
Na universidade historicamente de maioria negra onde ela mesma se formou em ci�ncia pol�tica e economia nos anos 1980, a primeira vice-presidente de origens africana e asi�tica do pa�s defendeu o direito ao aborto e atacou o que chamou de extremistas conservadores.
O momento tamb�m condensou as cr�ticas que recebe desde que assumiu o segundo maior cargo dos EUA.
"Uma salada bizarra de palavras" e "incapacidade de se expressar normalmente", chamaram a Fox News e outros ve�culos conservadores ao destacarem um excerto em que Kamala diz: "� muito importante, como voc�s ouviram de tantos l�deres incr�veis, para n�s, em todos os momentos e certamente neste, ver o momento no tempo em que existimos e estamos presentes e ser capaz de contextualiz�-lo, para entender onde existimos na hist�ria e no momento que se relaciona n�o apenas com o
passado, mas com o futuro."
Os baixos �ndices de aprova��o ao redor de 40%, segundo o site FiveThirtyEight, e uma gest�o considerada errante na Vice-Presid�ncia devem torn�-la alvo preferencial dos republicanos.
O governo democrata tenta vender uma imagem de uni�o da vice com o presidente. No v�deo do lan�amento da campanha democrata, h� uma s�rie de imagens de Biden com Kamala e at� algumas dela sozinha com eleitores. No site oficial, tamb�m salta aos olhos uma imagem em que ela aparece com o mesmo destaque que ele.
Mas nem sempre foi assim. O portal americano Axios classificou os dois primeiros anos de governo democrata de "desconfian�a m�tua e tiroteios an�nimos".
No livro "This Will Not Pass: Trump, Biden, and the Battle for America’s Future", os autores, rep�rteres do jornal The New York Times, relatam que Kamala e sua equipe se queixavam de que ela recebera uma miss�o imposs�vel de se lidar, a crise migrat�ria na fronteira com o M�xico.
Incumbida de ser a face p�blica do governo em assuntos de migra��o, um dos assuntos pelos quais a gest�o democrata � mais atacada, Kamala, ela pr�pria filha de migrantes, foi questionada pela pouca aten��o dada ao tema. A situa��o piorou quando deu uma entrevista considerada desastrosa � NBC, em que teve dificuldades em explicar porque ainda n�o havia visitado a fronteira —ela passou um ano evitando entrevistas exclusivas para n�o causar mais mal-estar � Casa Branca, ainda segundo o NYT.
Do outro lado, Kate Bedingfield, ent�o porta-voz da Casa Branca, come�ou a dizer que a culpa da crise de imagem era dela, que seu per�odo como senadora foi uma bagun�a e que sua campanha presidencial em 2020 foi um fiasco. A obra tamb�m relata insatisfa��o da primeira-dama, Jill Biden, com a escolha dela para a composi��o da chapa. Os dois lados negaram os epis�dios.
Se teve dificuldades com a quest�o migrat�ria, Kamala encampou bandeiras importantes do governo, a principal delas o aborto, sobretudo depois que as midterms mostraram que o tema foge da disputa entre direita e esquerda e mobiliza at� mulheres em estados mais republicanos.
Kamala tamb�m representou o governo Biden em pol�micas recentes. No come�o do m�s, viajou ao Tennessee para encontrar os dois deputados expulsos da C�mara por participarem de manifesta��es por mais rigor no controle de armas. Ela tamb�m foi ao funeral de Tyre Nichols, homem negro que morreu ap�s ser espancado por policiais de Memphis, no mesmo estado.
Kamala recebeu incumb�ncias importantes na arena global. Em fevereiro, participou da Confer�ncia de Seguran�a de Munique, na Alemanha, onde fez forte discurso condenando a R�ssia pela invas�o da Ucr�nia. Neste m�s, fez um giro pela �frica, em uma contraofensiva para conter a influ�ncia chinesa na regi�o.
Mas a atua��o pr�tica mais valiosa de Kamala no come�o do governo Biden foi dom�stica. Isso porque nos EUA o vice-presidente � tamb�m presidente do Senado e tem o poder de desempatar vota��es.
Nos primeiros dois anos da atual gest�o o Senado tinha 50 republicanos e 50 democratas, e Kamala � a segunda vice-
presidente com mais votos de desempate na hist�ria do pa�s. Em apenas dois anos ela votou 29 vezes para resolver vota��es apertadas. Mais que isso, apenas John C. Calhoun, com 31 votos quase dois s�culos atr�s, entre 1825 e 1832. Para efeitos de compara��o, o vice de Donald Trump, Mike Pence, deu 13 votos de desempate em quatro anos, e Joe Biden, quando vice de Barack Obama, zero.
A escolha do vice � importante para balancear caracter�sticas de quem ocupa a cabe�a de chapa, disse um estrategista democrata � Folha. Dick Cheney e Joe Biden emprestavam credibilidade e experi�ncia aos jovens George W. Bush e Obama, respectivamente.
J� Kamala tem a fun��o oposta: ainda que com alguma experi�ncia na gest�o p�blica, sua fun��o simb�lica � trazer frescor e diversidade � imagem do homem branco e idoso encarnada por Biden.
"Kamala tem falado sobre assuntos como aborto, inclus�o, mudan�as clim�ticas. Essas quest�es podem ser um ativo nas urnas a um ponto em que as posi��es de candidatos a vice-presidente normalmente n�o s�o", diz Joel Goldstein, professor da Universidade de Saint Louis.
Para ele, Kamala n�o decola devido � impress�o negativa deixada no come�o do governo e ao fato de ser a primeira mulher e pessoa de uma minoria racial no cargo. Contudo, se o advers�rio republicano de fato for Trump, que ter� 78 anos na elei��o, seu vice ser� t�o escrutinado quanto ela, uma vez que a idade avan�ada do ex-presidente tamb�m ser� contestada. "A elei��o vai girar muito em torno dos vices, porque ser�o eles quem poder�o assumir a Presid�ncia", afirma Goldstein.