
Papa Francisco defendeu a descriminaliza��o da homossexualidade e disse que a Igreja Cat�lica deve agir para acabar com "leis injustas" que afirmam o contr�rio. Em entrevista � Associated Press publicada nesta quarta-feira (25), por�m, o pont�fice refor�ou a posi��o doutrin�ria que trata a homossexualidade como pecado.
"Ser homossexual n�o � crime", disse o papa argentino. "N�o � crime. Sim, mas � um pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime. Tamb�m � pecado n�o ter caridade com o pr�ximo."
Oito anos depois, o mesmo Francisco deu sinal verde para o Vaticano divulgar a diretriz para que cl�rigos n�o deem sua b�n��o a uni�es entre pessoas do mesmo sexo. "Deus n�o pode aben�oar o pecado", diz o documento da Congrega��o para a Doutrina da F�, �rg�o respons�vel por formular normas para os fi�is da maior vertente crist� do mundo.
Na entrevista, Francisco reconheceu que lideran�as cat�licas em algumas partes do mundo ainda apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQIA+. "Esses bispos precisam ter um processo de convers�o", afirmou, acrescentando que tais lideran�as devem agir com ternura - "por favor, como Deus tem por cada um de n�s".
De acordo com o Human Dignity Trust, organiza��o sediada em Londres que mapeia direitos e desafios dos LGBT pelo mundo, ao menos 67 pa�ses e territ�rios criminalizam a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo. Em 11 desses pa�ses, homossexuais podem ser punidos com a morte.
O papa descreveu essas legisla��es como "injustas" e disse que a Igreja Cat�lica pode e deve trabalhar para acabar com elas. "Somos todos filhos de Deus, e Deus nos ama como somos e pela for�a com que cada um de n�s luta pela nossa dignidade.
O Catecismo da Igreja Cat�lica se refere � homossexualidade como "atos de grave deprava��o" e os descreve como "intrinsecamente desordenados". Diz o texto doutrin�rio: "Eles s�o contr�rios � lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. N�o procedem de uma genu�na complementaridade afetiva e sexual. Em hip�tese alguma podem ser aprovados."
A igreja defende, por�m, que homossexuais "devem ser aceitos com respeito, compaix�o e sensibilidade" e afirma que "todo sinal de discrimina��o injusta em rela��o a eles deve ser evitado". Ponderando que a "g�nese psicol�gica" da homossexualidade � inexplicada, a norma cat�lica preconiza a castidade para pessoas LGBTQIA+.
"Essas pessoas s�o chamadas a cumprir a vontade de Deus em suas vidas e, se forem crist�s, a unir ao sacrif�cio da Cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar em sua condi��o", diz o Catecismo. Como l�der da Igreja Cat�lica h� dez anos, Francisco n�o mudou as diretrizes doutrin�rias nesse sentido. Alguns de seus discursos, por�m, s�o vistos como, se n�o mais progressistas, ao menos mais acolhedores � comunidade LGBT.
"Pessoas homossexuais t�m o direito de estar em uma fam�lia. Elas s�o filhas de Deus e t�m direito a uma fam�lia. Ningu�m deveria ser descartado [dela] ou ser transformado em miser�vel por conta disso", diz o papa no document�rio "Francesco", lan�ado em 2020.
No filme, a fala do pont�fice vem logo ap�s ele ler uma carta de um homem gay que adotou tr�s crian�as com seu parceiro. Nela, o homem explica que gostaria de ir com o companheiro e os filhos �s missas em sua par�quia, mas temia que as crian�as fossem hostilizadas. Segundo o Vaticano, a fala do papa foi tirada de contexto e constru�da a partir de suas respostas a duas perguntas diferentes.
Em janeiro de 2022, Francisco fez um apelo para que pais n�o condenem seus filhos devido � orienta��o sexual. Ele falava sobre a dificuldade que os pais podem enfrentar na cria��o de filhos quando elencou a import�ncia de "n�o se esconder atr�s de uma atitude de condena��o" diante de filhos LGBTQIA+. Na ocasi�o, tamb�m defendeu que a igreja pode e deve apoiar leis de uni�o civil destinadas a dar a casais homoafetivos direitos igualit�rios em �reas como acesso a sa�de e compartilhamento de bens.
Um dos principais opositores � uni�o homoafetiva na Igreja Cat�lica era Bento 16, antecessor de Francisco morto em dezembro. Em biografia autorizada publicada em maio de 2020, ele comparou a pr�tica ao "anticristo". "H� um s�culo seria considerado absurdo falar sobre casamento homossexual. Hoje, quem se op�e a ele � excomungado da sociedade", afirmou. "A sociedade moderna est� formulando um credo ao anticristo que sup�e a excomunh�o da sociedade quando algu�m se op�e".
