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Estado de Minas PANDEMIA

Como a China ficou 'presa' � pol�tica de 'covid zero'

Enquanto o mundo aprende a conviver com o v�rus, Pequim insiste em elimin�-lo, o que alimenta o descontentamento social e tem altos custos econ�micos


01/12/2022 15:26 - atualizado 01/12/2022 16:27


Uma pessoa na China vestindo um traje de proteção individual
Na China, ainda � comum ver pessoas na rua vestidas com trajes de prote��o, cujo uso foi popularizado durante a pandemia (foto: Reuters)

A pol�tica de "covid zero" adotada pela China provocou algo verdadeiramente inusitado: uma s�rie de protestos em v�rias cidades importantes do pa�s contra os duros lockdowns impostos para conter a propaga��o do v�rus.

Milhares de pessoas sa�ram �s ruas para manifestar seu rep�dio a essas medidas, algumas chegando a criticar abertamente o governo do presidente, Xi Jinping, e o Partido Comunista da China — que, segundo analistas, enfrentam o maior desafio �s autoridades desde os protestos na Pra�a da Paz Celestial em 1989.

Mas como explicar essas manifesta��es contra uma estrat�gia que, a julgar pelas estat�sticas de mortes e infec��es por covid, parece ter dado certo?

Segundo dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), desde o in�cio da pandemia, foram registrados cerca de 9,6 milh�es de casos da doen�a na China — e aproximadamente 30 mil mortes associadas a ela.

S�o n�meros muito baixos quando comparados aos 97 milh�es de casos e um milh�o de mortes registrados no mesmo per�odo nos Estados Unidos, pa�s que tem um quarto da popula��o da China.

O problema � que a estrat�gia de Pequim s� conseguiu conter a doen�a gra�as � ado��o de medidas draconianas, como manter as fronteiras do pa�s basicamente fechadas, enquanto decreta internamente lockdowns dr�sticos, afetando cidades inteiras de milh�es de habitantes por semanas.

Isso prejudicou o desempenho econ�mico do pa�s. Organismos internacionais projetam um crescimento de 2,8% do PIB neste ano para a economia chinesa, bem abaixo dos 5,5% esperados pelo governo de Xi Jinping.

"A China se encurralou com a pol�tica de covid zero ao impor regras muito r�gidas �s pessoas e �s comunidades", diz Jack Chow, professor da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, e ex-vice-diretor geral da OMS, � BBC News Mundo, servi�o em espanhol da BBC.

Ele adverte que essa pol�tica enfrenta grandes press�es.

"Primeiro porque, apesar destas medidas draconianas, o n�mero de casos de covid continuou a aumentar", explica.

"Em segundo lugar, porque n�o est� s� restringindo o crescimento econ�mico chin�s, mas tamb�m interrompendo as cadeias de suprimento no mundo todo."

"E, em terceiro lugar, porque a agita��o social est� se espalhando por todo o pa�s � medida que as pessoas comuns come�am a se irritar com essas restri��es", acrescenta.

Apesar disso, Pequim n�o deu sinais de que pretende relaxar a pol�tica de covid zero — algo que neste momento tamb�m implicaria em riscos significativos para a China, conforme alertam especialistas.

Por qu�?

Uma estrat�gia inflex�vel

Durante a fase inicial da pandemia, quando n�o havia vacinas contra covid-19, outros pa�ses como Austr�lia, Nova Zel�ndia, Cingapura e Coreia do Sul, entre outros, adotaram abordagens semelhantes � pol�tica de covid zero da China.


Uma mulher na China sendo submetida a um teste de PCR
Os lockdowns e os testes de covid continuam a fazer parte da vida cotidiana dos cidad�os na China (foto: Reuters)

� medida que surgiam vacinas e outros tratamentos contra o coronav�rus, esses pa�ses foram suspendendo os lockdowns e abrindo as fronteiras, enquanto Pequim manteve a mesma pol�tica.

Assim, enquanto o resto do mundo aprendeu a conviver com o v�rus, Pequim insistiu em elimin�-lo por meio de lockdowns.

E, embora tenha conseguido evitar o cont�gio com bastante sucesso, como consequ�ncia disso sua popula��o ficou mais exposta � doen�a por n�o ter desenvolvido a imunidade natural obtida pelos infectados.

Essa pol�tica gerou o que Yanzhong Huang, principal pesquisador de sa�de global do Council on Foreign Relations, chamou de "lacuna imunol�gica".

� que depois de quase tr�s anos de pandemia, a maioria dos 1,4 bilh�o de cidad�os chineses n�o foi exposta ao v�rus.

"No resto do mundo, a popula��o adquire imunidade por duas vias: vacinas e infec��o natural, mas na China n�o houve infec��o natural", explicou Jin Dong-Yan, professor de virologia molecular da Escola de Ci�ncias Biom�dicas da Universidade de Hong Kong, � BBC News Mundo em fevereiro.

A segunda via, a das vacinas, tampouco favorece Pequim, que n�o autorizou o uso de vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna) desenvolvidas no Ocidente.

Na China, foram aprovadas para uso oito vacinas contra covid-19, mas nenhuma usa tecnologia de mRNA, de acordo com a plataforma Covid-19 Vaccine Tracker.

Entre as vacinas desenvolvidas no gigante asi�tico, j� existe uma, a Walvax, que � baseada em mRNA, mas seu uso � autorizado na Indon�sia — e n�o na China.


Uma vacina contra covid em frente a uma bandeira chinesa
China aprovou o uso de quase dez vacinas, mas nenhuma delas � de mRNA (foto: Reuters)

"A imunidade coletiva contra a covid-19 n�o pode ser alcan�ada sem uma vacina��o eficaz, e as vacinas inativadas da China provaram ser muito menos eficazes do que as vacinas de RNA mensageiro usadas na Europa e nos Estados Unidos", advertiu Yanzhong Huang em um artigo publicado na Foreign Affairs em janeiro.

'Cavalgar em um tigre'

Os perigos derivados da estrat�gia de Pequim de combate � covid tinham sido alertados pela consultoria Eurasia Group, que classificou a pol�tica de covid zero da China como a principal amea�a global para 2022, em seu relat�rio anual sobre os principais riscos geopol�ticos.

"A China se encontra na situa��o mais dif�cil devido a uma pol�tica de covid zero que parecia incrivelmente bem-sucedida em 2020, mas agora se trata de uma luta contra uma variante muito mais transmiss�vel, com lockdowns mais amplos e vacinas com efic�cia limitada."

"E a popula��o praticamente n�o tem anticorpos contra a �micron. Manter o pa�s fechado por dois anos tornou mais arriscado reabri-lo", observava o relat�rio.


Protesto em Xangai
Protestos tomaram as ruas de Xangai (foto: Getty Images)

Como a popula��o chinesa n�o possui imunidade natural, e com pouca imunidade adquirida derivada das vacinas, as autoridades enfrentam o risco de um surto de infec��es sair do controle e provocar o colapso do sistema de sa�de do pa�s.

"O colapso do sistema de sa�de seria, na verdade, um desastre maior do que a pr�pria covid, como foi visto em Wuhan. Muitas das mortes foram causadas por esse colapso, mais do que pela doen�a", explicou Jin Dong-Yan � BBC News Mundo.

Um problema adicional � que n�o est� claro o n�vel de prepara do sistema de sa�de chin�s est� para lidar com um aumento acentuado de casos de covid.

Em declara��o ao jornal americano The Washington Post, Yanzhong Huang alertou que Pequim deveria ter iniciado esfor�os para ter mais leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e uma vacina��o melhor h� dois anos e meio, mas ao focar exclusivamente em conter infec��es, acabou destinando menos recursos a esses objetivos.

Diante desse cen�rio, Jack Chow acredita que, numa an�lise prospectiva, a China tem op��es dif�ceis pela frente.

"Um caminho seria continuar a estrat�gia de lockdown na esperan�a de achatar a curva da covid-19, mas isso continuaria a alimentar tens�es na sociedade e na economia."

"O outro caminho seria come�ar a flexibilizar essas medidas, em resposta aos problemas sociais, mas correndo o risco de uma acelera��o das infec��es", afirma.

N�o se trata, no entanto, de um risco menor.

Estimativas divulgadas nesta semana pela consultoria de sa�de Airfinity indicam que se Pequim suspender agora a pol�tica de covid zero, a vida de 1,3 a 2,1 milh�es de pessoas estaria em risco.

Por isso, Chow acredita que a China poderia optar por redobrar seus esfor�os preventivos, mas incorporando vacinas de mRNA.

"Eles t�m muita experi�ncia com o uso de m�scaras e distanciamento social, mas n�o diversificaram suas op��es de vacinas para incluir as principais vacinas criadas no Ocidente", observa.

Essa decis�o poderia reduzir os riscos de que ao relaxar as medidas de lockdown haja um aumento de infec��es que acabe sobrecarregando o sistema de sa�de chin�s.


Manifestação em Pequim contra as medidas da política de covid zero
Manifesta��o em Pequim contra as medidas da pol�tica de covid zero (foto: Getty Images)

Chow sugere, no entanto, que pode haver outras quest�es em jogo que dificultariam o uso de vacinas ocidentais, mesmo que tenham sido atualizadas para fazer frente �s variantes mais recentes.

"A quest�o � se a sele��o de vacinas � baseada em press�es pol�ticas. Ser� que eles veem o uso de vacinas ocidentais como um sinal de fracasso ou perda de prest�gio?"

"Eu diria que a estrat�gia mais eficaz para enfrentar a pandemia � usar os meios mais eficazes, independentemente da proced�ncia. Por isso, � muito prov�vel que haja quest�es pol�ticas em jogo, e isso faz com que a pol�tica da China a seguir seja mais complexa do que os estrategistas em sa�de p�blica recomendariam", afirma.

Al�m destas quest�es, � importante lembrar que o presidente Xi Jinping e o Partido Comunista Chin�s t�m defendido a pol�tica de covid zero, o que segundo analistas j� dificulta uma mudan�a de rumo.

Assim, o pa�s se encontra entre os riscos de um colapso do sistema de sa�de devido a uma onda de infec��es descontroladas e o pre�o pol�tico que uma mudan�a de rumo poderia significar — incluindo a possibilidade de permitir o uso de vacinas ocidentais no pa�s.

Neste contexto, a situa��o enfrentada por Pequim com sua pol�tica de covid zero parece lembrar o que acontece com quem "cavalga um tigre", segundo os antigos prov�rbios chineses: uma vez que voc� monta, n�o se atreve mais a descer.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63819358


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