Elizabeth II, um ponto de refer�ncia em mares agitados

Elizabeth II da Inglaterra morreu nesta quinta-feira (8) aos 96 anos, no auge da popularidade, um s�mbolo de resist�ncia e continuidade em meio a grandes mudan�as, como a perda do imp�rio ou a ruptura com a UE.

Elizabeth II nasceu em Londres em 21 de abril de 1926. Quando ascendeu ao trono em 1952, com apenas 25 anos, Winston Churchill era primeiro-ministro, a �ndia acabara de obter a independ�ncia e a Gr�-Bretanha ainda governava algumas �reas da �sia e �frica.

Desde ent�o, a monarca se tornou um s�mbolo de continuidade que passou pela desintegra��o do imp�rio, a Guerra Fria, as mudan�as sociais do p�s-guerra, os felizes anos 1960, a chegada da era digital e a sa�da da Uni�o Europeia no referendo de 23 de junho de 2016.

Os tempos mudaram e a popularidade da monarquia registrou altos e baixos, mas a rainha sempre foi uma figura popular, possivelmente a mulher mais famosa do mundo.

- Um papel em tempo integral -

"Para ela, ser rainha � um grande papel, maior que ela, e � um papel que tenta cumprir", disse � AFP Kate Williams, autora de "A jovem Elizabeth: a cria��o de uma rainha", lan�ado em 2012, quando ela completou 60 anos de reinado.

"N�o � apenas um emprego de tempo integral, � toda sua vida", destacou.

Dedicada estoicamente ao seu dever, ela raramente deixava transparecer suas emo��es e nunca suas opini�es. Politicamente neutra por obriga��o, nunca se soube, por exemplo, o que pensava sobre o Brexit, finalmente materializado em 2020 ap�s quatro anos de crise pol�tica que dividiu seu pa�s.

Mas em uma rar�ssima exce��o de sua discri��o habitual, algumas semanas antes da c�pula do clima COP26 em Glasgow, o microfone de uma c�mera de televis�o a capturou expressando sua irrita��o com l�deres mundiais que "falam" sobre o aquecimento global "mas n�o agem".

Em abril de 2021 a morte de seu marido, Philip, deixou "um enorme vazio" em sua vida e ela mal parecia derramar uma l�grima, mas sua sa�de come�ou a se deteriorar muito rapidamente pouco depois.

Muito devota e econ�mica, apesar de sua enorme fortuna, ficou sozinha para enfrentar o decl�nio de seu reinado e enfrentar os esc�ndalos frequentes da fam�lia real.

Elizabeth Alexandra Mary - chamada de "Lilibeth" por sua fam�lia - era a terceira na linha de sucess�o ao trono depois do tio Edward, pr�ncipe de Gales, e de seu pai Albert, o duque de York.

A princesa se tornou herdeira da coroa quando seu tio abdicou como Edward VIII - para casar com a divorciada americana Wallis Simpson - e seu pai o sucedeu como rei George VI.

Ela foi criada por governantas e se mudou para o Pal�cio de Buckingham em 1937, quando seu pai foi coroado. No final fim da Segunda Guerra Mundial, aos 18 anos, se alistou nas For�as Armadas como motorista.

Na mensagem que divulgou � na��o quando completou 21 anos, ela declarou: "Minha vida inteira, seja longa ou curta, ser� consagrada ao vosso servi�o".

Em novembro daquele ano, 1947, se casou um primo em terceiro grau, o comandante naval Philip Mountbatten, que renunciou a seus t�tulos de pr�ncipe da Gr�cia e Dinamarca para casar com Elizabeth.

Seu primeiro filho, o pr�ncipe Charles, nasceu em 1948. Depois vieram a princesa Anne, em 1950, o pr�ncipe Andrew em 1960 e o pr�ncipe Edward em 1964.

Elizabeth estava no Qu�nia quando seu pai morreu em fevereiro de 1952. Estava hospedada no hotel Treetops, quando "dormiu como uma princesa e acordou como rainha".

Seu marido deu a not�cia e os dois retornaram imediatamente ao Reino Unido. Foi coroada em 2 de junho de 1953, sendo a monarca n�mero 40 desde o rei William I em 1066, na primeira cerim�nia de entroniza��o exibida pela televis�o.

Elizabeth II chegou a ser chefe de Estado de 32 reinos, um n�mero que caiu para os 16 atuais, incluindo o Reino Unido da Gr�-Bretanha e Irlanda do Norte.

- Do "annus horribilis" ao respeito recuperado -

Era uma figura imediatamente reconhecida, por seus chap�us, bolsas e vestidos coloridos. Mas sua vida privada foi um completo enigma.

Apreciava as corridas de cavalos e os c�es da ra�a corgi, que sempre teve como bichos de estima��o.

Em 1992, o "Annus Horribilis" em suas pr�prias palavras, acabaram os casamentos de tr�s de seus filhos, Charles, Anne e Andrew, e seu querido castelo de Windsor sofreu um inc�ndio.

Mas o pior aconteceu com a morte de Diana em 1997, que quase provocou o div�rcio entre a soberana e o povo brit�nico.

Sua falta de interesse por Diana, que n�o integrava mais oficialmente a fam�lia real, provocou um distanciamento dos brit�nicos, abalados com uma profunda dor, mas a rainha terminou por prestar homenagem � "princesa do povo".

Aos poucos, a monarquia se recuperou e o casamento, em abril de 2011, de seu neto William, segundo na linha de sucess�o, com Catherine, devolveu o lustre e o toque de glamour que muitos sentiam falta desde a morte de Diana.

William e Kate deram o primeiro bisneto � rainha, o pr�ncipe George, em 22 de julho de 2013. A princesa Charlotte nasceu em maio de 2015.

Mas logo os esc�ndalos voltaram.

Em 2019, Andrew, considerado seu filho favorito, envergonhou a fam�lia por sua amizade com o financista americano Jeffrey Epstein, acusado de explora��o sexual de menores. Uma delas, Virgina Giuffre, afirmou ter sido for�ada a fazer sexo com Andrew quando tinha 17 anos. Ele negou, mas foi for�ado a se retirar da vida p�blica.

Em 2022, diante da amea�a de um julgamento civil por agress�o sexual nos Estados Unidos, ele foi privado pela rainha de suas honras militares e deixou de usar o t�tulo de Alteza Real.

Em 2020, seu neto Harry deixou a monarquia e mudou-se para a Calif�rnia com Meghan Markle, com quem se casou em 2018, no que a imprensa chamou de "Megxit", em compara��o ao Brexit.

O casal acusou a fam�lia real de ser pouco solid�ria e racista, levando a rainha a ter de gerir uma nova crise institucional, pouco antes de outubro de 2021, aos 95 anos, quando sua sa�de come�ou a ficar debilitada.