De Pel�, conhecemos o talento infinito e o amor inesgot�vel ao jogo. Mas tamb�m a emotividade, ao ser tra�do pelas l�grimas quando ainda era um jovem de 17 anos, idade em que conquistou sua primeira Copa do Mundo em 1958, na Su�cia.
Por outro lado, sabemos menos da tenacidade, da vontade inabal�vel, da repulsa pelo fracasso. E o mais amargo deles data de 1966, quando seu sonho de alcan�ar um tri hist�rico desapareceu sob os golpes dos carrascos b�lgaro e portugu�s, Zhechev e Morais, com uma elimina��o na primeira fase.
Marcado pelas les�es e pelo sonho despeda�ado, Pel� jurou que n�o voltaria a disputar uma Copa do Mundo. Por dois anos, n�o vestiu sequer uma vez a camisa amarela da Sele��o.
Mas em 1968 amadurecia ao seu redor uma nova gera��o talentosa. E ele compreendeu que com Jairzinho, Tost�o, Rivelino e Carlos Alberto teria a chance de gravar seu nome no trof�u uma �ltima vez.
A convic��o se concretizou quando seu colega Zagallo, campe�o mundial com ele em 1958 e 1962, concordou em assumir as r�deas da Sele��o.
- Feito in�dito -
Aos 29 anos, em forma e determinado como nunca antes, Pel� escreve a p�gina mais bonita de sua hist�ria e faz seu acerto de contas.
O tom foi dado logo no in�cio do torneio, com um gol marcado contra a Tchecoslov�quia (4-1). Mas foi sobretudo seu chute do meio de campo sobre o goleiro Viktor, que foi para fora, que ganhou destaque em todo o mundo, tendo sido a primeira tentativa do tipo. O lance entrou para hist�ria como "o gol que Pel� n�o fez".
Este lance de g�nio chamou outros, mesmo que para fazer brilhar o advers�rio. Neste caso Gordon Banks, goleiro ingl�s que realizou na partida seguinte "a defesa do s�culo", parando uma poderosa cabe�ada. E o "Rei" voltou a brincar: "Eu marquei um gol, mas Banks o impediu".
Sem frustra��es para Pel� at� ent�o. Jairzinho foi respons�vel por enganar Banks pela �nica vez durante a Copa do Mundo e mostrou � Inglaterra, detentora do t�tulo, que a melhor sele��o era realmente a brasileira (1-0).
Depois de dois gols contra a Rom�nia (3-2), que poderiam ter sido tr�s se o �rbitro n�o tivesse anulado um gol, e a disputa nas quartas de final contra o Peru (4-2), Pel� viu o Uruguai passar em seu caminho. E com ele o fantasma do terr�vel "Maracanazo", de 1950.
- Passe na medida e toque final -
Vinte anos ap�s a cruel derrota para a 'Celeste', era a hora do her�i da na��o secar as l�grimas de um pa�s inteiro e de seu pai, a quem viu chorar naquele dia.
A revanche foi brilhante (3-1) e Pel� quase deixou sua marca com um gol espetacular. O camisa 10 recebeu um passe em diagonal, mas n�o dominou a bola diante do goleiro, aplicando um 'drible da vaca' sem tocar na pelota, completando com um chute cruzado que n�o entrou por muito pouco.
Nesta partida, novamente, n�o houve decep��o. Pel� sabia que seu momento estava chegando. E a sua genialidade foi recompensada no dia D, na final contra a It�lia, ao abrir o marcador com um gola�o de cabe�a.
O gol n�o poderia simbolizar melhor o estado de gra�a de um jogador no �pice de sua arte.
Este terceiro t�tulo, mais do que os dois primeiros, foi acima de tudo seu. Mas foi com um gesto altru�sta que Pel� deu o toque final � sua obra-prima, com um passe perfeito e decisivo para o gol do 4-1 de seu capit�o Carlos Alberto Torres.
Carregado nos bra�os pelos seus companheiros mais jovens ao final da partida, como havia acontecido 12 anos antes pelos jogadores mais velhos, Pel� n�o chorou desta vez.
Os olhos ainda brilhavam, mas a alegria se mostrava especialmente �bvia no sorriso. O "Rei" acabava de realizar sua obra-prima para a posteridade.
PARIS