta para Rand, que fundou o "No More Empty Saddles", um grupo dedicado a proporcionar espa�o e ferramentas para os caub�is expressarem seus sentimentos.
- "Um lugar para falar" -
"No More Empty Saddles" tornou-se popular no Facebook, onde v�rios caub�is come�aram a dar seus depoimentos.
"� completamente normal ter emo��es negativas, � o que nos torna humanos e nos distingue... de um cavalo", enfatiza Sheryl Foland, chefe de quest�es de sa�de mental da associa��o.
O ambiente dessa profissional que ostenta uma longa tran�a loira n�o foi poupado das trag�dias do v�cio e do suic�dio.
"Eu cresci com um pai alco�latra", conta. "Meu pai estava em reabilita��o quando meu irm�o morreu" por suic�dio.
"Voc� nunca sabe quem vai ficar viciado. Mas se n�o falarmos sobre isso, n�o vamos avan�ar", ressalta.
Para "acabar com mortes desnecess�rias", essa mulher distribui mecanismos que desativam armas (quase tr�s quartos das 189 pessoas em Wyoming que se mataram em 2021 o fizeram com um tiro), bem como caixas com trincos para armazenar drogas.
Mas, acima de tudo, usa os rodeios para dar aos caub�is a chance de compartilhar seus problemas.
No dia anterior, um caub�i bateu � sua porta. "S� queria um lugar para conversar", diz Foland.
BOSLER