
A Venezuela ser� um dos pa�ses com maior crescimento econ�mico em 2022 na Am�rica Latina, e a expectativa � que registre uma das principais expans�es do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e servi�os) tamb�m em 2023, segundo a Comiss�o Econ�mica para Am�rica Latina e Caribe (Cepal).
Segundo a organiza��o ligada �s Na��es Unidas, a economia venezuelana crescer� 12% neste ano e 5% no ano que vem. Para efeitos de compara��o, a economia brasileira dever� crescer 2,6% neste ano e 1% em 2023, informou a Cepal. A Argentina, por sua vez, tem previs�o de crescimento de 3,9% neste ano e de 1% no pr�ximo ano.
A economia venezuelana perde a lideran�a neste ranking apenas para a da Guiana, que tamb�m fica na Am�rica do Sul, e que em 2022 ter� um salto de 52% e em 2023 outro pulo de 30%. Nos dois casos, da Venezuela e da Guiana, o petr�leo � o principal respons�vel pelos resultados, segundo analistas — a Guiana descobriu imensas reservas dessa mat�ria-prima recentemente.
Pa�ses vizinhos entre si e que fazem fronteira com o Brasil, a Venezuela possui uma das maiores reservas de petr�leo do mundo e tradi��o neste ramo. Na Guiana, por sua vez, a hist�ria da perfura��o de petr�leo � recente e tem contribu�do para o forte incremento de seu PIB h� dois anos. Outra diferen�a � o tamanho da popula��o dos dois pa�ses — a da Venezuela � de cerca de 28,5 milh�es de habitantes e a da Guiana n�o chega a 1 milh�o de habitantes (aproximadamente 800 mil habitantes).
Em entrevista � BBC News Brasil, o economista Ram�n Pineda, da Divis�o de Desenvolvimento Econ�mico da Cepal, com sede em Santiago, no Chile, disse que essa "� a primeira vez" que a economia venezuelana cresce desde 2013-2014.
"E � um crescimento de 12%. Em 2023, tamb�m estamos antecipando que vai ocorrer um crescimento da atividade econ�mica de 5% e com recupera��o da produ��o petrol�fera", diz Pineda.
Segundo ele, apesar da previs�o de queda nos pre�os do petr�leo, a expans�o do ano que vem seria fact�vel diante "da retirada ou suaviza��o de algumas san��es (san��es econ�micas)" contra a Venezuela e da maior atividade no setor de petr�leo.
"Esse incremento permitiria compensar a queda nos pre�os do petr�leo em 2023", disse.

Combust�veis
Neste ano, os pilares da expans�o de 12% da economia venezuelana s�o o incremento de cerca de 20% na produ��o petrol�fera em 2022 na compara��o com 2021 e os pre�os do produto.
"O aumento nos pre�os do petr�leo gera uma forte quantidade de recursos tanto para a gest�o do fisco como para financiar as importa��es venezuelanas. Importa��es no que se refere a insumos e tamb�m a bens finais. Isto contribuiu para diminuir as car�ncias de combust�veis e de insumos que permitiram que a agroind�stria e a ind�stria farmac�utica tamb�m tenham se fortalecido durante 2022", diz o economista da Cepal.
Com mais dinheiro, o Banco Central da Venezuela (BCV) e o governo do presidente Nicol�s Maduro t�m mais recursos para as importa��es necess�rias para fazer a economia — e o cotidiano dos venezuelanos — funcionar.
"Por exemplo, no caso dos combust�veis, e especialmente da gasolina, tamb�m podem ser realizadas importa��es com os recursos provenientes da atividade petrol�fera", disse Pineda.
Chevron
Na semana passada, o governo dos Estados Unidos autorizou a empresa Chevron a retomar, ap�s tr�s anos, as opera��es de produ��o e exporta��o de petr�leo venezuelano.
O acordo seria de seis meses, com possibilidade de renova��o, e envolveria a estatal venezuelana PDVSA, segundo especialistas que analisaram a negocia��o.
O an�ncio do entendimento e do al�vio das san��es americanas foi feito ap�s a retomada do di�logo entre o governo Maduro e a oposi��o venezuelana, durante o qual os dois lados concordaram em criar um fundo, que seria gerido pelas Na��es Unidas, para financiar programas de alimenta��o, sa�de e educa��o na Venezuela.
Outro fato que favorece o "menor isolamento" da Venezuela � a retomada do di�logo do governo Maduro com a Col�mbia, ap�s a posse de Gustavo Petro, em agosto passado em Bogot�.
Mas, apesar destes entendimentos e do crescimento econ�mico deste ano, os indicadores sociais e o cotidiano dos venezuelanos seguem sendo um desafio.

'N�o est� bem'
O analista pol�tico e econ�mico venezuelano Luis Vicente Le�n, da consultoria Datan�lisis, assinala que os venezuelanos percebem a melhoria econ�mica no pa�s quando comparam a situa��o atual com "o pior quadro mais recente" — a 'hipercrise' de 2018, quando havia amplo desabastecimento e longas filas.
"Mas ainda hoje muita gente est� vivendo com falta de energia, de �gua e de capacidade de consumir", analisa L�on. E acrescenta: "Agora, o pa�s n�o est� bem porque perdemos 75% do PIB em sete anos e estamos longe da recupera��o", diz.
De acordo com levantamento de sua consultoria, "somente 40% da popula��o entendem que o pa�s est� bem ou muito bem".
Em entrevista a uma r�dio local, o economista Asdrubal Oliveros, da consultoria Ecoanal�tica, de Caracas, disse que o crescimento econ�mico existe e � impulsionado, principalmente, pelo setor privado.
Ele, por�m, ressalvou: "Est�vamos no n�vel 12 abaixo de zero e agora estamos no 8. O crescimento econ�mico � real, mas ainda n�o � percebido pela maioria dos venezuelanos".
Apag�es
Na Venezuela, a falta de energia el�trica e de combust�veis est� entre os principais desafios enfrentados pela popula��o do pa�s, segundo economistas locais.
A Associa��o Venezuelana de Energia El�trica, Mec�nica e Profissionais Afins (AVIEM) observou que nos �ltimos 20 anos, a "Venezuela era um pa�s totalmente eletrificado (97% de cobertura) e tinha um sistema robusto que era exemplo na Am�rica Latina. Agora, vive �s voltas com um sistema el�trico em colapso operacional, deteriorado, dif�cil de ser recuperado", segundo informa��o recente da emissora alem� DW.
O economista venezuelano Daniel Cardenas, professor de macroeconomia da Universidade Central da Venezuela (UCV) e da Universidade Metropolitana de Caracas, diz � BBC News Brasil que a produ��o de petr�leo entre 2021 e 2022, passou de 300 mil barris di�rios para cerca de 700 mil barris por dia.
No entanto, esse n�mero n�o � nada compar�vel � produ��o nos anos 1990, quando o pa�s chegou a produzir mais de 3 milh�es de barris di�rios.
Cardenas acredita que o desempenho da economia venezuelana poderia continuar melhorando, a partir do maior al�vio nas san��es econ�micas contra o pa�s.
Mas, em sua vis�o, os "determinantes" do crescimento venezuelano ainda s�o "muito fr�geis". Ele cita a m�dia salarial dos venezuelanos que estaria entre US$ 120 e US$ 130 (R$ 630 e R$ 680).
"N�o estamos falando de sal�rio m�nimo. Estamos falando de m�dia salarial. E o sal�rio m�nimo aqui � em bol�vares (a moeda nacional), e est� em torno dos US$ 12 e muito longe dos cerca de US$ 300 a US$ 400 pagos em outros pa�ses da Am�rica Latina. Mas as empresas n�o pagam esses US$ 12 porque ningu�m aceitaria trabalhar", disse.
Cardenas opina que o consumo nas casas dos venezuelanos ainda � muito baixo, apesar da "modesta recupera��o" recente.
"Com a infla��o ainda alta � dif�cil que o consumo suba", afirmou.
Cardenas calcula suas estimativas sobre a economia do pa�s a partir de indicadores como o da arrecada��o fiscal, a produ��o industrial e do setor comercial, j� que outros dados oficiais n�o s�o divulgados periodicamente, ressalva.
Para ele, a economia venezuelana dever� crescer cerca de 9% neste ano de 2022 — longe dos 12% previstos pela Cepal.
"As taxas s�o altas e inesperadas, mas o crescimento surge depois da pandemia e das quarentenas", diz.
As estimativas do Banco Central da Venezuela (BCV) foram as mais otimistas at� o momento. O BCV informou que a economia do pa�s registraria expans�o de 18% neste ano, sendo o maior da regi�o.
Infla��o
No in�cio de 2022, a Venezuela deixou, oficialmente, o per�odo de hiperinfla��o que marcou seus quatro anos seguidos, a partir de 2017 e chegando a superar quatro d�gitos anuais.
Nesta semana, por�m, o Observat�rio Venezuelano de Finan�as (OVF) informou que a alta de pre�os de novembro foi de 21,9% e que o acumulado neste ano chega a quase 200% (195,7%).
A expectativa era que o pa�s pudesse manter a infla��o de um d�gito mensal que chegou a ser registrada no in�cio de 2022.
Medida em d�lares, a alta de pre�os neste ano chega a 50%, segundo escreveu o economista Asdrubal Oliveros em suas redes sociais.
Os desafios venezuelanos ainda s�o "enormes", conclui Luis Vicente Le�n.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63873293