Funeral de homem asfixiado no metr� de Nova York vira clamor por justi�a

"Ele estava pedindo ajuda aos gritos". Quase tr�s semanas depois da morte por asfixia de Jordan Neely, causada por um passageiro no metr� de Nova York, familiares e amigos se despediram dele em um funeral carregado de emo��o no Harlem, que virou um clamor por justi�a.

O pai, os av�s maternos, tias e tios, foram os �ltimos a se despedir de Neely, um homem negro de 30 anos que ganhava a vida imitando Michael Jackson nas ruas da metr�pole, na igreja batista Mount Neboh, no Harlem.

Neely morreu asfixiado pelo ex-fuzileiro naval Daniel Penny, de 24 anos, que o imobilizou com uma chave de pesco�o, pouco depois que o imitador havia entrado no metr� gritando que estava sentindo fome e sede, no dia 1� de maio.

A morte de Neely colocou em evid�ncia os problemas de sa�de mental de muitas pessoas sem-teto, al�m do medo e da inseguran�a, particularmente no metr�, e a desigualdade socioecon�mica nesta metr�pole de 8,5 milh�es de habitantes. E tamb�m o vi�s racial dos �rg�os de justi�a.

Em sua homilia, o reverendo Al Sharpton - fundador da organiza��o National Action Network, que defende os direitos civis e uma justi�a igualit�ria para todos, e arcou com as despesas do funeral e do enterro de Neely - n�o poupou cr�ticas � pol�tica social de Nova York, o templo do capitalismo.

"A parte triste, a parte m�rbida, � que Jordan esteve asfixiado durante a maior parte de sua vida", disse Sharpton.

"Jordan estava pedindo ajuda aos gritos", ressaltou, antes de recordar que "as pessoas com problemas mentais [...] s�o criminalizadas. Elas precisam de ajuda, e n�o de abusos", acrescentou o reverendo, em meios aos aplausos do p�blico que lotou a igreja.

"Sem justi�a, n�o existe paz", entoavam os presentes, entre os quais estava a congressista democrata de esquerda por Nova York, Alexandria Ocasio-Cortez. Ela foi uma das primeiras vozes a pedir a responsabiliza��o de Daniel Penny, que, depois de ser interrogado pela morte de Neely, foi inicialmente liberado sem acusa��es.

Diante do clamor de muitas organiza��es de defesa dos direitos humanos e movimentos pol�ticos de esquerda, a Justi�a nova-iorquina indiciou Penny por homic�dio culposo em segundo grau no dia 12 de maio. O ex-militar responder� em liberdade ap�s pagar uma fian�a de 100.000 d�lares (cerca de R$ 500.000).

Uma campanha lan�ada para arrecadar recursos para sua defesa somava cerca de US$ 2,6 milh�es (quase R$ 13 milh�es) nesta sexta-feira.

Na homilia, Sharpton tamb�m arremeteu contra o governador conservador da Fl�rida, Ron DeSantis, apontado como um dos pr�-candidatos do Partido Republicano para as elei��es presidenciais de 2024 e que havia classificado Penny de "bom samaritano".

"O bom samaritano ajuda a quem tem problemas, n�o os asfixia", declarou o religioso.

Neely, que perdeu a m�e quando tinha 13 anos, assassinada brutalmente, tinha um hist�rico de problemas mentais e diversas passagens pela pol�cia, a maioria delas por delitos menores.

Aos 18 anos, e ap�s anos de pr�tica, passou a imitar as dan�as de Michael Jackson como forma de ganhar a vida.

"Ele atuava diante de milhares de pessoas nas ruas de Nova York e no metr�, onde era bem conhecido e amado", diz o panfleto distribu�do aos presentes com o programa do funeral e fotografias de diferentes fases de sua vida.