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Estado de Minas VATICANO

Bento XVI ficar� marcado pela ren�ncia ao papado

Como papa, Bento XVI quis marcar sua presen�a pelo combate � relativiza��o dos valores religiosos ou morais


31/12/2022 08:00 - atualizado 31/12/2022 08:04

Bento XVI
Como papa, a plataforma de Joseph Ratzinger tornou-se mais abstrata para a grande massa de cat�licos (foto: Facebook/Reproducao da Internet)
O papa em�rito Bento XVI  morreu neste s�bado (31), aos 95 anos. O alem�o ficar� marcado pela decis�o surpreendente, em 11 de fevereiro de 2013, de renunciar ao papado. Desde Greg�rio 12, em 1415, um pont�fice n�o deixava por conta pr�pria a chefia da Igreja Cat�lica.

 

Jornais italianos disseram, � �poca, que ele estava enojado com esc�ndalos sexuais e financeiros na alta hierarquia do Vaticano. Mas a vers�o acabou n�o se confirmando, o que favoreceu a tese de que ele, enfermo, e tr�s enc�clicas depois, estava debilitado pela rotina de quase oito anos de pontificado.

J� sob o t�tulo de papa em�rito, ap�s a ren�ncia, Bento XVI passou a ocupar depend�ncias modestas de um mosteiro nos terrenos do Vaticano, de onde saiu poucas vezes, como, a convite do papa Francisco, seu sucessor, para a missa de canoniza��o de Jo�o Paulo 2º (1920-2005), a quem ele sucedera em 2005.

Leia tamb�m: Papa em�rito Bento XVI morre aos 95 anos.

Dif�cil saber at� que ponto Joseph Ratzinger, seu nome original, trabalhou para enfraquecer Francisco, bem mais aberto em quest�es como div�rcio ou relacionamento da igreja com pessoas LGBTQIA+.

Mas um dos consensos biogr�ficos atribui a Ratzinger erudi��o e preparo teol�gico excepcionais. Como papa, quis marcar sua presen�a pelo combate � relativiza��o dos valores religiosos ou morais.

� prov�vel, no entanto, que passe para a hist�ria da Igreja Cat�lica pela gest�o marcada por den�ncias de pedofilia na institui��o, uma bomba de efeito retardado que recebeu dos pontificados anteriores.

Pouco carism�tico e reservado

Reservado e pouco carism�tico, Ratzinger, ao sair com a mitra papal do conclave de abril de 2005, sucedeu Jo�o Paulo 2º, homem que, em mais de 26 anos de pontificado e viagens a 129 pa�ses e regi�es aut�nomas, virou uma estrela pop do catolicismo. Bento XVI visivelmente perdia nessa compara��o.

Karol Wojtyla, nome original de Jo�o Paulo 2º, polon�s discriminado pelo comunismo, dedicou parte de suas energias a minar a legitimidade dos regimes pol�ticos na esfera sovi�tica. E, no embalo, neutralizou o crescimento do pensamento de esquerda dentro da igreja. Para essa tarefa, teve como bra�o direito o cardeal Ratzinger, seu prefeito da Congrega��o da Doutrina da F� (ex-Inquisi��o).

Leia tamb�m:  Preparar o funeral de um ex-Papa, uma novidade para o Vaticano .

Com o advers�rio interno neutralizado - bispos progressistas n�o se tornaram cardeais, como o brasileiro Helder C�mara -, o jogo pol�tico, por assim dizer, automaticamente perdeu import�ncia.

A plataforma de Ratzinger, j� como papa, tornou-se mais abstrata para a grande massa de cat�licos.

Bento XVI procurou se contrapor � seculariza��o e � perda do conte�do espiritual no s�culo 21. Ou, de modo mais radical, disse valorizar a ora��o � milit�ncia, o que os vaticanistas apontaram como ideia bastante conservadora, a exemplo, ali�s, das que prevaleceram nas �ltimas d�cadas na alta hierarquia da igreja. O �ltimo que escapou delas foi Jo�o 23, o papa do Conc�lio Vaticano 2º, que morreu em 1963.

Dentro da mais absoluta ortodoxia, Bento XVI n�o fez concess�es aos preservativos como instrumento de combate � Aids. A eles contrapunha a abstin�ncia, a fidelidade conjugal e a��es contra a pobreza. 

Proibi��o de ordena��o de mulheres e cr�tica aos homossexuais

N�o abriu m�o da proibi��o de ordena��o de mulheres - um t�pico j� meio envelhecido entre as feministas cat�licas - e criticou os homossexuais. Mesmo se opondo ao preconceito homof�bico, afirmou em 2008 que a relativiza��o da diferen�a entre homens e mulheres era uma "viola��o da ordem natural" e que a igreja deveria "proteger a humanidade de sua autodestrui��o".

Desejo de agilizar puni��o aos padres faltosos

Mas as acusa��es de pedofilia contra religiosos eclipsaram esses outros aspectos. Os primeiros sintomas de um grande problema cresceram em 1991, quando Ratzinger sugeriu a Jo�o Paulo que tirasse das dioceses e centralizasse no Vaticano as apura��es, na al�ada da Congrega��o da Doutrina da F�.

Ele queria agilizar a puni��o de padres faltosos. Um deles, o mexicano Marcial Degollado, fundador da conservadora Legi�o de Cristo, teve seus privil�gios suspensos s� em 2010. No �ltimo ano do pontificado de Jo�o Paulo 2º, um relat�rio da confer�ncia episcopal americana citava mais de 10 mil den�ncias contra 4.300 padres, que em 81% dos casos vitimaram adolescentes do sexo masculino.

 

J� sob Bento XVI, esc�ndalos eclodiam nos EUA, no Canad�, na Irlanda, na B�lgica e na Alemanha, gerando a��es criminais em tribunais civis e processos de indeniza��o. Nenhum vaticanista acusaria Ratzinger de omiss�o. O que eles insinuam, por�m, � que o papa em�rito, quando cardeal, tinha outras prioridades, sobretudo o enquadramento de te�logos e padres seduzidos pela teologia da liberta��o.

Bento XVI tamb�m acreditava n�o precisar se pautar pela m�dia. Com os casos de pedofilia nas manchetes dos jornais, suas respostas foram sempre morosas e esparsas, levando a uma impress�o de inatividade.

A origem 

Nascido em 1927 na cidadezinha b�vara de Marktl, Ratzinger era filho de um policial bastante cat�lico. Aos 14 anos foi inscrito na Juventude de Hitler, conforme determinava uma lei de 1939.

Seus bi�grafos mencionam sua rea��o de horror quando um primo dele, com s�ndrome de Down, foi preso e morto, em nome da "purifica��o da ra�a". Recrutado para os grupos de defesa antia�rea, chegou a ser prisioneiro de guerra, antes de voltar ao semin�rio e concluir sua forma��o. Foi ordenado padre em junho de 1951.

Permaneceu apenas alguns meses como titular de uma par�quia. Estimulado por uma igreja que valorizava quadros intelectualizados, exerceu sua voca��o para a vida acad�mica.

Lecionou teologia nas universidades de Bonn, T�bingen --na qual se aproximou do te�logo de esquerda Hans K�ng, de quem se afastou no final dos anos 1960-- e Regensburgo. Em 1977, j� como bispo, foi nomeado por Paulo 6º arcebispo de Munique e, no mesmo ano, cardeal. Ao se tornar o 256º papa, aos 78 anos, j� era o mais antigo cardeal da C�ria Romana, com 24 anos como auxiliar direto de seu predecessor.

 


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