O longa, que fez sua estreia em Cannes na noite de sexta-feira (19) fora da mostra competitiva, apresenta tr�s hist�rias diferentes e entrela�adas.
O filme come�a com um curto western em preto e branco, interpretado pelo ator preferido de Alonso, Viggo Mortensen, e Chiara Mastroianni, com quem o diretor integrou h� alguns anos um j�ri de Cannes.
Em uma elipse totalmente surpreendente, o espectador � levado para uma reserva do povo Oglala Lakota, um dos locais mais pobres dos Estados Unidos, na Dakota do Sul, onde uma policial local se v� sobrecarregada com a mis�ria e os problemas de sua gente.
Da�, em outro salto inesperado, a viagem segue para um territ�rio ind�gena em uma floresta do Brasil, onde seus integrantes contam seus sonhos uns aos outros ao raiar do dia e onde a amea�a vem dos garimpeiros em busca de ouro.
- Assumir riscos -
"Eu sabia que n�o seria um filme comum, [mas sim] dif�cil de diagramar e estruturar, e que n�o � um filme f�cil para o p�blico", admitiu Alonso em entrevista � AFP, ap�s a estreia.
Filmado em ingl�s, portugu�s e idiomas ind�genas, com 2h30 de dura��o, "Eureka" exige aten��o do espectador.
"Bom, para mim, essa � a ideia: fazer coisas que me exijam um pouquinho mais e tentar assumir alguns riscos e testar, ainda que seja muito mais cansativo", acrescentou.
O diretor nascido em 1975 em Buenos Aires levou nove anos para concretizar o roteiro concebido ao fim das filmagens de "Jauja", um western que chamou aten��o em Cannes, onde Alonso apresentou todos os seus longa-metragens em uma ou outra se��o.
A covid-19 complicou a carreira de Lisandro Alonso, como aconteceu com tantos outros cineastas.
As filmagens mais �rduas, explica, foram em Dakota do Sul, em pleno inverno, onde toda a equipe ficou bloqueada por uma tempestade de neve.
A comunidade lakota de Pine Ridge foi devastada por problemas de drogas e �lcool. Segundo dados oficiais, 90% de seus habitantes n�o t�m emprego fixo.
"As pessoas est�o meio � deriva, vendo o que v�o fazer no dia seguinte, mas sem muita dire��o, nem objetivos. Est�o muito abandonados", explicou o diretor argentino, que conheceu a comunidade por interm�dio de Viggo Mortensen.
No longa, destaca-se a atua��o de uma jovem sioux, Sadie LaPointe, que passeia com olhar sereno pela desola��o que a cerca, e que � um personagem-chave para a transi��o para a floresta no Brasil.
"Eureka" coincide em Cannes com outros filmes de tem�tica ind�gena, a come�ar por "Assassinos da Lua das Flores", de Martin Scorsese, sobre uma s�rie de homic�dios em uma reserva ind�gena em Oklahoma, ou "Los Colonos", do chileno Felipe G�lvez, sobre as matan�as dos povos origin�rios ap�s a independ�ncia.
"A Flor do Buriti", do portugu�s Jo�o Salaviza e da brasileira Ren�e Nader Messora, sobre a vida da tribo krah� e sua luta pela sobreviv�ncia na aldeia Pedra Branca, no Tocantins, integra a mostra Um Certo Olhar.
"Pode ser que este seja o momento de p�r o tema sobre a mesa: n�o pode mais ser jogado debaixo do tapete porque muitos est�o morrendo", afirmou Alonso.
CANNES