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Estado de Minas RIO DE JANEIRO

Brasileiro f� de Proust � maior colecionador particular de manuscritos do mundo


06/03/2023 09:12

"Eu deveria estar em uma camisa de for�a!" O brasileiro Pedro Corr�a do Lago dedicou sua vida a reunir a maior cole��o particular do mundo de cartas autografadas e manuscritos, incluindo uma parte inestim�vel relacionada a Marcel Proust, escritor que ele venera.

"Voc� est� diante de um senhor louco, em uma casa um pouco estranha, em meio a uma bagun�a alucinante. Este � o resultado de uma paix�o de mais de 50 anos", explica o historiador ao receber a AFP na resid�ncia onde acaba de se instalar, no bairro carioca da G�vea.

Arquivos corta-fogo, desumidificadores, pilhas de livros no ch�o. A resid�ncia bem iluminada do come�o dos anos 1950 abriga, em tr�s andares, uma biblioteca imponente de 11 metros de altura, acess�vel por uma escadaria interna.

"Vou completar 65 anos e desde os 12, 13 anos de idade, reuni a maior cole��o de aut�grafos do mundo", diz o brasileiro. Trata-se de assinaturas, mas principalmente de cartas, manuscritos, fotos, desenhos.

"A ambi��o desmedida" desta cole��o com mais de 100.000 pe�as atualmente � "refletir a cultura ocidental dos �ltimos cinco s�culos".

"Minha esposa chama os vendedores de manuscritos de meus traficantes", diz ele, ao descrever a obsess�o de toda uma vida como "um v�rus, uma doen�a", mas que "lhe trouxe muitas alegrias", apesar de alguma ansiedade financeira.

Filho de diplomata, que recebeu "uma educa��o privilegiada", Corr�a do Lago representou durante 26 anos a casa de leil�es Sotheby's em S�o Paulo, dirigiu a Biblioteca Nacional, no Rio, e foi curador de diversas exposi��es sobre o Brasil.

Ele fundou com sua esposa, Bia, filha do escritor Rubem Fonseca, morto em 2020, a editora de livros de arte Capivara e � autor de cerca de 20 obras.

- 'Fetichismo' por Proust -

O in�cio da consagra��o veio em 2018, com uma exposi��o na Morgan Library, em Nova York, de 140 documentos, "uma pequena amostra" de sua imensa cole��o. "Foi a primeira vez que expuseram uma cole��o privada de manuscritos", orgulha-se Corr�a do Lago.

Mais de 80.000 visitantes puderam contemplar um desenho de Michelangelo, uma carta de Flaubert a Victor Hugo, outra de Mozart a seu pai, manuscritos de Einstein, de Newton e Darwin, a capa das cantatas de Bach, um pergaminho de 1153.

E um incipit (primeiros trechos de um manuscrito) provis�rio de "Em busca do tempo perdido", antes do famos�ssimo "Longtemps, je me suis couch� de bonne heure" (Por muito tempo, me deitei cedo, em tradu��o livre), de Proust.

Embora tenha reunido uma cole��o impressionante de originais sobre Flaubert, Baudelaire, Hugo e Toulouse-Lautrec, al�m do interesse por Napole�o, Van Gogh ou Picasso, Corr�a do Lago juntou uma cole��o excepcional sobre Proust.

"Proust � objeto de um fetichismo absoluto, n�o escapo disso", admite este homem alto e barbudo, que fala um franc�s fluente e rel� "o tempo todo" trechos de "Em busca do tempo perdido".

Foi h� 20 anos que ele comprou, em Nova York, sua primeira carta de Proust, por 200 d�lares, em uma loja pequena. Ent�o, tinha 500 d�lares para passar o m�s. "Uma carta de uma import�ncia extraordin�ria, escrita para a Grasset" pelo escritor em busca de editora.

H� dez anos, o carioca comprou fotos de uma sobrinha-neta de Proust, entre as quais os �nicos registros originais de seu apartamento em Paris, em um pequeno lote, de algumas centenas de euros.

Ele conseguiu comprar 90 cartas da gigantesca correspond�ncia do escritor, 80% da qual se perdeu. "Fico muito emocionado em ter nas m�os (...) o papel que ele mesmo tocou", explica.

- 'O pre�o de um carro grande' -

No ano passado, por ocasi�o do cent�simo anivers�rio da morte de Proust, ele emprestou alguns itens � Biblioteca Nacional da Fran�a (BnF) e, antes, ao Museu Carnavalet, ambos em Paris.

Mas, principalmente, Corr�a do Lago "fez muitos amigos entre os Proustianos", ao publicar, em outubro, "Marcel Proust, uma vida entre cartas e imagens", com 450 documentos de sua cole��o, a maioria in�ditos.

"Um simples brasileiro desconhecido no batalh�o (...), que escreveu um livro sobre Proust, eu sentia um certo temor de qualquer modo!", comenta.

Em sua busca constante por originais e "conte�do interessante", o colecionador viajou. "Fui a leil�es de tr�s a quatro vezes por ano na Europa e nos Estados Unidos (...) Sempre tinha o que fazer onde quer que estivesse no mundo".

Sua maior loucura financeira? O manuscrito da "La biblioteca de Babel", de Borges, "pago em quatro anos, ao pre�o de um carro grande".

"Eu n�o tenho fortuna pessoal. Tudo o que ganhei na minha vida, investi na minha cole��o", diz o intelectual.

"Talvez pudesse ter gasto (mais) com minha fam�lia, mas eles nunca se queixaram", conclui, com uma risada.


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