A obra estreia dia 13 de maio no Teatro Holand�s de Gante, na B�lgica, que Rau dirige desde 2018 e parte dela foi filmada esta semana em Eldorado dos Caraj�s, um pequeno munic�pio do Par�, onde a diretor trabalhou por quase um m�s na recria��o do massacre ocorrido h� 27 anos.
Ao longo de sua carreira, Rau, de 46 anos, escolheu o pol�mico e o visceral na hora de contar suas hist�rias, e essa n�o foi exce��o.
A encena��o foi gravada no mesmo trecho da rodovia brasileira onde 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram mortos pela pol�cia ao bloquear a via em protesto por uma reforma agr�ria.
Os sobreviventes do massacre constam entre os atores, no lugar dos reprimidos, que, como naquele 17 de abril de 1996, tentavam se proteger dos tiros disparados pelas for�as da ordem.
H� militantes "em volta chorando, atores chorando" pelas ideias nas quais "acreditam", disse Rau � AFP, entusiasmado com a "performance" que far� parte de "Ant�gona na Amaz�nia".
"No centro" da obra "h� uma hist�ria sombria. � um momento de passar pelo trauma para relembr�-lo, mas tamb�m de seguir em frente", afirma.
Este diretor tem sido alvo de censuras e amea�as pelo estilo transgressor de seu teatro, que ele considera uma ferramenta de transforma��o da realidade.
Em Moscou, foi declarado persona 'non grata' depois de representar a repress�o contra o grupo "Pussy Riot".
No Brasil, as apresenta��es de "Five Easy Pieces" foram canceladas em 2018, na qual sete crian�as contavam a hist�ria do maior ped�filo da B�lgica.
Esse foi o gatilho para seu atual desafio no pa�s sul-americano: usar uma trag�dia grega para denunciar a destrui��o da maior floresta tropical do planeta - cujo desmatamento disparou 75% em rela��o � �ltima d�cada sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - e defender os movimentos sociais que a protegem.
"'Ant�gona' � uma luta do povo contra a ditadura, dos pequenos e diferentes, como os ind�genas e os camponeses. O MST � contra o Estado e os latifundi�rios, papel personificado por Cre�n em Ant�gona", explica o diretor, que pouco antes caminhava sob um sol escaldante pela rodovia amaz�nica, dando orienta��es para sua equipe.
Para gravar a encena��o, centenas de militantes e volunt�rios rurais bloquearam a estrada onde o transporte de min�rios e gado, entre outros, parece ser incessante.
- "�ltima fronteira" -
O bloqueio da rodovia faz parte da "a��o pol�tica", destaca o su��o, justamente em um local "onde h� caminh�es de carga indo e vindo o tempo todo" para "explorar" a floresta, que considera a "�ltima fronteira da sociedade moderna".
Agora, abrigado � sombra de uma �rvore no acampamento montado pelo MST para relembrar seus "m�rtires", ele se parece com um deles, vestindo a camiseta preta e o bon� vermelho do movimento.
Eles s�o "um exemplo de sociedade p�s-capitalista. � muito interessante, um movimento social para se aprender", opina o diretor, conhecido por sua posi��o pol�tica de esquerda.
Desde sua funda��o, no in�cio dos anos 1980, o MST luta pela conquista de terras "improdutivas" na posse do Estado ou de latifundi�rios, por meio de m�todos controversos como a invas�o de terras, e seus militantes lideram campanhas contra as monoculturas e pela conserva��o das florestas.
- "Janela de oportunidade" -
Em 2018, Rau assumiu uma posi��o na campanha eleitoral brasileira: assinou um manifesto contra o ent�o candidato de extrema direita Bolsonaro, alertando para o risco de uma "cat�strofe" para o Brasil.
Com o presidente esquerdista Luiz In�cio Lula da Silva no cargo em seu quarto m�s, o dramaturgo demonstra um otimismo moderado.
"Depois de anos dif�ceis, muitas coisas est�o mudando. O Brasil tem seu primeiro Minist�rio dos Povos Ind�genas... vai continuar complicado, mas uma janela de oportunidade se abriu", conclui.
Publicidade
ELDORADO DOS CARAJ�S
Uma trag�dia grega na Amaz�nia, a mais recente provoca��o do diretor su��o Milo Rau
Publicidade