Para Scorsese, chegou a hora de dar a vez a outros competirem em Cannes

O cineasta americano, Martin Scorsese, que apresentou seu novo filme, "Killers of the Flower Moon", fora da mostra competitiva no Festival de Cannes, disse � AFP, neste domingo (21), que chegou a hora de "dar a vez a outros" competirem.

Aos 80 anos, o lend�rio diretor voltou a entusiasmar o festival, onde foi premiado duas vezes, agora com um drama policial protagonizado por Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.

"� o momento dos outros. Tenho que passar a vez. Tem jovens esperando", disse o diretor, sorridente.

"Gosto das estatuetas douradas. Gosto muito", acrescentou. "Mas agora penso mais que tempo, energia e inspira��o s�o o mais importante".

Segundo os organizadores da 76� edi��o do Festival de Cannes, a exibi��o deste filme de 3h30 sobre o homic�dio em s�rie de ind�genas no estado de Oklahoma foi avaliada at� o �ltimo minuto.

O filme, elogiado pela cr�tica, aborda um epis�dio doloroso da hist�ria dos Estados Unidos: os homic�dios misteriosos que se abateram sobre uma comunidade da etnia osage, em Oklahoma, cujos moradores ficaram milion�rios com a descoberta de petr�leo.

"Talvez se aprendermos a conhecer nossa hist�ria e entender onde estamos, podemos mudar as coisas e estar � altura do pa�s que se sup�e que temos", refletiu.

- No Oeste, mas longe dos cavalos -

Scorsese admitiu que tinha vontade de fazer um filme no Meio Oeste h� tempos.

"Fiquei muito entusiasmado quando vi os cavalos" explicou. "Mas obviamente n�o me aproximei deles!".

A ideia deste filme levou anos de prepara��o, explicou o cineasta, a ponto de ter considerado adiar seu filme anterior, "O Irland�s", para se concentrar em "Killers of the Flower Moon" ("Assassinos da Lua das Flores", na tradu��o ao portugu�s).

Mas "O Irland�s" exigiu um processo de "rejuvenescimento" digital do rosto de Robert De Niro, Al Pacino e outros atores.

"Bob [de Niro] me disse que ter�amos que rejuvenescer todo mundo se esper�ssemos mais dois anos", explicou, rindo.

O diretor de "Taxi Driver" e "Cassino" confessou que sonhava filmar uma cena em um bar do velho oeste, mas o longa � ambientado na �poca da "lei seca". "Imaginei grandes cenas em um saloon, mas n�o foi poss�vel", explicou.

- 'Cheio de perseveran�a' -

Os elogios ao diretor choveram de toda parte desde a estreia do filme, no s�bado � noite, e seus atores n�o ficaram para tr�s.

Scorsese est� cheio de "perseveran�a e f�ria para contar a verdade, por mais feia que seja", afirmou DiCaprio, que interpreta Ernest Burkhart, que se casa com uma ind�gena, Mollie (a atriz ind�gena Lily Gladstone), e � manipulado por seu tio, um pecuarista milion�rio, interpretado por Robert de Niro, para ficar com o dinheiro dela.

Na opini�o de Scorsese, os Estados Unidos "continuam sendo um pa�s jovem, [que] ainda sofre com as feridas da juventude. E esse filme � uma forma de reconhecer isso", assegurou.

"Eu sou de uma �poca, a Am�rica dos anos 1950, em que n�o se podia dizer muitas coisas", at� que uma nova gera��o de cineastas "enfrentou estes temas".

Scorsese fez fama mundial com seus filmes sobre a m�fia, as consequ�ncias da guerra no Vietn�, a imigra��o e os assassinatos famosos.

"Nasci em uma fam�lia de imigrantes [de origem italiana]... Encontrei minhas primeiras informa��es na rua e depois no cinema. Os filmes me levaram � m�sica e aos livros", explica.

"Vamos mostrar a hist�ria tal como ela � e vamos ver o que acontece", acrescentou, dando o recado para as pr�ximas gera��es.