"� a primeira vez que estou em um avi�o. Eu gostaria de viajar para a Dinamarca em circunst�ncias normais, de f�rias por exemplo, e n�o para um hospital por causa de um traumatismo", afirma Mykola Fedirko.
Ele utiliza uma pulseira de silicone com a palavra "Ucr�nia". Na perna esquerda, ele tem pinos de metal inseridos diretamente na t�bia para estabilizar a fratura que sofreu ao defender seu pa�s.
O jovem de 22 anos foi atingido pior um proj�til quando resistia em uma trincheira ao avan�o das tropas russas na regi�o de Donetsk.
Acompanhado pela namorada Kolya, ele � um dos 2.000 pacientes retirados da Ucr�nia e levados para outros pa�ses da Europa desde o in�cio do conflito. Em sua maioria s�o soldados feridos na guerra, mas tamb�m h� civis que precisam de tratamento.
A AFP � o primeiro meio de comunica��o internacional com autoriza��o para embarcar em um dos voos de retirada m�dica organizados pela Noruega, em colabora��o com a Uni�o Europeia (UE).
"N�s estabelecemos este projeto a pedido da Ucr�nia (...) para aliviar a carga dos hospitais ucranianos", explica Juan Escalante, diretor do Centro de Coordena��o de Resposta a Emerg�ncias (ERCC) da UE.
Um mecanismo "sem precedentes em escala continental", estabelecido em "tempo recorde", destaca.
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) informou que 859 instala��es de sa�de da Ucr�nia foram afetadas por ataques desde o in�cio da invas�o russa em 24 de fevereiro de 2022.
Os bombardeios que atingiram hospitais, maternidades e dep�sitos de medicamentos deixam quase meio milh�o de pessoas sem o atendimento de sa�de necess�rio a cada m�s, segundo as autoridades norueguesas.
- Pacientes, armas e muni��es -
O avi�o transformado em hospital segue primeiro para o sudeste da Pol�nia, em Rzeszow, a 70 quil�metros da fronteira com a Ucr�nia.
Desta cidade a aeronave far� uma viagem de volta a Oslo de dois dias, com escalas em Amsterd�, Copenhague, Berlim e Colonia para o desembarque de pacientes.
No aeroporto de Rzeszow, a import�ncia estrat�gica da cidade � evidente. Dos dois lados da pista, dezenas de m�sseis antia�reos est�o posicionados para neutralizar eventuais amea�as.
A partir desta localidade polonesa os pacientes ucranianos s�o distribu�dos pelo restante da Europa. Ao mesmo tempo, o aeroporto tamb�m recebe as armas e muni��es enviadas pelos aliados ocidentais de Kiev.
Em um cruzamento de miss�es, os soldados feridos na guerra s�o retirados de maca do Boeing adaptado, enquanto grandes avi�es de carga a poucos metros de dist�ncia descarregam muni��es.
No voo m�dico, a tripula��o � civil, mas os profissionais de sa�de s�o militares. Em um pequeno momento que lembra a vida normal, uma aeromo�a distribui pizzas, lanches e bebidas aos passageiros.
Tamb�m ferido nas pernas, Oleksiy Radzivil, 28 anos, aproveita uma pizza margherita e um refrigerante.
Em contraste com a atmosfera sombria, o jovem nunca deixa de sorrir. Radzivil voou por v�rios metros depois que um foguete russo atingiu e destruiu o ve�culo em que ele estava, em dezembro, durante a batalha de Bakhmut (leste da Ucr�nia).
"Sorri porque estava vivo", afirma o jovem, que trabalhava como engenheiro da computa��o antes da guerra.
Desde que foi ferido, ele passou por seis hospitais em seu pa�s. "Espero que eu seja curado... que os m�dicos europeus na Holanda possam ajudar".
- "Lutar contra Putin" -
Nas capitais europeias, o transporte de feridos � considerado uma forma de contribuir ao esfor�o de guerra.
"Sua presen�a aqui na Espanha � outra forma de lutar contra Putin", afirmou a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles, ao visitar o hospital militar de Zaragoza no ano passado.
O Boeing adaptado, equipado com 20 leitos hospitalares, monitores, material para transfus�o de sangue e respiradores, al�m de muitos frascos de antibi�ticos. "� uma pequena unidade de terapia intensiva que voa", resume o tenente-coronel noruegu�s H�kon Asak.
O militar do servi�o de sa�de do ex�rcito noruegu�s exibe com orgulho um s�mbolo azul e amarelo com a frase "Ucr�nia livre".
"Nunca tivemos mortes a bordo, gra�as a Deus", afirma.
"A maioria dos pacientes parece estar bem, mas eles ainda se encontram em estado grave e sabemos que alguns que foram levados para outros pa�ses n�o sobreviveram a todo o tratamento", acrescenta.
- "Imposs�vel esquecer" -
Na cabine dos pilotos est� um veterano experiente. Em sua carreira anterior, no fim da Guerra Fria, Arve Thomassen era um piloto de ca�a que interceptava avi�es sovi�ticos no �rtico.
Aos 60 anos, o noruegu�s se declara feliz por encerrar a carreira com uma boa causa.
"Quando voc� transporta passageiros para o Mediterr�neo para que aproveitem o sol, isso � normal. Eu n�o diria chato, mas � muito comum fazer isto", afirma na cabine.
"Mas com estes voos, n�s sentimos orgulho e muita humildade", acrescenta.
Ap�s v�rias miss�es, as emo��es se acumulam e come�am a deixar recorda��es dolorosas: as v�timas com muitas queimaduras, um homem desfigurado que lembrava as imagens de soldados da I Guerra Mundial, um menino de tr�s anos que tem leucemia.
"� imposs�vel esquecer", afirma Thomassen. "Uma coisa � ter soldados feridos, mas crian�as que sofrem... isto sempre provoca uma forte impress�o nas pessoas".
Para alguns passageiros, os sonhos permitem esquecer o sofrimento durante alguns minutos. Vladyslav Shakhov, por�m, n�o dorme.
Empres�rio que virou piloto de blindados, ele sofre de tetraparesia - uma fragilidade muscular nos quatro membros - desde que foi atingido por estilha�os na nuca.
"N�o me sinto bem ao deixar meu pa�s", afirma o jovem de 24 anos. "Espero que (no hospital) na Alemanha eles me recuperem e eu consiga retornar para casa rapidamente".
SAS
A BORDO DE UM BOEING ADAPTADO COM EQUIPAMENTOS M�DICOS